São Paulo, sábado, 19 de janeiro de 2008

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Economistas colocam em xeque tese de "descolamento"

"Imunidade" do Brasil pode cessar dependendo do tamanho da crise nos EUA, afirmam

Estrangeiro terá prêmio com diferença de juros para investir no país, mas ganho poderá não ser suficiente para manter fluxo de capital

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil manteve-se imune ao mau desempenho dos mercados globais no ano passado, mas a tese do "descolamento" dos emergentes, cuja performance e avaliação das ações superaram o das economias maduras, pode não se repetir em 2008, segundo economistas.
Isso porque, até então, a crise dos EUA se restringia ao sistema financeiro. Agora, atinge a economia real com desemprego, aperto no crédito e redução de vendas do varejo. Consumo menor da maior economia do planeta reduzirá a demanda por produtos brasileiros, além de derrubar preços e volumes de commodities, afirmam.
Para atenuar os efeitos da crise, os estrangeiros terão um prêmio extra para assumir o risco brasileiro, o chamado diferencial de juros -a diferença entre o juro decrescente nos EUA e estável no Brasil. Hoje, está em 7 pontos percentuais, desprezada a inflação.
O economista Fernando Cardim, da UFRJ, afirma que os mercados emergentes foram até agora uma aplicação privilegiada, com retornos elevados. A continuidade dessa visão dependerá do tamanho da crise.
"O diferencial de juros tende a crescer porque o Fed deverá continuar a promover reduções nos juros, enquanto o BC provavelmente manterá a taxa -se não aumentá-la. O impacto sobre o fluxo de capitais não deverá ser, a curto prazo, grande. Tudo dependerá de onde irá a contração americana. Há razão para preocupação, mas ainda não para pânico. Mas, quando o desapontamento domina e cresce a aversão a risco, é muito difícil deter uma contração."
Para o ex-diretor do Banco Central, Alkimar Moura, o pessimismo externo já chegou aos mercados brasileiros, mas seu efeito na economia real ainda é incerto. "Não existe descolamento no mercado. A queda nas Bolsas reflete isso. Se o problema americano for suave, aí estamos relativamente protegidos. Se for maior, tem efeitos diretos e indiretos como queda nas exportações", disse.
Para o economista Ricardo Humberto Rocha, do Ibmec-SP, é fato que a crise nos EUA afetará bem menos o Brasil do que no passado. "Brasil, Rússia, Índia e China continuarão atraindo investimento. A questão é como fica o consumo. O pacote do presidente Bush foi mais para dizer que o governo está preocupado", disse.
"A retórica de Bush foi correta, mas foi muito geral. Faltou detalhar. O mundo não vai degringolar por força dos EUA. O fluxo de dólares não vai secar para o Brasil. Teremos ainda um certo descolamento porque a economia brasileira cresce com ritmo sustentado na demanda interna. Agora a Bolsa vai sofrer com a volatilidade maior", disse Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria.


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