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São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 2003

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CURTO-CIRCUITO

Distribuidora, inadimplente com o BNDES, pode ser federalizada; Alckmin diz que pode administrar empresa

SP e Eletrobrás já disputam Eletropaulo

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
PEDRO SOARES
CHICO SANTOS

DA SUCURSAL DO RIO

O governo do Estado de São Paulo e a Eletrobrás já disputam a gestão da Eletropaulo, caso o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) execute a dívida de US$ 1,2 bilhão que a AES Corporation, controladora da empresa, tem com o banco.
Uma das saídas em estudo pelo governo para a crise da Eletropaulo é a federalização da distribuidora de energia, que ficaria sob a administração da estatal Eletrobrás. A solução será adotada caso um acordo sobre a dívida com o BNDES não seja fechado.
"Não há uma intenção do governo de retomar a empresa, mas é uma alternativa que se coloca, já que a empresa [a AES, controladora da Eletropaulo" não paga [o que deve ao BNDES"", afirmou o presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa.
A AES não quitou no final de janeiro uma parcela de US$ 85 milhões da dívida contraída com o banco na época da privatização da distribuidora, em 1997. Pelo contrato, a garantia do empréstimo é a própria Eletropaulo.
Ontem, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o secretário de Recursos Hídricos, Saneamento e Obras do Estado, Mauro Arce, disseram em entrevista ao "Bom Dia São Paulo", da TV Globo, que o Estado não tem como recomprar a Eletropaulo, mas pode administrá-la.
A AES, por intermédio de sua assessoria, informou que não iria comentar as declarações do presidente da Eletrobrás e do governo paulista. Afirmou, porém, que a empresa já investiu US$ 4 bilhões no Brasil, quitou quase a metade da dívida -US$ 940 milhões- com o BNDES e tem o compromisso de permanecer no país.
Na opinião de James Correia, sócio-diretor da DZ Negócios em Energia, "a melhor solução para a crise da Eletropaulo seria o BNDES executar a dívida, assumir o controle da empresa, contratar uma gestão profissional no mercado e, depois, revendê-la".
Nas condições atuais, segundo ele, a Eletropaulo não encontrará comprador no mercado. "Mas, se o BNDES reestruturar a dívida, a empresa fica interessante, pois terá capacidade de se recuperar."
O que indica a capacidade de recuperação da empresa é sua geração de caixa. Segundo projeção do Unibanco, a Eletropaulo deverá obter receitas no valor de R$ 1,333 bilhão neste ano e de R$ 1,544 bilhão em 2004. "A empresa tem potencial de crescimento, é isso que a torna solvente e um bom negócio, uma vez equacionada a dívida com o BNDES", diz Sérgio Tamashiro, do Unibanco.
Correia, que foi autor do plano de racionamento de energia, considera que "a pior coisa que poderia acontecer é a Eletropaulo voltar a ser administrada pelo governo paulista. Haveria interferência política na gestão, e aí é que a empresa não se recupera mais".
Segundo Correia, "se alguém for retomar a empresa, deve ser o governo federal, já que o BNDES é um banco federal". Ele também descarta a possibilidade de o banco administrar a empresa.
"Foi o BNDES que induziu a Eletropaulo a essa situação, ao estimular o pagamento de ágio -por meio de endividamento- na privatização", diz Correia. O objetivo do banco, então, era obter a maior receita possível para quitar dívidas do governo, afirma.


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