São Paulo, sábado, 19 de janeiro de 2008

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ROBERTO RODRIGUES

Integração agrossilvopastoril

A Integração Lavoura Pecuária acaba com a degradação do solo e permite duas atividades no mesmo ano: gado e grãos

VEM CRESCENDO, especialmente na região Centro-Oeste, um verdadeiro ovo de Colombo para a recuperação de pastagens degradadas, que é a ILP (Integração Lavoura Pecuária).
Trata-se de um sistema integrado do uso do solo, permitindo a atividade agropecuária durante o ano todo, com cinco meses dedicados à agricultura e os outros sete dedicados à exploração de pastagens.
O modelo nasceu no Tocantins, por meio dos Sistemas Barreirão e Santa Fé, quando pesquisadores desenvolveram a formação de pastagens com o plantio de grãos: as sementes do capim eram misturadas às dos grãos (arroz, milho, soja, sorgo), com adubação completa, inclusive cobertura nitrogenada. Após a colheita do grão, o pasto estava formado. Depois os técnicos evoluíram para o consórcio de grãos para silagem com forrageira, e as coisas funcionaram bem.
A ILP tem sido usada principalmente para reformar e até recuperar pastagens exauridas. Com isso, acaba com a degradação do solo, reduz a incidência de doenças e pragas, melhora a retenção da água, além do óbvio resultado econômico, com duas atividades no mesmo ano: gado e grãos.
A Embrapa vem trabalhando muito na tecnologia, acompanhando seus resultados para o trinômio da sustentabilidade: ambiental, econômica e social.
Na verdade, a tecnologia, que exige uma mudança de atitude dos agropecuaristas, é bastante simples e representa uma espécie de adaptação de plantio direto. A diferença é que a "palha" de cultivos específicos do plantio direto é o próprio pasto, com o uso de cultivo mínimo, isto é, sem tombamento ou gradagem, quando o capim ainda permite recuperação.
Também pode ser usado na reforma do pasto, e isso implica aração, gradagem, eventual conserto de erosões antigas, construção de curvas de nível, correção do solo etc. Em seguida, planta-se a semente do capim escolhido e espera-se a sua brotação. Daí para a frente, as operações são as mesmas para o caso de ser recuperação da pastagem preexistente, e o trabalho começa com o capim a uma altura de 10 cm a 12 cm.
Aplica-se um agroquímico que produza uma secagem parcial da pastagem, que ficará "desmaiada" por cerca de 60 dias. Após a aplicação do secante, semeia-se o grão ou cereal desejado. Nos dois meses subseqüentes, enquanto se desenvolve a planta semeada, o pasto dormente funciona como cobertura morta. O crescimento da planta escolhida, por sua vez, não permitirá que o pasto receba luz, de modo que não haverá concorrência entre ambos. Terminado o ciclo da cultura, as suas folhas vão secando, e o sol volta a incidir sobre o capim, que brota e cresce.
Assim, quando a colheita do grão terminar, o pasto estará na plenitude para uso, adubado e corrigido. Vai suportar até cinco cabeças por hectare. Depois de sete meses do uso da pastagem, o ciclo recomeça, com outra atividade agrícola.
Simples e excelente! E agora já existe uma ampliação do programa, com o plantio de árvores, com espaçamento aumentado em relação ao normal, e a operação fica agrossilvopastoril. Seringueiras ou eucaliptos já estão testados, com ótimo resultados.
É a revolução da simplicidade, que economizará defensivos e fertilizantes, reduzirá a demanda por novas áreas para agricultura, estabilizará a renda do agricultor e diversificará as atividades, aumentando a produção de grãos e de carnes. De fato, um ovo de Colombo.


ROBERTO RODRIGUES, 65, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura. Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.


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