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Procuradoria recua em ações contra banco por discriminação
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os bancos estão mostrando
boa vontade e, havendo possibilidade de solução negociada,
não serão ajuizadas ações por
discriminação contra eles nos
Estados. A análise é do vice-procurador geral do Trabalho
Otavio Brito Lopes, que, em setembro do ano passado, apresentou na Justiça ação civil pública contra os cinco maiores
bancos do Distrito Federal,
acusados de discriminação racial. "Vamos acompanhar o andamento das ações afirmativas
que os bancos estão adotando."
Os números em que Brito Lopes se baseou -estatísticas da
população brasileira e informações dos bancos- não foram
considerados provas de discriminação, e a ação foi julgada
improcedente. Em Brasília, esses bancos tinham, no ano passado, 1.858 trabalhadores, dos
quais 18,7% eram negros.
A expectativa das entidades
que provocaram o tema na Procuradoria do Trabalho, contudo, era a de que as 24 procuradorias regionais entrariam individualmente com as ações
contra os principais bancos privados de suas regiões.
"Isso daria mais força às
ações, já que os julgamentos
não ficariam concentrados em
alguns juízes", diz o advogado
Humberto Adami, presidente
da Iara (Instituto de Advocacia
Racial e Ambiental) e diretor da
FNADV (Federação Nacional
dos Advogados). Ele foi o autor
da representação que levou o
MPT a abrir inquérito e, finalmente, a ação contra os bancos
em Brasília. "Eles teriam de estar ajuizando as ações nos Estados. Não se justifica essa paralisação da Procuradoria do Trabalho", afirma.
Ontem, Adami protocolou,
na OIT (Organização Internacional do Trabalho), um pedido
para que a entidade internacional "acompanhe a suspensão
das ações ajuizadas." Para ele, o
fato de que os bancos estão
criando ações afirmativas não é
suficiente. "A mobilização poderia ter sido feita na fase de inquérito. A Procuradoria tinha
metas, mas não conseguiu impô-las aos bancos. Sou o primeiro a aplaudir as ações afirmativas, mas o que os bancos
estão fazendo é pouco. Apenas
recrutam alguns estagiários. E
apenas em São Paulo."
Para Mário Sergio Vasconcelos, diretor de relações institucionais da Febraban, "pendengas judiciais" favorecem pouco
os negros. "Discriminação nos
tribunais não resolve questão
de inclusão de negros no mercado", diz, ressaltando que a
entidade vem realizando reuniões com a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos
Deputados. Dos encontros,
saiu a proposta de realização de
um censo da diversidade nos
bancos, que incluirá os temas
raça, gênero e deficiência física.
O estudo, afirma, deverá ser
realizado na primeira metade
do ano que vem. "Além disso,
estamos firmando parcerias e
estabelecendo um programa de
ação conjunta. Vamos partir
para uma coisa mais forte [que
o recrutamento de estagiários
negros], de maior profundidade", disse, sem detalhar o tipo
de iniciativa que cogita.
(JG)
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