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São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 2003

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Pio Borges diz que críticas à venda da Eletropaulo são "idiotice"

Ex-BNDES defende negócio com AES

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) José Pio Borges, 55, que atuou diretamente na privatização da Eletropaulo, em 1998, quando era vice-presidente da instituições, considerou "uma idiotice" as críticas de Carlos Lessa, presidente do BNDES, e de Luiz Pinguelli Rosa, presidente da Eletrobrás, à venda da empresa para a norte-americana AES. De acordo com ele, o BNDES ganhou com o negócio. "O negócio foi péssimo para a AES", afirma.
Pio Borges, que atua hoje como assessor da AES na negociação com o BNDES, revela que a empresa admite devolver parte da Eletropaulo, como parte do pagamento da dívida. Leia a seguir entrevista concedida à Folha.

Folha - O que o senhor achou das críticas de Carlos Lessa (BNDES) e de Pinguelli Rosa (Eletrobrás) à venda da Eletropaulo?
Pio Borges -
A AES comprou as ações da Eletropaulo por US$ 1,1 bilhão, pagou US$ 600 milhões pelo negócio e, hoje, os papéis da empresa valem US$ 150 milhões na Bolsa.
Além disso, ainda tem uma dívida de US$ 600 milhões com o BNDES. Se a Eletropaulo não tivesse sido vendida, o BNDES teria apenas US$ 150 milhões, que é o valor das ações da empresa. Portanto é uma idiotice dizer, seja quem for que tenha dito, que a venda ou a gestão da Eletropaulo foram temerárias.

Folha - Apesar do "default", foi um bom negócio para o BNDES a venda da Eletropaulo para a AES?
Pio Borges -
Claro que sim. Se formos levar em conta o pior cenário, o BNDES terá recebido US$ 750 milhões, que correspondem aos US$ 600 milhões que já recebeu da AES pelo negócio, e mais os US$ 150 milhões das ações que têm em garantia. Só isso já justifica o negócio para o BNDES. O negócio foi péssimo para a AES. Para ela, sim, foi um desastre.

Folha - A AES pretende devolver a Eletropaulo ao BNDES?
Pio Borges -
A AES está propondo ao BNDES a entrega de alguns ativos como parte do pagamento da dívida. Entre os quais, a AES Sul e a usina de Uruguaiana. O único ativo que a AES não está disposta a entregar é a AES Tietê. Há também uma hipótese de entregar Uruguaiana e até 50% da Eletropaulo para se tentar um novo sócio.
É claro que a AES se dispõe a entregar esses ativos desde que a valores justos, calculados e auditados por empresas independentes. A AES quer buscar uma solução amigável para o problema.

Folha - Como explicar o fato de a AES, apesar de atrasar o pagamento ao BNDES, ter remetido dividendos para a matriz?
Pio Borges -
Trata-se de outra idiotice. Os dividendos foram remetidos para o exterior em 1999 e 2000, portanto antes da crise do racionamento, e foram no valor de US$ 217 milhões. Nesse mesmo período, a empresa trouxe de capital US$ 940 milhões em investimentos, além dos US$ 600 milhões que pagou pela compra da Eletropaulo.
A AES aplicou no Brasil, nos vários negócios que fez, US$ 6 bilhões, dos quais US$ 4 bilhões em capital próprio e US$ 2 bilhões em empréstimos. A acusação de que a AES não investiu no país é outra imbecilidade.

Folha - A Eletropaulo pode ser considerada, agora, um bom negócio?
Pio Borges -
A Eletropaulo, que é a empresa concessionária de energia de São Paulo, não tem problemas. O problema financeiro é da AES Elpa, a holding que detém as ações ordinárias da Eletropaulo. A Eletropaulo melhorou seus índices de produtividade, tanto que atingiu todos os níveis de qualidade exigidos pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).
Quem está inadimplente com o BNDES não é a Eletropaulo, e sim a AES Elpa. Por isso, essa idéia de cassar a concessão da Eletropaulo é descabida, já que não é a Eletropaulo que está inadimplente.

Folha - Uma outra crítica de Pinguelli é exatamente o fato de as controladoras terem criado empresas específicas para tomar o empréstimo do BNDES, o que dificulta a cobrança.
Pio Borges -
Trata-se de uma prática normal por parte das empresas americanas. As européias não fazem isso. Nos 33 países nos quais a AES atua, ela criou veículos próprios para cada um de seus investimentos.
A AES, apesar de não ter criado uma AES Brasil, está disposta a ceder ativos para pagar a dívida com o BNDES.


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