São Paulo, sábado, 19 de janeiro de 2008

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Mão-de-obra trava investimento de múlti

Empresa estrangeira aponta falta de profissional qualificado, sobretudo engenheiros, mostra pesquisa

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Falta mão-de-obra qualificada no Brasil, principalmente engenheiros, o que emperra o investimento de multinacionais com filiais no país.
Essa é a conclusão de um estudo de pesquisadores da Unicamp, USP, Unesp e PUC-MG, que contou com o apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e da Secretaria Estadual de Desenvolvimento paulista.
O projeto, que durou dois anos e terminou em setembro, visou identificar entraves para o investimento de multinacionais no país, sobretudo em pesquisa e desenvolvimento.
Em uma etapa, 81,7% das 88 filiais das maiores multinacionais no país responderam considerar que "a escassez de mão-de-obra qualificada será um fator crítico ou muito importante nos próximos cinco anos".
Depois, dirigentes de 47 dessas empresas foram entrevistados: para 58,7%, a escassez de mão-de-obra já é sentida.
"As empresas apontam que o país tem mão-de-obra com boa qualidade, mas em quantidade insuficiente", diz Sérgio Queiroz, da Unicamp e coordenador de ciência e tecnologia da Secretaria de Desenvolvimento.
"Isso pesa quando a multinacional escolhe em que país irá instalar um laboratório de pesquisa", afirma Queiroz, que também coordenou o projeto.
Dados da Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) apontam que o Brasil tem 462 pesquisadores por milhão de habitantes, contra 708 na China e 5.294 no Japão.
O órgão aponta também que o país investe 0,9% do PIB em pesquisa, ante 1,3% na China e 2,7% nos EUA.
"A pesquisa nas empresas é importante para o desenvolvimento do país porque exige mão-de-obra especializada, que gera salários melhores", afirma Queiroz. Além disso, diz, o desenvolvimento de novos produtos induz o crescimento de outras empresas.
A falta de profissionais qualificados no país já foi exposta em outros levantamentos. A Confederação Nacional da Indústria, por exemplo, informou no ano passado que 56% das cerca de 1.700 empresas consultadas apontaram escassez de técnicos especializados.
Responsável pelas entrevistas com as múltis, Flávia Consoni afirma que os profissionais que as empresas mais sentem falta no mercado são os com diploma de ensino superior, principalmente engenheiros.
De acordo com a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), 4,5% dos brasileiros com diploma universitário se formaram em áreas ligadas à engenharia. A média entre os países desenvolvidos é de 12,2% e de 15,6% no Chile.
"Levei dois anos para encontrar um engenheiro na área de simulação numérica", disse o gerente de tecnologia da Villares Metals, Celso Barbosa.
"Além da formação universitária, as multinacionais também apontaram que muitos profissionais não dominam a língua inglesa, fator essencial para a pesquisa de ponta", disse Consoni, que é pesquisadora da USP e da Unicamp.

A pesquisa
A amostra de multinacionais para o estudo foi feita a partir do cruzamento de três critérios: a lista do "Maiores Valor Econômico - 2005"; empresas presentes no Brasil que constem no "R&D Scoreboard 2005", publicação no Reino Unido que apresenta um ranking com as mil maiores empresas do mundo com maiores investimentos em pesquisa e desenvolvimento; e conhecimento prévio dos integrantes da pesquisa.


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