|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FINANCIAMENTO
Queda na comparação com mesmo mês do ano passado mostra menor interesse do empresário em investir
Consultas ao BNDES caem 42% em janeiro
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
Se depender do desempenho de
janeiro, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) terá muitas dificuldades para gastar todo o seu megaorçamento, de R$ 47,3 bilhões,
previsto para este ano.
Em janeiro, as consultas para
investimento ao BNDES somaram R$ 1,46 bilhão, o que significa
uma queda de 42% em relação ao
mesmo mês de 2003, primeiro
mês do governo Lula. Já em relação ao mês anterior, as consultas
despencaram 61%.
Os desembolsos do BNDES em
janeiro somaram R$ 2,1 bilhões, o
que representa um crescimento
de 30% em relação ao mesmo mês
do ano passado. Em comparação
a dezembro passado, os desembolsos caíram 56,25%.
O indicador das consultas ao
BNDES é um dos melhores termômetros para medir a intenção
de investimentos na economia.
"A recuperação da economia deu
uma meia trava em janeiro", diz o
economista Júlio Sérgio Gomes
de Almeida, do Iedi (Instituto de
Estudos para Desenvolvimento
Industrial).
Para Gomes de Almeida, o número de consultas do BNDES indica que o empresário não está
apostando todas as suas fichas na
recuperação da economia neste
ano, apesar de todas as previsões
otimistas de aquecimento.
O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro Neto, diz que há
muitas incertezas, hoje, na economia, o que faz com que o empresário adie a decisão de investimento. Entre essas incertezas, ele
destaca as preocupações com a
questão do marco regulatório no
setor de energia e as inseguranças
do setor privado com relação ao
projeto da PPP (Parceria Público-Privada). "O grande problema é
que a atual taxa de investimento
não garante o crescimento sustentável da economia", diz Monteiro Neto.
Para o presidente da CNI, a ducha de água fria foi mesmo a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de interromper o
processo de queda dos juros.
"Com essa taxa de juros, o empresário vai preferir postergar suas
decisões de investir", afirma.
O fato de as consultas ao
BNDES terem sido muito baixas
em janeiro não significa, no entanto, que o processo de recuperação da economia tenha parado
no início do ano. Segundo Monteiro, houve uma melhora da atividade industrial, mas num nível
ainda muito baixo.
O Iedi prevê um crescimento da
produção industrial em janeiro de
0,8% em relação ao mesmo mês
do ano passado e de 0,5% em fevereiro. Para esse cálculo, o Iedi
levou em conta o crescimento de
4,3% da indústria de papelão ondulado em janeiro, o de 9% da automobilística e o de 5,4% do aço.
De acordo com Júlio Sérgio Gomes de Almeida, o grande gargalo
da indústria ainda é o setor de
bens não-duráveis (alimentos, remédios, móveis e vestuário), que
continua em queda livre. A previsão do economista é que o setor
tenha caído entre 4% e 5% em janeiro. Em 2003, o setor de não-duráveis caiu 5,5%.
Segundo Gomes de Almeida, o
fraco desempenho do setor de
não-duráveis, assim como das intenções de novos investimentos,
se deve principalmente à queda
da renda no Brasil. No ano passado, a renda caiu 12,6%, de acordo
com o IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística).
O outro estímulo para o investimento seria o crédito bancário.
Nesse caso, o problema são os juros altos.
Texto Anterior: Cartel: Polícia investiga 4 empresas de gás Próximo Texto: Panorâmica - Montadoras: Lucro da Volkswagen cai 58% em 2003 com euro valorizado e vendas fracas Índice
|