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INSOLVÊNCIA
Documento requisitado pelo Ministério Público mostra que o prejuízo é calculado em R$ 407,6 mi
Banco de Mansur teve fraude, conclui BC
FELIPE PATURY
da Reportagem Local
O Banco Crefisul, liquidado em
março, deixou na praça um prejuízo de R$ 407,6 milhões e um
rastro de operações criminosas
identificadas pelo Banco Central.
Os técnicos do BC encarregados
de investigar a quebra da instituição concluíram que há crimes de
gestão fraudulenta, temerária e de
empréstimo ao controlador nas
operações feitas no banco do empresário Ricardo Mansur.
O documento, requisitado ontem pelo Ministério Público paulista, descreve o ciclo de operações que descapitalizaram o banco feitas por Mansur e pelos administradores da instituição.
A análise feita pelo BC no Crefisul mostra que, com Mansur, o
banco passou por um processo de
injeção de dinheiro em 1996, seguido da distribuição de grandes
lucros a donos e, em seguida, pela
exportação de seus resultados para outras empresas do grupo.
É nessa última fase que os técnicos do governo detectam as irregularidades administrativas e indícios de crimes listados no relatório. As operações geraram uma
dezena de processos administrativos em curso no BC, além de infrações à Lei do Sistema Financeiro Nacional e a dois artigos da Lei
do Colarinho Branco.
As punições administrativas
podem banir Mansur e os ex-administradores do Crefisul do sistema financeiro. Na área penal,
podem impor até 30 anos de reclusão. O processo que será instaurado pelo Ministério Público
pode levar Mansur e seus gerentes
a responderem com o próprio patrimônio pelo calote que deixaram no mercado.
"Não houve má-fé nas operações ou qualquer coisa escondida
que não fosse de conhecimento
das autoridades", justifica Nelson
Felmanas, advogado de Mansur
na liquidação do banco.
A descapitalização do banco começou no primeiro semestre de
1997. Nessa época, as operações
de crédito do banco chegavam a
50,6% dos ativos da instituição.
Em março, estavam em 31,6%.
O documento relata como, ao
longo dos últimos quatro anos, o
dinheiro foi transferido aos poucos para outras empresas de Mansur. Só as aplicações em ações, em
sua maioria da Mesbla e do Mappin, cresceram de R$ 46 milhões
para R$ 186 milhões (400%).
Há três tipos diferentes de irregularidades. Na primeira série
descrita pelo BC, estão as operações que inflaram os balanços do
Crefisul pelo mecanismo de equivalência patrimonial. O mecanismo permitiu que operações contábeis fossem registradas como
grandes lucros, que chegaram a
R$ 106,5 milhões.
Muitas dessas operações foram
feitas com a United Europe, empresa de Mansur no paraíso fiscal
da Ilha da Madeira. Um exemplo
é um empréstimo de R$ 2,9 milhões feito pelo Crefisul à United
Europe.
O dinheiro e a responsabilidade
do empréstimo pela United Europe foram repassados pela United
Europe para uma terceira empresa, sediada na Ilha de Man, outro
paraíso fiscal. O empréstimo não
foi pago, mas a operação foi considerada sadia por Mansur.
No segundo tipo de operações,
estão vendas de créditos por valores muito acima dos contabilizados pelo Crefisul. É o caso de uma
operação de crédito vendida por
R$ 7 milhões pelo Crefisul à Conlee Securitizadora de Créditos
Financeiros que rendeu ao banco
um lucro de R$ 3,9 milhões de
reais. O empréstimo não foi pago.
Num outro tipo de operação similar, o Crefisul vende bens por
valores muito maiores do que estavam contabilizados. Um imóvel
contabilizado por R$ 1,4 milhão,
por exemplo, foi vendido à Affluents Assets Inc. por US$ 8,1 milhões. A empresa, sediada no exterior, pagou R$ 972 mil até março. Suspendeu os pagamentos
desde a liquidação do Crefisul.
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