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São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 2003

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REVISÃO DO ACORDO

Berzoini vê atitude arrogante nos integrantes da missão

Ministro da Previdência se recusa a receber o FMI

Alan Marques/Folha Imagem
A ministra da Assistência e Promoção Social, Benedita da Silva, recebe membros da missão do Fundo Monetário Internacional


LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Previdência Social, Ricardo Berzoini, se recusa a receber a missão do FMI (Fundo Monetário Internacional) que está no Brasil para a segunda revisão do acordo assinado com o país no ano passado, conforme apurou a Folha.
O ministro não se deu nem sequer ao trabalho de responder ao pedido de audiência do Fundo solicitado por fax pelo secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, escalado pelo ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) para coordenar as negociações pelo lado brasileiro.
Berzoini tem dito a assessores que o governo considerou arrogante a postura dos técnicos do Fundo. Diz que outros membros do governo que estiveram com os técnicos reclamam que eles agem como se ainda estivessem tratando com o governo anterior.
Além desse aspecto, o ministro não quer receber a missão por três outros motivos. Em primeiro lugar, porque diz que os interlocutores oficiais do governo para tratar com o FMI são Palocci e Levy.
Segundo, por considerar que a reforma da Previdência Social é uma questão a ser tratada entre o governo e a sociedade. Portanto, é um tema que não cabe discutir com técnicos do FMI e, muito menos, incluir no termo do acordo com a instituição.
O ministro entende o FMI não tem prioridade nenhuma para receber informações sobre o andamento da reforma. Segundo ele, os integrantes do Fundo acompanharão os passos do governo nessa área pelos canais convencionais, como pela imprensa.

Dados públicos
Na avaliação de Berzoini, se os técnicos quiserem informações sobre a saúde da Previdência no país que recorram à página do ministério na internet, pois os dados são públicos.
O fax com o pedido de audiência foi encaminhado pelo chefe de gabinete do secretário Levy, Paulo Márcio Neves Rodrigues, no último dia 6. Solicitava um encontro com o ministro hoje, às 17h.
O documento informava que participariam da reunião o chefe da missão no país, o argentino Jorge Marquez-Ruarte, o ex-chefe da missão no país Lorenzo Perez e os demais técnicos. No fax, os temas do encontro já estavam definidos: "Finanças da Previdência e Reformas Futuras".
Para não causar maiores transtornos ao governo, Berzoini vai alegar falta de tempo na agenda para receber a missão do FMI.
Apesar da posição de Berzoini, vários outros integrantes do governo estiveram nos últimos dias com os técnicos da missão. Ontem eles foram recebidos pelos ministros Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), Dilma Rousseff (Minas e Energia) e Benedita da Silva (Assistência e Promoção Social). Também já estiveram com Palocci e Guido Mantega (Planejamento).
Os técnicos da missão estão no país para a segunda revisão do acordo fechado no ano passado, pelo qual foi garantido ao Brasil empréstimo de US$ 30 bilhões. É primeira missão do Fundo sob o gestão do governo Lula.
Se a revisão for aprovada, o país poderá sacar no mês que vem a terceira parcela do empréstimo, no valor de US$ 4,22 bilhões. A missão fica em Brasília até a terça-feira da semana que vem.

Inflação
Ontem, após reunião com a ministra Benedita da Silva, Ruarte disse que o nível da inflação no país é uma ameaça e que é preciso contê-la. Ressaltou, no entanto, que o BC tem tratado de combatê-la mantendo um clima de confiança no mercado financeiro, tomando medidas para que as instituições acreditem que o nível de preços vai se manter baixo.
Ruarte disse que ainda é cedo para avaliar a gestão Lula, mas afirmou que os objetivos do governo são corretos e que merecem o apoio do FMI.


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