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São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 2003

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LUÍS NASSIF

O mapa do buraco externo

Em meados de 1996, o Departamento de Economia do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) produziu trabalho relevante em que alertava para os problemas futuros nas contas externas brasileiras, com o Investimento Direto Externo (IDE) concentrado quase exclusivamente em setores de não-comercializáveis (sem comércio internacional). O trabalho ficou como mais um alerta perdido no ar.
Agora, a pesquisa "O Investimento Estrangeiro na Economia Brasileira e o Investimento de Empresas Brasileiras no Exterior", do Iedi (Instituto de Estudos de Desenvolvimento Industrial), procede a um inventário das imprudências do período.
O trabalho tomou como base o Censo de Capitais Estrangeiros de 2000. A conclusão principal é que maiores gastos com juros, remessa de lucros e pagamento de royalties fizeram a empresa com participação majoritária de capital estrangeiro ser a principal responsável pelo déficit em transações correntes do país -61% do déficit em 2000, ante 31,8% em 1995, e por 66,9% do aumento da dívida externa no período.
O trabalho dividiu as empresas com participação estrangeira em quatro blocos.
1) No primeiro grupo, setores com propensão a exportar (relação entre exportações e receita operacional líquida) acima da média e propensão a importar abaixo da média. Nesse grupo, predominam setores primários ou industriais que utilizam intensamente recursos naturais e contribuem fortemente para a geração de saldos comerciais positivos. Em 2000, o superávit do grupo foi de US$ 10 bilhões.
2) O segundo grupo é o de setores deficitários, com propensão a exportar abaixo da média e propensão a importar acima da média. Na maior parte são setores industriais demandantes de insumos importados, como químico, material eletrônico e de comunicações e equipamentos de informática. Em 2000, respondeu por US$ 8,1 bilhões de déficit comercial.
3) O terceiro grupo é de setores com baixos volumes de exportação e importação. A propensão a exportar é de 3,3% e a de importar é de 5%. Em geral são setores de serviço, tipicamente não-comercializáveis. Em 2000 o grupo foi deficitário em US$ 1,6 bilhão.
4) O quarto grupo reuniu setores com maior grau de integração com o comércio exterior, tanto na exportação quanto na importação. Em sua maioria, são setores industriais. Em 2000, o grupo gerou saldo comercial de US$ 1,5 bilhão.
De todo o IDE acumulado entre 1996 e 2000, 60,2% foram direcionados para o grupo 3 (setores de baixo comércio), que participa em 9,1% no total das exportações das empresas estrangeiras e de 14,7% no total das importações. Do total do fluxo do IDE, 26,2% foram para o grupo 2 (setores deficitários), que responde por 41,9% das importações e por apenas 15,1% das exportações. O grupo 1 (setores de exportação) recebeu apenas 6,9% do IDE acumulado do período. Esse grupo participa com 38,8% do total exportado e 9,2% das importações de empresas estrangeiras.
No total, 87% dos US$ 125 bilhões de IDE foram para setores altamente deficitários ou com baixa expressão direta no comércio exterior. E apenas 13% para setores de maior corrente de comércio ou superavitários.

E-mail - lnassif@uol.com.br


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