São Paulo, terça, 19 de janeiro de 1999

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Real perde mais valor no segundo dia

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local

No segundo dia de flutuação livre do câmbio, o real teve desvalorização de 9,44% entre o fechamento de sexta-feira e o de ontem. Considerando-se a média ponderada dos negócios nos dois dias, a desvalorização foi de 4,73%.
No acumulado desde a terça-feira, quando o governo mudou a política cambial, a desvalorização de fechamento a fechamento foi de 23,84%. Média contra média, a desvalorização está em 21,26%.
Como na sexta-feira, o mercado de câmbio operou com poucos volumes e muita volatilidade ontem.
As cotações do dólar comercial para venda abriram a R$ 1,52, bateram nos R$ 1,50 por volta das 11h e subiram para até R$ 1,60.
"O mercado está esquisito. Os agentes estão preferindo ficar de fora, com medo de entrar no momento errado", diz Marco Antônio Dias, chefe de mesa de interbancário de câmbio do BicBanco.
"O BC está fazendo um teste de vestibular, está debutando na condição de autoridade monetária num país de câmbio livre", disse.
Os movimentos no mercado interbancário de câmbio ficaram em torno de US$ 1,5 bilhão, contra US$ 6 bilhões antes da mudança.
Cada negócio, de cerca de US$ 1 milhão cada, demorava para sair. Com medo de inadimplência dos importadores, os investidores só vendiam sabendo quem era o comprador. Se o importador não tiver como honrar seus compromissos, pode haver contaminação dos bancos médios e pequenos.
O fluxo cambial continuou negativo, em US$ 212 milhões até as 20h. Os investidores consideraram o número preocupante, visto que ontem foi feriado em Nova York. Na sexta-feira, a sangria de divisas ficou em US$ 318 milhões.

Bolsa sobe 5,43%
A Bolsa de Valores de São Paulo subiu 5,43% ontem, acumulando uma alta de 40,66% desde sexta-feira, quando o Banco Central deixou o câmbio flutuar livremente. O clima de otimismo se manteve.
Desde a mudança na política cambial, as empresas brasileiras ficaram mais baratas para o estrangeiro, que volta lentamente ao mercado. "Qualquer derrota nas votações do Congresso, haverá pânico. É o inferno ou o paraíso", acredita Marcelo Guterman, analista do Lloyds Asset Management. "O governo tirou as rédeas da moeda e a âncora da economia; agora, é o ajuste fiscal."
A Bolsa abriu em baixa, de 3,88%, e chegou a subir 8,83%. O dia foi de oscilações bruscas, com o discurso do presidente FHC animando pouco o mercado.
Flávio Conde, analista-chefe do Lloyds Asset Management, lembra que nos países asiáticos que passaram por processos de desvalorização cambial semelhantes ao do Brasil, enquanto a moeda local perdia valor a Bolsa caía. Os mercados de ações só se recuperaram quando as moedas voltaram a se valorizar.



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