São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

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Mercado Aberto

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

Sucesso de pacotes não é garantido, diz Delfim

Apesar de todos os pacotes que vêm sendo anunciados pelo governo para injetar liquidez no mercado e evitar a recessão, não há nenhuma garantia de que as medidas serão bem-sucedidas ou não. O grande problema é que o mundo vive hoje uma crise de confiança e não será do dia para a noite que ela será restabelecida.
A análise é do ex-ministro Delfim Netto, ao comentar os sucessivos pacotes que vêm sendo anunciados pelo governo toda semana. Ele até acha que todas essas medidas são necessárias para tirar o país do sufoco, mas podem não ser suficientes para o restabelecimento da confiança.
"O governo pode dar crédito para as pessoas, mas como elas vão consumir se correm o risco de perder o emprego, o governo pode fornecer liquidez para os bancos, mas como eles vão voltar a emprestar se eles não sabem quem está com problemas, e como as empresas vão investir sem crédito e com ameaça de desaceleração da economia?", pergunta Delfim.
"Você pode levar o burro até a fonte, mas não pode obrigá-lo a beber água."
A melhor saída do governo, na opinião de Delfim, é apostar no único instrumento que depende apenas dele, que é o investimento. O governo tem o controle sobre o investimento e essa deve ser sua prioridade.
Mesmo se cair a receita tributária, como se espera, o governo pode manter o investimento. Se for preciso, Delfim diz que o governo pode cortar despesas de custeio para reforçar o investimento público.
A decisão de aumentar os investimentos, de acordo com Delfim, tem efeito positivo não só para movimentar a economia, como também para mobilizar o setor privado nessa mesma direção.
"Se o governo der ênfase ao investimento vai mostrar para o setor privado que a noite não será tão escura", diz Delfim. "O impacto psicológico seria muito importante."
Outra medida que teria um efeito psicológico significativo, segundo Delfim, seria a queda dos juros. O ex-ministro acha que o Banco Central já deveria ter baixado a taxa de juros na última reunião do Copom, mesmo que tivesse sido um corte de 0,25 ponto percentual.
Seria, a seu ver, um sinal psicológico importante para as pessoas. Para Delfim, o BC só não baixou o juro para mostrar independência do governo.
"Está visível que o Banco Central só não baixou o juro em razão desse cabo de guerra ridículo que trava com o governo."

NA REDE
Circula na internet: "Você sabia que os US$ 100 bilhões que o Royal Bank of Scotland pagou pelo ABN-Amro há cerca de um ano daria para comprar no momento o Citibank (valor atual de mercado, US$ 22 bilhões) + o Morgan Stanley (US$ 10,5 bilhões) + o Goldman Sachs (US$ 21 bilhões) + o Merrill Lynch (US$ 12,3 bilhões) + o Deutsche Bank (US$ 13 bilhões) + o Barclays (US$ 12,7 bilhões)? Com a sobra de US$ 8 bilhões, ainda se comprariam a Ford, a Chrysler e a GM. Como ninguém é de ferro, sobraria um troquinho para montar uma equipe Honda de Fórmula 1. Assim, Rubinho Barrichello poderia voltar a correr em 2009."

ENXUTO
Em carta enviada ontem a clientes e amigos, Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do BC e sócio da Mauá Investimentos, mostra que o patrimônio da Mauá hoje, de R$ 400 milhões, é 84% menor que o máximo já registrado, de R$ 2,5 bilhões em 2007. O economista diz que a crise contribuiu para a reestruturação da empresa. Entre as iniciativas, estão cortes de 40% nos custos e a extinção da área de "novos produtos e negócios" da empresa. Figueiredo afirma, na carta, que as mudanças deixam a Mauá preparada para a "retomada da indústria de fundos e do apetite a risco do investidor, que deve começar já em 2009".

