|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
O meu "Thesouro da Juventude"
M udam os tempos, e hoje
em dia se sabe, em tempo
real, as transformações que ocorrem no mundo. Nos anos 20, o
mundo também atravessava um
processo de transformações profundas. O sistema educacional
nem de longe tinha condições de
acompanhar o que ocorria.
É nesse quadro que o "Tesouro
da Juventude" cumpriu papel essencial na formação de gerações e
gerações de brasileiros, dos anos
20 aos anos 70, não apenas trazendo novidades tecnológicas como descobertas científicas, novos
hábitos, novos conceitos.
Aprendi a ler no "Thesouro da
Juventude", assim mesmo, com
"th", da W. M. Jackson Editores,
edição de 1925, com prefácio de
Clóvis Bevilacqua. Era de meu
avô Issa. Contava os minutos para chegar à farmácia do meu pai,
subir as escadas externas que davam no andar de cima, onde morava vovô. Corria para a estante,
tirava um volume, abria no chão
forrado por um cobertor e ficava
de bruços devorando as páginas e
as ilustrações a bico de pena.
Na "Introducção", Clóvis Bevilacqua indicava a obra para "meninos, adolescentes e homens do
povo que teem sede de saber". Os
editores definiam-no como uma
enciclopédia popular, "um livro
acerca de tudo para todos e especialmente para os jovens".
Eram 18 volumes, todos contendo uma seqüência de temas. A
primeira gravura do primeiro tomo era uma pintura do Sistema
Solar, com astros de todos os tamanhos e trens se lançando ao espaço para alcançá-los. De cara,
éramos apresentados à nossa insignificância, passeando por todas as lições de "O Livro da Terra". Em seguida, entrava-se em
"O Livro da Natureza", que tratava especificamente da vida nos
animais e das plantas. Uma página colorida, finamente ilustrada,
mostrava "os seres mais interessantes da Terra", dos conhecidos,
águia, gaivota, gavião, leopardo,
aos menos votados, sariguéa, píton, maçarico e buccinum.
Depois, pelo "Livro de Nossa Vida", destinado a desvendar a maravilha da humanidade. Havia
"O Livro do Novo Mundo", que
tratava desde os homens primitivos até a construção da América,
e "O Livro do Velho Mundo", falando das antigas civilizações,
com amplo relato sobre a China,
sobre o seu isolamento que tirou-lhe a noção de progresso e de como, pouco a pouco, voltava a se
abrir para o mundo.
Grandes invenções
Em um período de grandes inovações, as invenções eram tratadas no capítulo "Cousas que Devemos Saber" e as curiosidades
em "O Livro dos Porquês".
Meu tema predileto eram os
"Homens e Mulheres Célebres,
Nobres Vidas, Nobres Feitos".
Marco Polo inaugurava o primeiro tomo da coleção. Depois, abordavam-se a criação da famosa
Escola de Sagres em Portugal e os
navegadores portugueses.
Menos épico, mais infantil, era
"O Livro dos Contos", estreando
com "Sindbad o Marinheiro", e
um bico de pena magnífico mostrando "A Ave Gigantesca e o Homem do Mar".
Uma parte que não me interessava muito, dada a minha invencível falta de habilidade para trabalhos manuais, era o "Cousas
que Podemos Fazer", que ensinava desde como fazer uma caixa de
madeira até a cortar o cordel mágico.
E aí se entrava em outro dos
meus temas prediletos, "O Livro
das Bellas Acções, Heroes e Heroínas do Mundo". A primeira história era "Irmãs pelo Sangue e pelo
Heroísmo", narrando um capítulo familiar da resistência portuguesa contra a invasão espanhola
no século 17. Depois, "O Sacrifício
do Padre Damien", um belga que
partiu para as Ilhas dos Mares do
Sul para cuidar de leprosos.
Voltava-se para a literatura,
com "O Livro da Poesia, o Bello
Mundo dos Poetas", com "O Gigante Adamastor", trecho dos
"Lusíadas". Depois, a "Canção do
Exílio", de Gonçalves Dias, uma
das paixões da minha infância. E
"Manhã em Petrópolis", de um
certo José Maria Amaral, que, "se
não é dos maiores poetas brasileiros, ocupa um lugar muito honroso na nossa história literária".
Acho que houve alguma proteção
em sua inclusão.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: "Falta cuidado com setor produtivo", diz Fiesp Próximo Texto: Indústria: Fábricas já trazem itens até de avião para o Natal Índice
|