São Paulo, Sábado, 18 de Dezembro de 1999


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INSOLVÊNCIA
Documento requisitado pelo Ministério Público mostra que o prejuízo é calculado em R$ 407,6 mi
Banco de Mansur teve fraude, conclui BC

FELIPE PATURY
da Reportagem Local

O Banco Crefisul, liquidado em março, deixou na praça um prejuízo de R$ 407,6 milhões e um rastro de operações criminosas identificadas pelo Banco Central. Os técnicos do BC encarregados de investigar a quebra da instituição concluíram que há crimes de gestão fraudulenta, temerária e de empréstimo ao controlador nas operações feitas no banco do empresário Ricardo Mansur.
O documento, requisitado ontem pelo Ministério Público paulista, descreve o ciclo de operações que descapitalizaram o banco feitas por Mansur e pelos administradores da instituição.
A análise feita pelo BC no Crefisul mostra que, com Mansur, o banco passou por um processo de injeção de dinheiro em 1996, seguido da distribuição de grandes lucros a donos e, em seguida, pela exportação de seus resultados para outras empresas do grupo.
É nessa última fase que os técnicos do governo detectam as irregularidades administrativas e indícios de crimes listados no relatório. As operações geraram uma dezena de processos administrativos em curso no BC, além de infrações à Lei do Sistema Financeiro Nacional e a dois artigos da Lei do Colarinho Branco.
As punições administrativas podem banir Mansur e os ex-administradores do Crefisul do sistema financeiro. Na área penal, podem impor até 30 anos de reclusão. O processo que será instaurado pelo Ministério Público pode levar Mansur e seus gerentes a responderem com o próprio patrimônio pelo calote que deixaram no mercado.
"Não houve má-fé nas operações ou qualquer coisa escondida que não fosse de conhecimento das autoridades", justifica Nelson Felmanas, advogado de Mansur na liquidação do banco.
A descapitalização do banco começou no primeiro semestre de 1997. Nessa época, as operações de crédito do banco chegavam a 50,6% dos ativos da instituição. Em março, estavam em 31,6%.
O documento relata como, ao longo dos últimos quatro anos, o dinheiro foi transferido aos poucos para outras empresas de Mansur. Só as aplicações em ações, em sua maioria da Mesbla e do Mappin, cresceram de R$ 46 milhões para R$ 186 milhões (400%).
Há três tipos diferentes de irregularidades. Na primeira série descrita pelo BC, estão as operações que inflaram os balanços do Crefisul pelo mecanismo de equivalência patrimonial. O mecanismo permitiu que operações contábeis fossem registradas como grandes lucros, que chegaram a R$ 106,5 milhões.
Muitas dessas operações foram feitas com a United Europe, empresa de Mansur no paraíso fiscal da Ilha da Madeira. Um exemplo é um empréstimo de R$ 2,9 milhões feito pelo Crefisul à United Europe.
O dinheiro e a responsabilidade do empréstimo pela United Europe foram repassados pela United Europe para uma terceira empresa, sediada na Ilha de Man, outro paraíso fiscal. O empréstimo não foi pago, mas a operação foi considerada sadia por Mansur.
No segundo tipo de operações, estão vendas de créditos por valores muito acima dos contabilizados pelo Crefisul. É o caso de uma operação de crédito vendida por R$ 7 milhões pelo Crefisul à Conlee Securitizadora de Créditos Financeiros que rendeu ao banco um lucro de R$ 3,9 milhões de reais. O empréstimo não foi pago.
Num outro tipo de operação similar, o Crefisul vende bens por valores muito maiores do que estavam contabilizados. Um imóvel contabilizado por R$ 1,4 milhão, por exemplo, foi vendido à Affluents Assets Inc. por US$ 8,1 milhões. A empresa, sediada no exterior, pagou R$ 972 mil até março. Suspendeu os pagamentos desde a liquidação do Crefisul.


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