São Paulo, segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Atrito com Mantega pode custar a Appy cargo na Fazenda

Secretário-executivo da pasta divergiu de ministro e do próprio presidente Lula ao propor reforma mais ampla da Previdência

O secretário-adjunto de Política Econômica, Nelson Barbosa, e o presidente do BNDES, Demian Fiocca, são cotados para a função

Alan Marques - 14.nov.06/Folha Imagem
O ministro Guido Mantega


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As discussões sobre como destravar o crescimento a partir de 2007 e manter o equilíbrio fiscal expuseram um racha na equipe econômica, que deverá custar a Bernard Appy o cargo de secretário-executivo do Ministério da Fazenda.
Sua saída é dada como certa nos bastidores do ministério por causa das divergências de idéias com o ministro Guido Mantega. O ministro até já teria nomes para substituí-lo.
O primeiro a ser cotado foi Nelson Barbosa, que é atualmente secretário-adjunto de Política Econômica e tem participado diretamente das discussões de medidas a serem implementadas para fazer o país crescer.
Nos últimos dias, porém, Demian Fiocca, presidente do BNDES, também começou a ser cotado para o cargo. Amigo de Mantega, Fiocca trabalhou com ele no Planejamento e no próprio BNDES.
O nome dele surgiu porque, na montagem da equipe de governo do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, há uma possibilidade de Fiocca ser deslocado das suas funções atuais para atender um pedido do ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento). Furlan quer indicar o presidente do BNDES, instituição vinculada à sua pasta.
O principal ponto de atrito de Appy com Mantega é sobre o ajuste fiscal de longo prazo. As divergências ficaram claras logo nas primeiras reuniões com Lula, depois da confirmação da vitória das eleições.

Idéias opostas
Appy defendia uma reforma mais ampla da Previdência como forma de reafirmar o compromisso do governo com a austeridade fiscal e, com isso, abrir espaço para a queda mais forte dos juros, criando um círculo virtuoso na economia.
Mantega, assim como o próprio presidente Lula, era contrário a uma nova reforma que mudasse as regras de aposentadorias e pensões. O ministro acredita que é possível frear o crescimento do déficit previdenciário com ações administrativas, deixando a reforma para mais adiante.
No entanto, Appy, que durante a crise envolvendo o ex-ministro Antonio Palocci no início do ano ganhou espaço no Planalto, ainda tentou convencer as pessoas próximas ao presidente -e a ele também- da necessidade de fazer algo mais ousado na Previdência.
Enquanto isso, Mantega e o ministro Nelson Machado (Previdência) pregavam um choque de gestão. Em uma reunião, Lula nem quis ouvir falar sobre o assunto de reforma da Previdência, que foi introduzido por Appy. Mantega fez questão de comentar depois, com pessoas próximas, que não foi ele quem colocou a questão.
Appy, que na gestão de Palocci tinha saído da Secretaria Executiva para a de Política Econômica, foi convidado pelo próprio Mantega a ficar no ministério, na sua antiga função. Como nos últimos meses de Palocci no cargo ele praticamente tocou o ministério com o ex-secretário-executivo Murilo Portugal, Appy conquistou a simpatia de Lula.
Na equipe de Palocci, Appy, que é ligado ao PT, era considerado um dos técnicos com idéias mais desenvolvimentistas. Hoje, é o que mais tem lutado por medidas de contenção dos gastos do governo. Além da reforma da Previdência, ele defende menores reajustes para os servidores e para o mínimo.
(SHEILA D'AMORIM)

Texto Anterior: Investidores se atentam à inflação nos EUA e no Brasil
Próximo Texto: Aviação: Air Madrid, em crise, deixa 127 mil sem vôo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.