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ROBERTO RODRIGUES
Integração agrossilvopastoril
A Integração Lavoura Pecuária
acaba com a degradação do
solo e permite duas atividades
no mesmo ano: gado e grãos
VEM CRESCENDO, especialmente na região Centro-Oeste,
um verdadeiro ovo de Colombo para a recuperação de pastagens
degradadas, que é a ILP (Integração
Lavoura Pecuária).
Trata-se de um sistema integrado
do uso do solo, permitindo a atividade agropecuária durante o ano todo,
com cinco meses dedicados à agricultura e os outros sete dedicados à
exploração de pastagens.
O modelo nasceu no Tocantins,
por meio dos Sistemas Barreirão e
Santa Fé, quando pesquisadores desenvolveram a formação de pastagens com o plantio de grãos: as sementes do capim eram misturadas
às dos grãos (arroz, milho, soja, sorgo), com adubação completa, inclusive cobertura nitrogenada. Após a
colheita do grão, o pasto estava formado. Depois os técnicos evoluíram
para o consórcio de grãos para silagem com forrageira, e as coisas funcionaram bem.
A ILP tem sido usada principalmente para reformar e até recuperar pastagens exauridas. Com isso,
acaba com a degradação do solo, reduz a incidência de doenças e pragas, melhora a retenção da água,
além do óbvio resultado econômico,
com duas atividades no mesmo ano:
gado e grãos.
A Embrapa vem trabalhando muito na tecnologia, acompanhando
seus resultados para o trinômio da
sustentabilidade: ambiental, econômica e social.
Na verdade, a tecnologia, que exige uma mudança de atitude dos
agropecuaristas, é bastante simples
e representa uma espécie de adaptação de plantio direto. A diferença é
que a "palha" de cultivos específicos
do plantio direto é o próprio pasto,
com o uso de cultivo mínimo, isto é,
sem tombamento ou gradagem,
quando o capim ainda permite recuperação.
Também pode ser usado na reforma do pasto, e isso implica aração,
gradagem, eventual conserto de erosões antigas, construção de curvas
de nível, correção do solo etc. Em seguida, planta-se a semente do capim
escolhido e espera-se a sua brotação.
Daí para a frente, as operações são as
mesmas para o caso de ser recuperação da pastagem preexistente, e o
trabalho começa com o capim a uma
altura de 10 cm a 12 cm.
Aplica-se um agroquímico que
produza uma secagem parcial da
pastagem, que ficará "desmaiada"
por cerca de 60 dias. Após a aplicação do secante, semeia-se o grão ou
cereal desejado. Nos dois meses subseqüentes, enquanto se desenvolve
a planta semeada, o pasto dormente
funciona como cobertura morta. O
crescimento da planta escolhida,
por sua vez, não permitirá que o pasto receba luz, de modo que não haverá concorrência entre ambos. Terminado o ciclo da cultura, as suas folhas vão secando, e o sol volta a incidir sobre o capim, que brota e cresce.
Assim, quando a colheita do grão
terminar, o pasto estará na plenitude para uso, adubado e corrigido. Vai
suportar até cinco cabeças por hectare. Depois de sete meses do uso da
pastagem, o ciclo recomeça, com outra atividade agrícola.
Simples e excelente! E agora já
existe uma ampliação do programa,
com o plantio de árvores, com espaçamento aumentado em relação ao
normal, e a operação fica agrossilvopastoril. Seringueiras ou eucaliptos
já estão testados, com ótimo resultados.
É a revolução da simplicidade, que
economizará defensivos e fertilizantes, reduzirá a demanda por novas
áreas para agricultura, estabilizará a
renda do agricultor e diversificará as
atividades, aumentando a produção
de grãos e de carnes.
De fato, um ovo de Colombo.
ROBERTO RODRIGUES, 65, coordenador do Centro de
Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do
Agronegócio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura. Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.
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