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Para ministra, "racismo sutil" explica desigualdade
Matilde Ribeiro defende políticas específicas, como uso de cotas no serviço público
Ministra diz que há avanços
no combate ao racismo no
Brasil, mas que ainda existe distância entre dados,
legislação e vida real
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O "racismo sutil" do brasileiro explica a dificuldade em fazer a realidade da população
negra refletir, na prática, as políticas públicas para reduzir as
desigualdades no mercado de
trabalho, na avaliação da ministra Matilde Ribeiro (Secretaria
Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial).
Segundo ela, para avançar no
combate às desigualdades, é
preciso combinar políticas sociais, como o Bolsa Família,
com políticas específicas, como
o sistema de cotas para o ingresso nas universidades.
"Ninguém vai dizer que não
contratou alguém porque era
negro, até porque racismo é crime. A sutileza do racismo no
Brasil dificulta identificar
quem é o agente do racismo",
disse. Segundo ela, é por isso
que, mesmo quando se qualificam tanto quanto os brancos,
os negros continuam em posições e com renda piores.
De acordo com ela, a adoção
de cotas para a contratação no
serviço público e incentivos para que ocorra o mesmo no setor
privado podem ajudar a reduzir
as desigualdades, e essa discussão está na agenda do governo.
"Estamos discutindo. Incentivos para o setor privado podem sair dos estudos, e a adoção de cotas para o serviço público é uma perspectiva, mas
nessa área ainda não temos
tanta maturidade como estamos tendo na área educacional", disse. Segundo ela, há
avanços no combate ao racismo
no Brasil, mas ainda há uma
distância entre dados, legislação e vida real.
Pesquisa da OIT
Dados divulgados ontem pela
OIT (Organização Internacional do Trabalho), coletados pela Pnad, do IBGE, e a PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), do Dieese, entre 1992 e
2005, demonstram que ainda
há maior déficit de trabalho decente para os negros, e as mulheres são as mais excluídas.
Para a OIT, trabalho decente
é uma ocupação adequadamente remunerada, exercida em
condições de liberdade, eqüidade e segurança. Por outro lado,
os dados revelam melhorias para a população negra na maioria dos indicadores, como taxa
de participação e ocupação no
mercado de trabalho, formalidade e contribuição social, embora a diferença na comparação com os brancos persista.
Por exemplo, a incidência de
trabalho infantil é maior entre
crianças negras do que brancas
-atinge 2,4% das meninas
brancas e 3,4% das negras. Entre os meninos, atinge 6% dos
brancos e 8,8% dos negros.
A taxa de informalidade para
homens e mulheres negras é de
cerca de 58%, mas, para os homens brancos, é de 46,4%, e,
para as negras, de 42,7%. No
período, a maior queda, de
8,1%, foi na taxa de informalidade entre as mulheres negras.
A taxa de ocupação entre mulheres tem aumentado mais para as mulheres brancas, que
passou de 38,9% da população
feminina para 43,9%. Entre as
negras, o número de empregadas subiu de 37,9% para 40,1%.
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