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Obra de hidrelétrica deixa 11 t de peixes mortos
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Onze toneladas de peixes
mortos -inclusive dos polêmicos bagres- foi o saldo da primeira etapa da construção da
hidrelétrica de Santo Antônio,
no rio Madeira (RO), segundo a
empresa responsável pela obra,
uma das mais importantes do
PAC (Programa de Aceleração
do Crescimento).
O governo deve multar a Mesa (Madeira Energia S.A), informou ontem à Folha o ministro
Carlos Minc (Meio Ambiente).
O presidente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis), Roberto Messias
Franco, aguarda a conclusão de
um segundo laudo técnico para
definir o valor da multa, provavelmente até amanhã. "Todos
os dados de que disponho são
que houve infração, uma mortandade desproporcional e
anormal", afirmou. "Punição
certamente deve haver."
A empresa responsável pela
obra atribui a morte dos peixes
à grande quantidade de material em suspensão no fundo do
rio e a uma "brusca" variação
de temperatura no final da semana passada, classificada de
"fator não-controlável".
A operação de resgate dos
peixes começou em outubro,
um mês depois do início das
obras da usina. Segundo a Mesa, 70 toneladas de peixes ficaram retidas pelos diques, chamados de ensecadeiras, que represam as águas do rio no trecho em que serão instaladas as
turbinas.
Do total de 70 toneladas de
peixes, teriam sido resgatadas e
devolvidas ao Madeira 59 toneladas. Outras 5 toneladas foram congeladas e poderão ser
doadas, após análise da vigilância sanitária de Porto Velho. As
demais 6 toneladas foram consideradas perdidas.
O mau cheiro no local obrigou os trabalhadores de Santo
Antônio a usarem máscaras
nos últimos dias. O canteiro de
obras fica a seis quilômetros da
capital do Estado.
"A retenção de peixes na
construção de ensecadeiras é
um fenômeno previsto, só não
se consegue prever a quantidade", disse Ricardo Alves, gerente de sustentabilidade da Madeira Energia. "Os números na
Amazônia são todos muito
grandiosos."
O presidente do Ibama reconhece que empreendimentos
hidrelétricos como as usinas do
Madeira costumam causar a
morte de peixes, mas não nas
dimensões registradas em Santo Antônio. Por isso apura detalhes da operação.
Segundo a Mesa, a maioria
dos peixes mortos era de pequeno porte. "Foram poucos
bagres, quase nada, não chegou
a 1% do total", disse Alves. Em
maior número, estão sardinhas, branquinhas, peixes-cachorro e bicos-de-pato.
Os bagres protagonizaram o
polêmico processo de licenciamento ambiental das usinas do
rio Madeira, no ano passado.
Em abril, durante reunião com
o conselho político do governo,
o presidente Lula se queixou da
demora na liberação da licença
e desabafou: "Jogaram o bagre
no colo do presidente".
A licença foi liberada três
meses depois do desabafo presidencial mediante mudanças
no projeto que garantiriam a
reprodução dos bagres e demais peixes do rio. O início das
obras foi autorizado pelo Ibama em agosto de 2008.
O início das obras da segunda
hidrelétrica do Madeira, a de
Jirau, ainda não foi autorizado.
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