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Dilma defende modelo de biocombustível
Em conferência esvaziada, ministra da Casa Civil afirma que Brasil pode se transformar em plataforma tecnológica
Lula falta a encontro que sugeriu organizar; Barack Obama, presidente eleito dos Estados Unidos, não envia representante
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, abriu ontem a Conferência Internacional de Biocombustíveis, em São
Paulo, empenhada em mostrar
às 92 delegações participantes
do encontro as vantagens da
produção de álcool a partir da
cana-de-açúcar. O governador
de São Paulo, José Serra, esteve
na abertura. Dilma, que substituiu o presidente Lula na abertura do encontro que ele mesmo convocou em 2007, rebateu
os pontos contrários à produção de biocombustível e insistiu para os mais de 3.000 participantes nacionais e estrangeiros que o álcool brasileiro é diferente de outras experiências,
como a que usa o milho ou o trigo como matéria-prima.
A conferência começa esvaziada pela ausência do próprio
presidente Lula, mas principalmente pela pouca ambição do
encontro em buscar entendimentos para uma agenda objetiva que conduza à melhoria do
comércio internacional de biocombustíveis. Nenhum representante do presidente eleito
dos EUA, Barack Obama, virá
ao encontro. Obama assume o
governo em 20 de janeiro e já
demonstrou pouca propensão
a baixar a guarda das barreiras
tarifárias que bloqueiam o ingresso do álcool brasileiro no
mercado norte-americano.
Com o secretário de Agricultura do atual governo dos EUA,
Ed Schaffer, o chanceler Celso
Amorim deve apenas assinar
um adendo ao memorando entre os dois países para expandir
de quatro para nove a cooperação com terceiros países. Nenhum documento deverá ser tirado até sexta-feira.
Citando dados que descrevem o Brasil como o país com
matriz energética mais renovável do mundo, Dilma disse que
47,5% das necessidades de
energia no país são obtidas de
fontes renováveis. Número
muito superior, salientou, à
média mundial, de 12,9%, ou de
6,7%, entre os países da OCDE.
A ministra afirmou que a cana é
a segunda fonte de energia na
matriz de transportes. Disse
que o Brasil acaba de alcançar a
marca de 7 milhões de veículos
bicombustíveis produzidos.
O governo quer, na conferência internacional, sedimentar a
idéia de que o álcool deve ser
adotado pelo mundo como alternativa energética para o
transporte. Nessa situação, o
Brasil será fornecedor natural.
Transição
"O mundo precisa passar por
uma transição da economia do
carbono para a economia do
pós-carbono, talvez para a economia do hidrogênio. Mas, neste momento, é fundamental
que cresça a importância dos
biocombustíveis na matriz
energética de transportes", disse Dilma. A ministra criticou a
forma pela qual o assunto tem
sido abordado no mundo, principalmente em relação à visão
internacional de que os biocombustíveis (incluindo o álcool combustível de cana) representa uma séria ameaça à
segurança alimentar.
A "visão brasileira", disse a
ministra, demonstra que o uso
do álcool de cana como alternativa ao petróleo oferece "segurança energética e sustentabilidade ambiental". Dilma afirmou que o Brasil se consolidou
como um modelo alternativo
ao mundo ao mostrar que a expansão da produção de biocombustível não concorre com
a produção de alimentos. Afirmou que, na década de 70, a indústria sucroalcooleira produzia 3.200 litros de álcool por
hectare. Hoje, a produção duplicou, alcança a marca de
6.600 litros por hectare e pode
crescer mais.
O avanço na produção de álcool não comprometeu, disse, a
produção de grãos, cuja expansão foi de 142% no período. Hoje, a cobertura de cana na área
agricultável do país atinge 4,2
milhões de hectares, ou 0,5%
do território agrícola nacional.
Dilma anunciou que as novas
expansões da produção de cana
para o abastecimento do mercado brasileiro não vão avançar
em biomas sensíveis, como a
Amazônia, o Pantanal e áreas
de floresta tropical. Prometido
para julho, o macrozoneamento agroambiental, que restringirá via corte de financiamento
público o avanço da cultura
nessas áreas, deve passar por
discussões estaduais, fase que o
governo pretende iniciar agora.
Dilma afirmou que a conferência ajudará a eliminar teses
que "carecem de embasamento
científico". O Brasil tem interesse em transformar a tecnologia de agricultura tropical e
de produção de cana num produto exportável.
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