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Pio Borges diz que críticas à venda da Eletropaulo são "idiotice"
Ex-BNDES defende negócio com AES
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O ex-presidente do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) José
Pio Borges, 55, que atuou diretamente na privatização da Eletropaulo, em 1998, quando era vice-presidente da instituições, considerou "uma idiotice" as críticas
de Carlos Lessa, presidente do
BNDES, e de Luiz Pinguelli Rosa,
presidente da Eletrobrás, à venda
da empresa para a norte-americana AES. De acordo com ele, o
BNDES ganhou com o negócio.
"O negócio foi péssimo para a
AES", afirma.
Pio Borges, que atua hoje como
assessor da AES na negociação
com o BNDES, revela que a empresa admite devolver parte da
Eletropaulo, como parte do pagamento da dívida. Leia a seguir entrevista concedida à Folha.
Folha - O que o senhor achou das
críticas de Carlos Lessa (BNDES) e
de Pinguelli Rosa (Eletrobrás) à
venda da Eletropaulo?
Pio Borges - A AES comprou as
ações da Eletropaulo por US$ 1,1
bilhão, pagou US$ 600 milhões
pelo negócio e, hoje, os papéis da
empresa valem US$ 150 milhões
na Bolsa.
Além disso, ainda tem uma dívida de US$ 600 milhões com o
BNDES. Se a Eletropaulo não tivesse sido vendida, o BNDES teria
apenas US$ 150 milhões, que é o
valor das ações da empresa. Portanto é uma idiotice dizer, seja
quem for que tenha dito, que a
venda ou a gestão da Eletropaulo
foram temerárias.
Folha - Apesar do "default", foi
um bom negócio para o BNDES a
venda da Eletropaulo para a AES?
Pio Borges - Claro que sim. Se
formos levar em conta o pior cenário, o BNDES terá recebido US$
750 milhões, que correspondem
aos US$ 600 milhões que já recebeu da AES pelo negócio, e mais
os US$ 150 milhões das ações que
têm em garantia. Só isso já justifica o negócio para o BNDES. O negócio foi péssimo para a AES. Para ela, sim, foi um desastre.
Folha - A AES pretende devolver a
Eletropaulo ao BNDES?
Pio Borges - A AES está propondo ao BNDES a entrega de alguns
ativos como parte do pagamento
da dívida. Entre os quais, a AES
Sul e a usina de Uruguaiana. O
único ativo que a AES não está
disposta a entregar é a AES Tietê.
Há também uma hipótese de entregar Uruguaiana e até 50% da
Eletropaulo para se tentar um novo sócio.
É claro que a AES se dispõe a entregar esses ativos desde que a valores justos, calculados e auditados por empresas independentes.
A AES quer buscar uma solução
amigável para o problema.
Folha - Como explicar o fato de a
AES, apesar de atrasar o pagamento ao BNDES, ter remetido dividendos para a matriz?
Pio Borges - Trata-se de outra
idiotice. Os dividendos foram remetidos para o exterior em 1999 e
2000, portanto antes da crise do
racionamento, e foram no valor
de US$ 217 milhões. Nesse mesmo período, a empresa trouxe de
capital US$ 940 milhões em investimentos, além dos US$ 600 milhões que pagou pela compra da
Eletropaulo.
A AES aplicou no Brasil, nos vários negócios que fez, US$ 6 bilhões, dos quais US$ 4 bilhões em
capital próprio e US$ 2 bilhões em
empréstimos. A acusação de que
a AES não investiu no país é outra
imbecilidade.
Folha - A Eletropaulo pode ser
considerada, agora, um bom negócio?
Pio Borges - A Eletropaulo, que é
a empresa concessionária de
energia de São Paulo, não tem
problemas. O problema financeiro é da AES Elpa, a holding que
detém as ações ordinárias da Eletropaulo. A Eletropaulo melhorou seus índices de produtividade, tanto que atingiu todos os níveis de qualidade exigidos pela
Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).
Quem está inadimplente com o
BNDES não é a Eletropaulo, e sim
a AES Elpa. Por isso, essa idéia de
cassar a concessão da Eletropaulo
é descabida, já que não é a Eletropaulo que está inadimplente.
Folha - Uma outra crítica de Pinguelli é exatamente o fato de as
controladoras terem criado empresas específicas para tomar o empréstimo do BNDES, o que dificulta
a cobrança.
Pio Borges - Trata-se de uma
prática normal por parte das empresas americanas. As européias
não fazem isso. Nos 33 países nos
quais a AES atua, ela criou veículos próprios para cada um de seus
investimentos.
A AES, apesar de não ter criado
uma AES Brasil, está disposta a
ceder ativos para pagar a dívida
com o BNDES.
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