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TCU suspende sessão da Anatel sobre Oi-BrT
Órgão diz que agência poderia dar anuência ao negócio sem devida base técnica, com risco de "grave lesão" aos usuários
Anatel tenta nova sessão para aprovar compra hoje; ministro Hélio Costa pressiona ministro do TCU pela liberação de negócio
LEONARDO SOUZA
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O TCU (Tribunal de Contas
da União) determinou ontem a
suspensão, pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), de qualquer deliberação
a respeito da anuência prévia
da compra da Brasil Telecom
pela Oi. A agência vai tentar retomar o processo hoje.
O ministro Raimundo Carreiro afirmou em despacho que
a autorização da agência para o
negócio poderia ser tomada de
forma precipitada, sem a devida base técnica, com risco de
"grave lesão aos usuários".
Antes mesmo da decisão ser
oficializada, ainda pela manhã,
o ministro Hélio Costa (Comunicações) procurou Carreiro
para tentar convencê-lo a reverter a medida cautelar.
A Folha antecipou ontem
que o ministro do TCU iria brecar o julgamento, por entender
que a Anatel não tinha as informações necessárias para permitir um negócio desse porte
sem os devidos estudos do impacto aos consumidores.
Se a anuência da Anatel não
sair até domingo, a Oi terá de
pagar multa de R$ 490 milhões
à BrT, segundo os contratos.
Pelo acordo de acionistas, se
uma decisão judicial impedisse
o negócio, haveria prazo adicional. Como o TCU não integra o Judiciário -é um órgão
de assessoramento do Legislativo-, há dúvidas se a decisão
do tribunal pode ser considerada uma sentença judicial.
Carreiro afirmou que o TCU
acompanha a transação desde
30 de julho. Segundo ele, desde
então, cobra uma série de dados da Anatel, como os impactos da fusão na cobrança de tarifas, mas até agora a agência
não teria prestado todas as informações necessárias.
O TCU não tem poderes para
definir que decisões a Anatel
deve tomar, isto é, não pode vetar a fusão. Mas pode postergar
o julgamento, ao determinar
que sejam encaminhadas todas
as informações que achar necessárias, e delimitar os procedimentos que a agência tem de
seguir ao analisar a operação.
Em seu despacho, Carreiro
determinou que a Anatel se
abstivesse da emissão da
anuência prévia, "tendo em
vista que o órgão regulador não
demonstrou, ao longo deste
acompanhamento, dispor de
informações relevantes e fidedignas que mitiguem riscos de
grave lesão aos usuários".
O ministro fala também em
risco de prejuízos à União, citando trecho de parecer da área
técnica do TCU: "Deficiências
graves no controle dos bens reversíveis (que podem voltar ao
controle do Estado no caso de
intervenção na prestadora ou
extinção da concessão), não
tendo a Anatel condições de
fornecer a posição atual desses
bens [...], situação que implica
risco de prejuízos à União".
O ministro solicitou esclarecimentos sobre os instrumentos regulatórios que a Anatel
deverá impor à nova tele para
garantir a competitividade, como definem, entre outros dispositivos, o Plano Geral de Outorgas. Cobrou também mais
transparência no processo de
concessão da anuência prévia.
Conforme a Folha publicou
ontem, a conselheira Emília
Ribeiro, relatora do processo,
tentou minimizar o risco de a
nova empresa ser vendida ao
capital estrangeiro. Ela deu a
entender que o BNDES e os
fundos de pensão poderiam vetar a venda do controle da companhia ao capital estrangeiro,
mas não há esse dispositivo no
acordo de acionistas.
Na segunda-feira, após a publicação de reportagem da Folha revelando a impossibilidade de o governo vetar eventual
venda da Oi-BrT, Ribeiro disse
que pediria, em seu relatório,
condicionantes para tentar dar
ao BNDES e aos fundos de pensão poder de veto nessa situação. Mas, na terça-feira, mudou
de opinião e disse que o acordo
já dava todas as garantias.
Ontem à tarde, a procuradora da Anatel, Ana Luiza Valadares, e Rodrigo Barbosa, chefe-de-gabinete do presidente da
agência, Ronaldo Sardenberg,
estiveram com Carreiro para
dar explicações e deram entrada num recurso pedindo que o
ministro reveja sua decisão.
Caso a Anatel venha a conceder a anuência prévia ao negócio hoje, o processo terá tramitado em tempo recorde no órgão regulador. Levantamento
feito pela Telcomp (Associação
Brasileira das Prestadoras de
Serviços de Comunicação
Competitiva) indica que há
análises de anuências prévias
em operações muito mais simples que levam mais de mil dias.
"Há algo estranho. Tem mudanças simples, às vezes só de
nome, que levam anos sendo
analisadas", disse Luis Cuza,
presidente da Telcomp. Ele defende que a Anatel faça audiências públicas para explicar os
parâmetros que usa em análises desse tipo, os documentos
de que dispõe e seus métodos.
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