SALTO ALTO

A feira de moda, couro e calçados Couromoda, entre os dias 12 e 15 de janeiro, será a primeira grande feira do calendário no país desde que a crise começou. Segundo Francisco Santos, presidente da Couromoda, o novo cenário será marcado pelo retorno de clientes europeus e americanos que foram perdidos para os chineses nos produtos de baixo valor agregado nos últimos cinco anos. Santos diz que o mercado calçadista brasileiro foi menos afetado e o momento está propício para resgatar clientes internacionais. "Nos últimos dias corremos atrás dos clientes externos. A estratégia é resgatar clientes que nos abandonaram." A expectativa de crescimento para este ano era de 10%, mas deve fechar em 6%.

ELÉTRICO
O setor eletroeletrônico fechou 2008 empregando 165 mil trabalhadores, quase 10 mil novas contratações em relação a 2007. Mas, para 2009, o nível de emprego do setor não deverá subir, e poderá fechar o ano com o mesmo número de 2008, segundo Humberto Barbato, presidente da Abinee (associação da indústria elétrica e eletrônica). Já a balança comercial de produtos do setor eletroeletrônico fechou este ano com déficit recorde de mais de US$ 23 bilhões. O número supera em quase 60% o déficit do ano passado. As exportações ficaram em US$ 10 bilhões e as importações passaram de US$ 33 bilhões. "Os componentes, incluindo semicondutores, representaram 57% das importações, o que mostra dificuldade de desenvolvimento da indústria local de componentes. Para 2009, se nada mudar, as importações chegarão a US$ 36 bilhões e o déficit vai ultrapassar os US$ 24 bilhões."

ESTÍMULO
Luiza Trajano, superintendente do Magazine Luiza e presidente do IDV (Instituto para o Desenvolvimento do Varejo), lança nesta semana campanha do IDV para estimular os consumidores a comprar mesmo com a crise econômica. Com o slogan "Levante a Cabeça e Olhe para a Frente", a campanha será veiculada em dez dos principais jornais brasileiros. "A crise vai ser do tamanho do medo com que a enfrentarmos", diz Trajano.

INTERNAUTA
Sérgio Valente, presidente da DM9DDB, nos últimos 12 meses, registrou um crescimento de 250% nos investimentos em internet, respondendo por 6% do faturamento. O valor total ultrapassa os R$ 30 milhões.

RETORNO
As microcervejarias estão estudando reativar a Abmic (associação do setor). O nome mais cotado para a presidência é o de Marcelo da Rocha, da cervejaria Colorado.

VIZINHANÇA
As micro, pequenas e médias empresas na América Latina exportam pouco, segundo pesquisa encomendada pela Visa para a Nielsen. O Brasil e o país que tem a menor média da região, com 98% das micro, pequenas e médias que não exportam. Na América Latina, a porcentagem de empresas que não fazem exportação é de 96%. No Brasil, as que menos exportam são as micro (2%) e pequenas (3%).

ROUPA NOVA
Edvaldo Cerqueira, ex-diretor da Bradesco Seguros e ex-diretor da Áurea Seguros, será o presidente da Cescebrasil Seguros de Garantias e Crédito, que começa a operar no país na segunda. A empresa, hoje denominada Áurea Seguros, passou por um processo de reestruturação e volta ao mercado com foco em garantia, crédito interno e à exportação.

BONECA
A Brinquedos Estrela vai fechar 2008 com crescimento entre 15% e 20%. Em 2007, o incremento foi de 37,45%. Para o ano que vem, as expectativas são mais cautelosas. A empresa pretende manter os mesmos faturamento e "market share" deste ano.

MAIS BARATO
O Wal-Mart registrou venda recorde de panetones de fabricação própria, feito nas padarias das lojas. Neste ano o produto está 14% mais barato que em 2007 e a rede teve em novembro venda 50% superior ao mesmo período de 2007, com mais de 600 mil unidades vendidas.

DE PLÁSTICO
A Plastivida vai divulgar a redução de 12% no consumo de sacolas plásticas em lojas e supermercados de São Paulo, Porto Alegre e Salvador, participantes do programa de uso consciente. A ação será ampliada para outras capitais em 2009 e tem apoio de redes como Pão de Açúcar, Záffari e outras. O Brasil consome 18 bilhões de sacolas plásticas por ano.

com JOANA CUNHA e MARINA GAZZONI


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