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ARTIGO
Vitória da competência
FERNANDO TADEU PEREZ
O acordo firmado na semana
passada entre a Volkswagen do
Brasil e os sindicatos de metalúrgicos do ABC e de Taubaté tem um
grande denominador comum: a
competência.
A competência dos sindicalistas,
que exigiram sem transigir, defenderam sem brigar, negociaram
sem sonhar; e a dos técnicos em relações trabalhistas da Volkswagen,
que criaram uma equação matemática, uma engenharia financeira
na qual se avança aqui, recua-se
acolá e ninguém perde.
Frutos dessa competência foram
a aprovação maciça dos trabalhadores em assembléia, a preservação de 7.500 empregos e o estabelecimento de uma política de parceria de longo prazo entre empresa e
trabalhadores, em que todos têm
consciência de que as modernas
relações capital-trabalho não se limitam mais ao "ou dá ou desce".
Hoje, sentam-se à mesa de negociação com posições maduras, vislumbrando não o dia seguinte nem
o futuro imediato, mas o futuro de
longo prazo.
O acordo quebra um paradigma
dentro das grandes empresas e dos
grandes sindicatos. A redução do
trabalho, acompanhada de uma
redução de salário, sem prejuízo
da renda mensal, é uma fórmula
moderna, dos dias de hoje.Talvez
não seja para os de amanhã, mas,
seguramente, é a saída para os dias
atuais.
A "vitória da competência" pode
ser evidenciada pelo pagamento
do INPC integral, pela manutenção do 13º salário e do abono de férias, pela antecipação das verbas
referentes à participação nos lucros e resultados de um exercício
(1999) que nem os grandes futurólogos sabem como será.
Ela está consubstanciada na adequação da jornada de trabalho às
necessidades de produção, no
equilíbrio da redução de custos
com o fluxo de caixa, na percepção
correta de que existe a necessidade
de um "turnover", seja ele executado da forma que for.
O acordo traz embutida, ainda,
uma radical mudança terminológica: pode-se considerar definitivamente banida a palavra "perda".
No mundo das negociações modernas, ninguém mais perde. Perde quem não negocia, quem radicaliza, quem não sabe levantar os
olhos além do nariz.
Chegaram a insinuar que o Estado estaria perdendo, deixando de
recolher impostos sobre uma parcela salarial que não chega, em média, a 10%.
Perdeu? Não, ganhou. Imagine-se o Estado tendo de arcar com a
manutenção de 7.500 desempregados, mais dependentes (num cálculo otimista, uma população de
pelo menos 30 mil pessoas, sem falar no efeito na cadeia produtiva).
Imagine-se toda essa população
sem dinheiro para comer, para
vestir, para ter assistência médico-odontológica.
Ah, mas os empregados perderam. Não, ganharam! Tiveram os
empregos mantidos, a renda mensal garantida, vão trabalhar um
pouco menos -e ter um pouco
mais de qualidade de vida.
Tudo isso nos obriga a uma séria
reflexão: por que a Volkswagen debruçou-se durante centenas de horas sobre variantes e mais variantes para evitar o desemprego quando a maioria das empresas opta
pelo caminho mais simples, o da
demissão?
A Volkswagen fez isso porque sabe da responsabilidade que tem
dentro da sociedade brasileira e da
importância de seu compromisso
social. Ela tem instalações modernas, muitos robôs, usa na fabricação de seus produtos as mais recentes conquistas tecnológicas
existentes em todo o mundo, mas
-e isso ela não esquece- ainda é
feita por gente.
Quando sugeri que a população
brasileira, ao adquirir qualquer tipo de produto, seja ele um automóvel ou um simples clipe, verifique quem está por trás desses produtos, queria mostrar que devemos preservar aqueles que nos
preservam. Quem tira emprego
merece ser prestigiado?
Chegaram a dizer que essa posição era de "marqueteiro". A princípio, neguei. Mas, pensando bem,
realmente é uma posição de marketing: do marketing do emprego e
da competência.
Fernando Tadeu Perez, 44, é diretor de recursos humanos da Volkswagen do Brasil.
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