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ANÁLISE
Politizar dívida é perigoso
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
A crise mundial deixa de ser
apenas um problema financeiro e chega de forma real ao
campo. Antes punidos pelos
custos, mas ainda com boas
perspectivas de preço, os produtores viram os valores das
commodities escaparem pelo
ralo nos últimos meses, com o
avanço dos problemas financeiros mundiais.
A crise financeira criou incertezas, trouxe recessão nas
principais economias e apontou para queda na demanda por
commodities. Os preços caíram. Um exemplo típico é o da
soja, um dos principais produtos brasileiros, cujo preço caiu
de US$ 16,60 por bushel (27,4
quilos) em julho para os atuais
US$ 9,10.
Essa crise, no entanto, tem
contornos diferentes dos das
anteriores, quando o bolso furado era quase sempre o dos
produtores. Desta vez, são os
principais fornecedores de crédito -os bancos-, de insumos
e de implementos agrícolas
-as multinacionais- que estão
sendo cobrados diariamente
pelas matrizes, que querem saber qual é o tamanho do buraco.
Com isso, as relações no campo devem ser bem mais tempestuosas do que já foram. Já
começaram com uma seleção
muito grande no fornecimento
de crédito nos últimos meses e
se acentuam, agora, com alguns
bancos que forneceram crédito
indo a campo para tomar bens
financiados e com pagamentos
atrasados.
A apreensão de máquinas pelos bancos ainda não é de grande extensão no universo de
produtores, mas é grave. Os casos devem ser analisados com
cuidado, e deve ser retirado todo o conteúdo político que
sempre há nessas ocorrências.
Os produtores têm a lei nº
11.775, que instituiu linhas de
estímulo à liquidação ou à reprogramação de operações de
crédito rural. E ela deve ser respeitada. Mas, assim como o crédito apertou para os produtores, o mesmo ocorreu com os
bancos, que não têm mais linhas fáceis de crédito. As linhas
ficaram restritas e caras.
As instituições financeiras,
que pegaram o crédito na linha
de financiamento do Moderfrota/Finame, têm de saldar as
dívidas com o BNDES, e este
depende de dinheiro do Tesouro Nacional.
Se essa corrente de pagamento -produtor-banco-BNDES- não for cumprida,
poderá sobrar mais uma vez para o contribuinte, que não tem
nenhuma responsabilidade por
essa conta. Portanto, se mais
uma vez o governo tiver de entrar nessa pendência, como
quer o setor agrícola, deverá ser
para solucionar os problemas
de eventuais produtores em dificuldades, mas não os de tradicionais maus pagadores, que
todo ano pedem socorro.
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