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OPINIÃO ECONÔMICA
Ovo de Colombo
CARLOS FLORY
Mais que pertinente, foi um
brilhante achado a proposta do físico Luiz Pinguelli Rosa,
coordenador de energia do programa do futuro governo, que sugeriu a parceria dos fundos de
pensão no financiamento de projetos de energia. Trata-se de um
negócio que interessa ao país e
também interessa aos fundos de
pensão, pela simples razão de que
é bom para ambos.
Projetos de infra-estrutura,
principalmente na área de energia, são um investimento de múltiplo bom retorno: têm risco baixo, dão excelente remuneração,
criam muitos empregos, ajudam
o país a se desenvolver, catapultam a produção de empresas brasileiras e, para fechar com chave
de ouro o círculo virtuoso, geram
clientela nova para os fundos de
pensão.
Mas o dr. Pinguelli foi modesto
ao sugerir que os fundos de pensão compartilhem com empresas
nacionais os R$ 5 bilhões de financiamento que o futuro governo espera captar internamente
para a área. Os fundos de pensão
podem investir bem mais do que
isso a longo prazo, se forem remunerados por taxas que sejam palatáveis para o governo e suficientes para bater as metas atuariais.
A Petros, que há três anos resolveu transferir recursos de aplicações convencionais para projetos
de infra-estrutura, já tem R$ 1 bilhão investido em energia. Se nosso patrimônio corresponde a 10%
dos ativos totais do setor, é razoável presumir que, em tese, só os
fundos de pensão -desde que
convenientemente estimulados-
podem carrear algo em torno de
R$ 10 bilhões para esse tipo de investimento.
No caso da Petros, foi uma opção feliz que a próxima gestão
certamente não descartará. No
acumulado até outubro, esses investimentos renderam 25,16%, o
dobro da nossa meta atuarial e o
triplo da rentabilidade dos imóveis (7,56%), tradicional nicho
dos fundos de pensão.
Enquanto isso, a rentabilidade
de nossos títulos públicos ficou em
torno de 20%. Cabe a pergunta: se
o governo pode pagar 20% para
girar seus empréstimos, por que
não inverter o eixo e carimbar o
dinheiro, pagando taxas semelhantes para direcionar objetivamente as aplicações e influir no
desenvolvimento do país, no aumento da produção e na multiplicação dos empregos? Com tal remuneração e garantia de liquidez, o investimento estará assegurado.
Desde o início de nossa gestão,
em 1999, temos alertado: com a
queda progressiva das taxas de
juros, a remuneração da renda fixa se aproxima perigosamente
das metas atuariais e ameaça os
fundos de pensão. Mais dia menos dia a renda fixa deixará de
ser uma aplicação tradicional (e
preguiçosa) dos fundos de pensão,
que terão de descobrir fontes alternativas seguras e mais rentáveis.
E não é só: os fundos de pensão
se alicerçam em conceitos e cumprem compromissos eminentemente sociais. Precisam de rentabilidade com segurança para garantir o pagamento das aposentadorias de seus participantes,
mas têm também de pensar em
ampliar os seus quadros, criando
empregos que serão ocupados por
seus futuros participantes. Esse
círculo virtuoso é altamente desejável.
Nossos investimentos em infra-estrutura nos têm dado respostas
animadoras. A Petrobras tornou-se a maior exportadora do país,
superando a Embraer e a Vale do
Rio Doce; em março e junho, pela
primeira vez suas exportações superaram as importações. E o principal fator para esses eventos auspiciosos foi a produção de Marlim, de Albacora e de Nova Marlim, campos em que a Petros investiu.
Em plena crise energética, ajudamos a financiar quatro termelétricas (Termo Bahia, Ibirité,
Termo Canoas e Piratininga) e
nos tornamos parceiros da fábrica de propelente aerossol, substituto do maligno CFC. Ao todo, já
investimos R$ 1 bilhão e favorecemos a geração de mais de 100 mil
empregos (11,7 mil diretos e 90 mil
indiretos), com garantia de rentabilidade mínima e segurança máxima.
Se interessa ao governo, se interessa ao país, se interessa ao povo,
se interessa ao trabalhador e se
interessa ao dono do dinheiro, é o
caso de perguntar: por que não se
faz isso em larga escala? Claro, há
experiências passadas que não incentivam os fundos de pensão a
aplicar em programas governamentais de investimento. O primeiro e fundamental passo, então, deve ser definir uma modelagem saudável e segura para esse
tipo de investimento.
É possível estabelecer um patamar de rentabilidade que não seja pesado para as empresas estatais ou privadas pagarem e que
seja adequado para os fundos de
pensão, além da garantia de retorno futuro, assegurados pelo governo. Com isso, haverá recursos
de longo prazo para alentar setores como energia, telecomunicações e transportes. Diria ao dr.
Pinguelli: vá em frente, que esse
ovo fica em pé.
Carlos Flory é economista e presidente
da Petros (fundo de pensão dos empregados da Petrobras).
Hoje, excepcionalmente, não é publicado o artigo de Antonio Barros de Castro.
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