|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Representante" não poderia vender no Brasil fundo lesado por Madoff
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Representante" informal no
Brasil de fundos da americana
Fairfield Greenwich Group, a
carioca Haegler S.A. não tem
autorização formal da CVM
(Comissão de Valores Mobiliários) para atuar como distribuidora de fundos no país.
A Haegler foi uma das empresas que mais intermediou a
aplicação de brasileiros em
produtos financeiros que investiam direta ou indiretamente em fundos geridos pelo ex-presidente da Nasdaq, Bernard
Madoff, preso sob acusação de
fraude na gestão de recursos. A
Fairfield teve perdas de US$ 7,5
bilhões em recursos de terceiros aplicados com Madoff.
Segundo Carlos Alberto Rebello Sobrinho, superintendente de relações com investidores institucionais da CVM, a
Haegler S.A. não tem registro
formal para intermediar produtos financeiros no país. Rebello afirma, no entanto, que
não houve até o momento reclamação de clientes brasileiros lesados e que não há indícios materiais de distribuição
desses fundos no Brasil, como
material de propaganda e
anúncios em jornais. "Como
não houve reclamações, não estamos apurando", disse.
No Brasil, a Haegler distribuiu nota afirmando que a
Fairfield tomará as medidas jurídicas cabíveis para defender
os cotistas. A empresa afirma
que atua apenas como consultora de negócios. "O Fairfield
não tem agente ou representante no Brasil e apenas dispõe
de um consultor de negócios."
Investidores brasileiros aplicaram direta e indiretamente
em fundos com investimentos
em ativos administrados pelo
ex-presidente da Nasdaq. Além
do Fairfield, os brasileiros chegaram aos fundos de Madoff
por meio das áreas de private
bank (gestão de fortunas) de
bancos brasileiros e de estrangeiros no país e no exterior.
O Banco Safra de Nova York
foi um dos que tiveram perdas
com aplicações na firma de Madoff. No Brasil, o "private" do
Safra afirma que não intermediou a aplicação de brasileiros.
O banco, no entanto, não soube
responder se brasileiros clientes do grupo no exterior aderiram a esses investimentos.
O "private bank" do Santander e o HSBC também tiveram
perdas relacionadas com fundos geridos por Madoff, mas dizem que esses produtos não foram oferecidos no Brasil.
Líderes na gestão de fortunas, os suíços UBS Pactual e
Crédit Suisse também afirmam
que não trouxeram o produto
ao Brasil. O Bradesco afirma
que não trabalha com esses
fundos e o Itaú preferiu não comentar o assunto.
Para o advogado Jairo Saddi,
especialista em direito bancário, vários brasileiros lesados
estariam com dificuldade para
reclamar o dinheiro de volta
porque não têm como comprovar a origem desses recursos.
"Só a multa [por sonegação] é
de 100%", disse.
Saddi lembra que, com rendimento em torno de 1% ao mês,
as aplicações de Madoff pouco
interessam a brasileiros que
costumam obter o mesmo retorno em fundos DI no país. No
caso, a vantagem é ficar fora do
risco de desvalorização cambial
e das regras fiscais brasileiras.
Especialista em recuperação
de ativos por fraude, o advogado Otto Lobo afirma que o brasileiro que investiu nesses fundos pode ter parte do dinheiro
de volta por meio do processo
de liquidação extrajudicial.
"Nos EUA, os poderes do liquidante são muito fortes. Se tiver
desvio de dinheiro pode utilizar
todas as regras de insolvência
internacional. Permite que um
liquidante nos EUA se torne liquidante em outros países,
principalmente anglo-saxões."
Texto Anterior: Mudança: Obama escolhe nova chefe da SEC, diz jornal Próximo Texto: Chrysler vai suspender por ao menos um mês toda a produção na América do Norte Índice
|