São Paulo, sexta, 18 de dezembro de 1998

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RACHA NA INDÚSTRIA
Presidente da Firjan diz que "não adianta reclamar por reclamar"; Piva critica Franco e prepara ato
Rio sai em defesa de FHC contra Fiesp

MAURICIO ESPOSITO
da Reportagem Local

CHICO SANTOS
da Sucursal do Rio

As críticas de industriais paulistas à equipe econômica provocaram a reação de lideranças empresariais do Rio de Janeiro, que iniciaram ontem uma troca de farpas com São Paulo para defender a atual política do governo federal.
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que vinha atacando publicamente a política de juros altos do governo, com o apoio da CNI (Confederação Nacional da Indústria), foi duramente criticada ontem.
O presidente da Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, saiu em defesa da equipe econômica e do presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Não adianta reclamar por reclamar. Tem que haver uma base para a reclamação", disse Gouvêa, após almoço de apresentação dos indicadores da indústria fluminense. Para o presidente da Firjan, a atual política do governo é dolorosa, mas não há alternativa.
Segundo ele, o presidente da Fiesp, Horacio Piva, vem dizendo que a crítica à política de juros não é da entidade, mas de parte dos seus diretores.
"Eu quero acreditar que seja exatamente assim", disse Gouvêa. Para ele, se a crítica for uma posição da Fiesp, isso significa um retrocesso em relação ao que o presidente da Firjan havia entendido do pensamento da nova direção da entidade paulista na época da posse de Piva, em setembro.
Gouvêa disse que as críticas de agora se parecem com as que levaram, em 1979, à queda de Mário Henrique Simonsen do cargo de ministro da Fazenda. Segundo ele, o sucessor de Simonsen, Delfim Netto, fez duas maxidesvalorizações da moeda e lançou o Brasil na chamada "década perdida".
Para Gouvêa, as críticas da Fiesp estão relacionadas com o processo de esvaziamento industrial de São Paulo, que seria decorrente da excessiva concentração populacional nas grandes cidades, atingindo também o Rio.
Segundo ele, esse esvaziamento vem sendo compensado pelo surgimento de pólos geradores de empregos em outras regiões, como no Nordeste, ou mesmo no interior de São Paulo.
Gouvêa disse que também quer a redução dos juros, mas considera que isso virá com a efetiva implementação das reformas que precisam acompanhar a estabilização da economia, como a reforma tributária e a reforma da legislação trabalhista.
Afinado com o discurso do governo, Gouvêa entende que, se os ajustes anunciados em outubro forem efetivados, a economia poderá voltar a crescer no segundo semestre de 99. Ele defendeu também a maior disponibilidade de financiamentos, "a taxas compatíveis", para o setor produtivo.
Movimento
A Fiesp vem tentando articular um movimento para pressionar o governo a adotar uma política mais voltada à produção.
O presidente da entidade criticou, várias vezes, o presidente do Banco Central, Gustavo Franco, pela sua atuação em defesa da atual política monetária.
Ontem, após um encontro com a direção da Força Sindical, Piva chegou a defender maior liberação nos empréstimos compulsórios dos bancos.
A estratégia da Fiesp tem sido a de promover encontros com deputados federais eleitos por São Paulo e lideranças sindicais da Força Sindical e da CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Na próxima segunda-feira, haverá um ato na sede da Fiesp reunindo empresários, parlamentares e lideranças sindicais para tentar definir uma agenda comum das reivindicações a favor da produção e da geração de empregos.
Sobre as críticas que começou a receber, principalmente do presidente da Firjan, Piva disse que em nenhum momento defendeu a volta do protecionismo ou a derrubada do presidente do Banco Central, considerado por muitos como o maior defensor da política atual de juros elevados.
"As pessoas que estão me criticando não falaram comigo; a agenda de discussões é aberta, não somos dogmáticos", respondeu ontem Piva, contrariado com as críticas pessoais que vem recebendo.
Piva afirmou que tem recebido o apoio de empresários nas suas críticas e argumenta que outras lideranças empresariais também adotaram a mesma linha de ataque ao governo.
"O discurso do Fernando Bezerra (presidente da CNI) tem sido mais forte do que o da Firjan", comparou Piva.
Ele disse que as críticas feitas anteontem pelo presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães, dirigidas às reivindicações da Fiesp, foram muito mais elegantes do que as outras que recebeu.



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