São Paulo, sexta, 18 de dezembro de 1998

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LUÍS NASSIF
A inadimplência é alta

Estudos produzidos pela edição desta semana do Guia Financeiro indicam que a situação do crédito bancário está mais crítica do que em 1995 -ano que marcou a primeira explosão de inadimplência do Real. Naquele período, os bancos vinham de uma política francamente de crédito expansionista e pouco seletiva. Agora, de uma política extremamente conservadora. Mesmo assim, os dados de provisionamento contra crédito de difícil liquidação estão em níveis preocupantes.
As conclusões se basearam nos resultados de 19 instituições catalogadas no sistema Economática. No item provisionamento, o setor bancário fechou o terceiro trimestre de 98 com o índice mais elevado desde 96. Contribuiu para esse aumento o Banco do Brasil, que fechou o período com provisões de US$ 3,122 bilhões, de um total de US$ 5,881 bilhões (veja explicações a seguir).
Mesmo tirando o BB do estudo, o provisionamento no terceiro trimestre de 98 seria de US$ 2,759 bilhões, contra US$ 2,224 bilhões no terceiro trimestre de 97 e US$ 3,118 bilhões no mesmo período de 96.
Apesar do provisionamento crescente, os créditos em atraso -superiores a 30 dias- estão estáveis, demonstrando que, de certa forma, os bancos estão no curtíssimo prazo. No terceiro trimestre de 1997 esses bancos dispunham de US$ 100,4 bilhões em operações de crédito de curto prazo e longo prazo. Hoje em dia, estão com US$ 73,088 bilhões, um corte de liquidez de 37,4%, ou menos US$ 27,364 bilhões às empresas.
As linhas de curto prazo ficaram estáveis em 1998, embora tenham diminuído em relação aos mesmos trimestres de 1997. Já as de longo prazo desabaram de US$ 41,1 bilhões no terceiro trimestre de 1997 para US$ 755 milhões no terceiro de 1998.
Conclusão: a história de alongar passivos foi para o espaço com a política de juros altos.
Provisões no BB
Embora tenha ocorrido um aumento da inadimplência, o aumento do provisionamento do BB não tem relação direta com o fenômeno. Até 1996, o banco tinha uma quantidade muito grande de operações inadimplentes de pequeno valor, que não valia a pena ajuizar. Isso porque, à medida que ajuizava, o gerente se sentia desobrigado de continuar cobrando os clientes. Além de não ajuizar, o BB não trazia para prejuízos.
A partir de 1997 a legislação fiscal obrigou a oferecer como tributação receitas relacionadas a créditos inadimplidos que não estejam ajuizados. Para não pagar Imposto de Renda, o banco passou a fazer o lançamento e, automaticamente, a provisão. Com isso, uma operação compensou a outra, mas inflou as contas de liquidação.
Os dados internos da carteira revelam que a relação entre contas recuperadas e novas inadimplências subiu de 1,5% em junho para 3% em novembro.


E-mail: lnassif@uol.com.br





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