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Economistas colocam em xeque tese de "descolamento"
"Imunidade" do Brasil pode cessar dependendo do tamanho da crise nos EUA, afirmam
Estrangeiro terá prêmio com diferença de juros para investir no país, mas ganho poderá não ser suficiente para manter fluxo de capital
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil manteve-se imune
ao mau desempenho dos mercados globais no ano passado,
mas a tese do "descolamento"
dos emergentes, cuja performance e avaliação das ações superaram o das economias maduras, pode não se repetir em
2008, segundo economistas.
Isso porque, até então, a crise
dos EUA se restringia ao sistema financeiro. Agora, atinge a
economia real com desemprego, aperto no crédito e redução
de vendas do varejo. Consumo
menor da maior economia do
planeta reduzirá a demanda
por produtos brasileiros, além
de derrubar preços e volumes
de commodities, afirmam.
Para atenuar os efeitos da
crise, os estrangeiros terão um
prêmio extra para assumir o
risco brasileiro, o chamado diferencial de juros -a diferença
entre o juro decrescente nos
EUA e estável no Brasil. Hoje,
está em 7 pontos percentuais,
desprezada a inflação.
O economista Fernando Cardim, da UFRJ, afirma que os
mercados emergentes foram
até agora uma aplicação privilegiada, com retornos elevados.
A continuidade dessa visão dependerá do tamanho da crise.
"O diferencial de juros tende
a crescer porque o Fed deverá
continuar a promover reduções nos juros, enquanto o BC
provavelmente manterá a taxa
-se não aumentá-la. O impacto
sobre o fluxo de capitais não deverá ser, a curto prazo, grande.
Tudo dependerá de onde irá a
contração americana. Há razão
para preocupação, mas ainda
não para pânico. Mas, quando o
desapontamento domina e
cresce a aversão a risco, é muito
difícil deter uma contração."
Para o ex-diretor do Banco
Central, Alkimar Moura, o pessimismo externo já chegou aos
mercados brasileiros, mas seu
efeito na economia real ainda é
incerto. "Não existe descolamento no mercado. A queda
nas Bolsas reflete isso. Se o problema americano for suave, aí
estamos relativamente protegidos. Se for maior, tem efeitos
diretos e indiretos como queda
nas exportações", disse.
Para o economista Ricardo
Humberto Rocha, do Ibmec-SP, é fato que a crise nos EUA
afetará bem menos o Brasil do
que no passado. "Brasil, Rússia,
Índia e China continuarão
atraindo investimento. A questão é como fica o consumo. O
pacote do presidente Bush foi
mais para dizer que o governo
está preocupado", disse.
"A retórica de Bush foi correta, mas foi muito geral. Faltou
detalhar. O mundo não vai degringolar por força dos EUA. O
fluxo de dólares não vai secar
para o Brasil. Teremos ainda
um certo descolamento porque
a economia brasileira cresce
com ritmo sustentado na demanda interna. Agora a Bolsa
vai sofrer com a volatilidade
maior", disse Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria.
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