São Paulo, quinta-feira, 19 de fevereiro de 2004

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FINANCIAMENTO

Queda na comparação com mesmo mês do ano passado mostra menor interesse do empresário em investir

Consultas ao BNDES caem 42% em janeiro

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

Se depender do desempenho de janeiro, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) terá muitas dificuldades para gastar todo o seu megaorçamento, de R$ 47,3 bilhões, previsto para este ano.
Em janeiro, as consultas para investimento ao BNDES somaram R$ 1,46 bilhão, o que significa uma queda de 42% em relação ao mesmo mês de 2003, primeiro mês do governo Lula. Já em relação ao mês anterior, as consultas despencaram 61%.
Os desembolsos do BNDES em janeiro somaram R$ 2,1 bilhões, o que representa um crescimento de 30% em relação ao mesmo mês do ano passado. Em comparação a dezembro passado, os desembolsos caíram 56,25%.
O indicador das consultas ao BNDES é um dos melhores termômetros para medir a intenção de investimentos na economia. "A recuperação da economia deu uma meia trava em janeiro", diz o economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, do Iedi (Instituto de Estudos para Desenvolvimento Industrial).
Para Gomes de Almeida, o número de consultas do BNDES indica que o empresário não está apostando todas as suas fichas na recuperação da economia neste ano, apesar de todas as previsões otimistas de aquecimento.
O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro Neto, diz que há muitas incertezas, hoje, na economia, o que faz com que o empresário adie a decisão de investimento. Entre essas incertezas, ele destaca as preocupações com a questão do marco regulatório no setor de energia e as inseguranças do setor privado com relação ao projeto da PPP (Parceria Público-Privada). "O grande problema é que a atual taxa de investimento não garante o crescimento sustentável da economia", diz Monteiro Neto.
Para o presidente da CNI, a ducha de água fria foi mesmo a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de interromper o processo de queda dos juros. "Com essa taxa de juros, o empresário vai preferir postergar suas decisões de investir", afirma.
O fato de as consultas ao BNDES terem sido muito baixas em janeiro não significa, no entanto, que o processo de recuperação da economia tenha parado no início do ano. Segundo Monteiro, houve uma melhora da atividade industrial, mas num nível ainda muito baixo.
O Iedi prevê um crescimento da produção industrial em janeiro de 0,8% em relação ao mesmo mês do ano passado e de 0,5% em fevereiro. Para esse cálculo, o Iedi levou em conta o crescimento de 4,3% da indústria de papelão ondulado em janeiro, o de 9% da automobilística e o de 5,4% do aço.
De acordo com Júlio Sérgio Gomes de Almeida, o grande gargalo da indústria ainda é o setor de bens não-duráveis (alimentos, remédios, móveis e vestuário), que continua em queda livre. A previsão do economista é que o setor tenha caído entre 4% e 5% em janeiro. Em 2003, o setor de não-duráveis caiu 5,5%.
Segundo Gomes de Almeida, o fraco desempenho do setor de não-duráveis, assim como das intenções de novos investimentos, se deve principalmente à queda da renda no Brasil. No ano passado, a renda caiu 12,6%, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O outro estímulo para o investimento seria o crédito bancário. Nesse caso, o problema são os juros altos.


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