São Paulo, sábado, 18 de novembro de 2006

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Para ministra, "racismo sutil" explica desigualdade

Matilde Ribeiro defende políticas específicas, como uso de cotas no serviço público

Ministra diz que há avanços no combate ao racismo no Brasil, mas que ainda existe distância entre dados, legislação e vida real

CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O "racismo sutil" do brasileiro explica a dificuldade em fazer a realidade da população negra refletir, na prática, as políticas públicas para reduzir as desigualdades no mercado de trabalho, na avaliação da ministra Matilde Ribeiro (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial).
Segundo ela, para avançar no combate às desigualdades, é preciso combinar políticas sociais, como o Bolsa Família, com políticas específicas, como o sistema de cotas para o ingresso nas universidades.
"Ninguém vai dizer que não contratou alguém porque era negro, até porque racismo é crime. A sutileza do racismo no Brasil dificulta identificar quem é o agente do racismo", disse. Segundo ela, é por isso que, mesmo quando se qualificam tanto quanto os brancos, os negros continuam em posições e com renda piores.
De acordo com ela, a adoção de cotas para a contratação no serviço público e incentivos para que ocorra o mesmo no setor privado podem ajudar a reduzir as desigualdades, e essa discussão está na agenda do governo.
"Estamos discutindo. Incentivos para o setor privado podem sair dos estudos, e a adoção de cotas para o serviço público é uma perspectiva, mas nessa área ainda não temos tanta maturidade como estamos tendo na área educacional", disse. Segundo ela, há avanços no combate ao racismo no Brasil, mas ainda há uma distância entre dados, legislação e vida real.

Pesquisa da OIT
Dados divulgados ontem pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), coletados pela Pnad, do IBGE, e a PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), do Dieese, entre 1992 e 2005, demonstram que ainda há maior déficit de trabalho decente para os negros, e as mulheres são as mais excluídas.
Para a OIT, trabalho decente é uma ocupação adequadamente remunerada, exercida em condições de liberdade, eqüidade e segurança. Por outro lado, os dados revelam melhorias para a população negra na maioria dos indicadores, como taxa de participação e ocupação no mercado de trabalho, formalidade e contribuição social, embora a diferença na comparação com os brancos persista.
Por exemplo, a incidência de trabalho infantil é maior entre crianças negras do que brancas -atinge 2,4% das meninas brancas e 3,4% das negras. Entre os meninos, atinge 6% dos brancos e 8,8% dos negros.
A taxa de informalidade para homens e mulheres negras é de cerca de 58%, mas, para os homens brancos, é de 46,4%, e, para as negras, de 42,7%. No período, a maior queda, de 8,1%, foi na taxa de informalidade entre as mulheres negras.
A taxa de ocupação entre mulheres tem aumentado mais para as mulheres brancas, que passou de 38,9% da população feminina para 43,9%. Entre as negras, o número de empregadas subiu de 37,9% para 40,1%.


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