São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 2008

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ANÁLISE

Politizar dívida é perigoso

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

A crise mundial deixa de ser apenas um problema financeiro e chega de forma real ao campo. Antes punidos pelos custos, mas ainda com boas perspectivas de preço, os produtores viram os valores das commodities escaparem pelo ralo nos últimos meses, com o avanço dos problemas financeiros mundiais.
A crise financeira criou incertezas, trouxe recessão nas principais economias e apontou para queda na demanda por commodities. Os preços caíram. Um exemplo típico é o da soja, um dos principais produtos brasileiros, cujo preço caiu de US$ 16,60 por bushel (27,4 quilos) em julho para os atuais US$ 9,10.
Essa crise, no entanto, tem contornos diferentes dos das anteriores, quando o bolso furado era quase sempre o dos produtores. Desta vez, são os principais fornecedores de crédito -os bancos-, de insumos e de implementos agrícolas -as multinacionais- que estão sendo cobrados diariamente pelas matrizes, que querem saber qual é o tamanho do buraco.
Com isso, as relações no campo devem ser bem mais tempestuosas do que já foram. Já começaram com uma seleção muito grande no fornecimento de crédito nos últimos meses e se acentuam, agora, com alguns bancos que forneceram crédito indo a campo para tomar bens financiados e com pagamentos atrasados.
A apreensão de máquinas pelos bancos ainda não é de grande extensão no universo de produtores, mas é grave. Os casos devem ser analisados com cuidado, e deve ser retirado todo o conteúdo político que sempre há nessas ocorrências.
Os produtores têm a lei nº 11.775, que instituiu linhas de estímulo à liquidação ou à reprogramação de operações de crédito rural. E ela deve ser respeitada. Mas, assim como o crédito apertou para os produtores, o mesmo ocorreu com os bancos, que não têm mais linhas fáceis de crédito. As linhas ficaram restritas e caras.
As instituições financeiras, que pegaram o crédito na linha de financiamento do Moderfrota/Finame, têm de saldar as dívidas com o BNDES, e este depende de dinheiro do Tesouro Nacional.
Se essa corrente de pagamento -produtor-banco-BNDES- não for cumprida, poderá sobrar mais uma vez para o contribuinte, que não tem nenhuma responsabilidade por essa conta. Portanto, se mais uma vez o governo tiver de entrar nessa pendência, como quer o setor agrícola, deverá ser para solucionar os problemas de eventuais produtores em dificuldades, mas não os de tradicionais maus pagadores, que todo ano pedem socorro.


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