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OPINIÃO ECONÔMICA
Riscos do Ministério do Desenvolvimento
MAILSON DA NÓBREGA
Ao anunciar o Ministério do
Desenvolvimento, da Indústria e
do Comércio, que substituirá o
MICT, o presidente arquivou de
vez a idéia de criar o Ministério
da Produção.
A nova pasta, reforçada por
três bancos de fomento, é uma
versão muito menos ambiciosa
que a do Ministério da Produção, mas pode manter as expectativas exageradas criadas em
torno deste último.
A idéia do Ministério da Produção parece ter-se originado
dos trabalhos da Secretaria de
Política Econômica do Ministério da Fazenda (SEP) e do
BNDES, principalmente os relativos ao chamado "Custo Brasil".
Pistas sobre os objetivos do ministério podem ser encontradas
nos artigos de José Roberto Mendonça de Barros, então secretário da SEP, e Lídia Goldenstein,
do BNDES. Eles falam sempre em
duas palavras-chave: competitividade e produtividade.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, cotado para a nova pasta até
a sua saída do Ministério das
Comunicações, garantiu que a
pasta não constituiria um balcão
de subsídios e proteção, nem seria criado contra a opinião do
Ministério da Fazenda.
Assim, o novo ministério comandaria ações para remover
obstáculos enfrentados pela empresa nacional para investir,
competir e crescer. Em certos casos, poderia resolver problemas
na cadeia produtiva. Isso seria
feito cuidadosamente, para evitar uma recaída no velho intervencionismo.
O então futuro ministério gerou a equivocada impressão de
que seria parte de uma estratégia
para impulsionar a produção já,
em parte sob a influência de um
de nossos vícios estatistas, o de
que se resolvem problemas criando ministérios.
A mesma expectativa aparece
vez por outra em torno de um
Ministério do Comércio Exterior.
A demanda recente de empresários por um canal exclusivo para
o diálogo com o governo, isto é, o
seu ministério, é parte dessa cultura.
Mesmo em sua nova versão, a
idéia surge no momento em que
se organizam coalizões contra a
política econômica, que se sobrepõem à coalizão em favor da desvalorização, de há muito estabelecida.
Há sinais inequívocos no ar,
incluindo o lançamento de dúvidas sobre a conveniência de preservar a estabilidade caso continuem as dificuldades que os empresários enfrentam.
O novo ministério dificilmente
atenderá as expectativas da classe empresarial. Não mais existe o
cipoal de instrumentos das políticas industriais do passado.
Na área política, as expectativas são ainda maiores. Sonha-se
que o novo ministério transformaria o segundo mandato de
FHC em uma usina desenvolvimentista. A estabilidade seria
página virada e conquista consolidada. Um óbvio erro.
É como se a simples virada do
calendário em 1º de janeiro de
1999 mudasse radicalmente as
condições -que ora absolutamente não existem- de promover o crescimento sustentado. O
esforço de preservação da estabilidade, tido como equivocado,
seria substituído por medidas
para aliviar as empresas e criar
empregos.
É verdade que o clima de insatisfação no empresariado procede. Juros altos, tributação caótica, mais impostos, perpetuação
da CPMF. Em vez de lutar pela
reforma tributária, o governo
desenterra um velho arranjo cartorial para financiar obras públicas com mais um imposto vinculado, a antítese de qualquer
sistema tributário sério..
O risco é a insatisfação legítima conduzir à impaciência e esta a simplificações e à demanda
por saídas imediatas e simplistas
para a crise, mas que gerem a
sensação de que porão um fim ao
sofrimento.
Nesse contexto, aparecem visões ingênuas sobre o processo legislativo e sobre a natureza das
mudanças requeridas. São comuns as críticas pela não realização da reforma tributária, como se esta pudesse ser realizada
por decreto.
Para o governo, o novo ministério será um complemento da
estabilidade. Os políticos e empresários, ainda que o neguem,
querem baixar os juros, aumentar o crédito, gerar proteção, o
que será reforçado com o atrelamento dos bancos de desenvolvimento à nova estrutura.
O presidente afirmou que a nova pasta não se contraporá à política econômica nem será fonte
de subsídios e proteção. Se for assim, corre o risco de descontentar
empresários e políticos. Se nomear um superministro que encarne a idéia do desenvolvimento a qualquer custo, gerará um
sério conflito no governo.
Mailson da Nóbrega, 56, ex-ministro da Fazenda (governo José Sarney), sócio da Tendências Consultoria Integrada, escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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