São Paulo, terça, 19 de janeiro de 1999

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RUMOS DO REAL
Presidente cobra esforço para ajuste fiscal e diz que poder de compra dos salários será "menina dos olhos"
Inflação não pode retornar, afirma FHC

AUGUSTO GAZIR
Enviado especial ao Paraná


O presidente Fernando Henrique Cardoso manifestou ontem preocupação com a volta da inflação e disse que espera o "ressurgimento" do Plano Real.
"Se antes estávamos todos de olhos fixos para ver até que ponto as reservas se esvaíam ou não, se o capital especulativo ajudaria ou não, daqui para a frente temos de estar de olhos fixos para impedir que se aproveitem do momento para aumentar preços desnecessariamente. Nós não vamos deixar que haja carestia neste país", afirmou o presidente.
O presidente inaugurou ontem a fábrica da Volkswagen/Audi em São José dos Pinhais (Grande Curitiba).
Ele usou o ato para expressar confiança no país e cobrar responsabilidade no momento de crise, depois da desvalorização cambial.
Durante discurso de 12 minutos, cobrou o ajuste fiscal do Congresso e a austeridade dos Estados. Reafirmou que o Brasil só se "libertará" dos juros altos quando acertar as contas públicas.
"Não há mais desculpa, não adianta olhar para fora. Agora é aqui dentro. Agora é o Congresso, é o governo federal, são os governos estaduais. É a nossa competência em manter uma linha de austeridade com esperança, firmeza."
"Não gosto de ser criador de ilusões. Seria falso e não renderia efeito positivo deixar de dizer que o momento requer consciência do nosso dever, responsabilidade e noção de que teremos de ser austeros no manejo da vida pública."
O governador pefelista Jaime Lerner (PR) também bateu na tecla da confiança e prometeu apoio integral dos governadores a FHC.
Diante dos executivos alemães da Volks, o presidente afirmou que, para o Brasil exportar mais, a União Européia tem de derrubar suas barreiras protecionistas.
Em recado para os empresários do ABC paulista, FHC pediu a valorização do trabalhador. Segundo ele, antes de demitir, as indústrias devem discutir e negociar.
No final, o presidente agradeceu em alemão: "Danke schön. Auf wiedersehen (Muito obrigado. Até logo)".
Sob aplausos, FHC se dirigiu para a beira da tribuna onde discursava e deixou-se fotografar sorrindo e fazendo com o polegar o sinal de positivo.
A seguir, os principais trechos do discurso do presidente:

MENINA DOS OLHOS - FHC afirmou que o poder de compra do salário do trabalhador será "a menina dos olhos" da política econômica. "Que não se iludam os incautos que queiram se precipitar e tirar vantagens à custa do povo", disse. O presidente afirmou ter experiência em combater a inflação.

RESSURGIMENTO - O presidente citou entrevista do economista Edmar Bacha, um dos formuladores do Real, publicada no último final de semana pelo jornal "O Estado de S.Paulo". "Ele (Bacha) disse que podemos estar marcando o ressurgimento do Real. Tomara que seja assim. Tomara que as dificuldades que estamos enfrentando permitam abrir novos espaços para o desenvolvimento econômico, gerar mais empregos. Tudo vai depender de decisões que são nossas."

UNIÃO EUROPÉIA - FHC pediu a ajuda da Alemanha, que vai presidir a União Européia nos próximos meses, para derrubar as barreiras contra os produtos agrícolas brasileiros. "Mais do que nunca, o Brasil precisa exportar." O presidente disse que está orgulhoso do Mercosul.

DESEMPREGO - FHC pediu aos industriais que, antes de demitir, pensem no trabalhador e no Brasil e negociem soluções. Ele marcou um encontro com Luiz Marinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, presente também no ato. A data não foi marcada.



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