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Turbulência econômica mundial e conflito entre EUA e Iraque levam estatal a desistir do negócio
Petrobras desiste de refinaria nos EUA
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O cenário turbulento da economia mundial, agravado pela iminente guerra no Iraque, fez com
que a Petrobras desistisse de um
dos seus principais projetos para
2003: a compra de uma refinaria
nos EUA para processar o óleo
pesado produzido no Brasil.
Sem o negócio, os investimentos da empresa no exterior sofreram corte entre US$ 700 milhões e
US$ 800 milhões neste ano, segundo o diretor da área internacional da estatal, Nestor Cerveró.
"Estamos retirando esse investimento [do plano estratégico". Era
um projeto muito grande a ser
realizado no curto prazo. Os desembolsos nos dois primeiros
anos seriam muito fortes", afirmou Cerveró, ao justificar a decisão já tomada pela diretoria da
empresa.
A compra da refinaria tinha como objetivo dar maior rentabilidade ao óleo pesado extraído da
bacia de Campos, ao vender derivados em moeda forte. Parte desse óleo é hoje exportada porque as
refinarias nacionais não são adaptadas para processá-lo.
Ao todo, a Petrobras cortará
US$ 3 bilhões em novos investimentos neste ano -o orçamento
caiu dos US$ 9 bilhões previstos
para US$ 6 bilhões.
Cerveró negou que a redução
tenha relação com o corte de gastos da União. Afirmou que foi em
decorrência da dificuldade de se
captar recursos no exterior, intensificada com o conflito entre os
EUA e o Iraque.
"A captação de recursos para a
América Latina ficou muito difícil. A crise argentina abalou muito
[a captação]. Soma-se a isso um
cenário de guerra, o que levou a
[empresa a] repensar o programa
de investimentos", disse.
Preço maior
Não é só nos novos projetos da
estatal que a guerra interfere. Cerveró espera o aumento do preço
internacional do petróleo durante
o conflito. As previsões, diz ele,
indicam que o preço do barril pode chegar a US$ 50. Ele acredita,
porém, num forte recuo após a
guerra.
Prevendo um embate curto, o
diretor estima que o óleo caia para
cerca de US$ 23 o barril depois da
guerra. Com isso, o preço médio
do ano ficaria entre US$ 27 e US$
28 o barril. Hoje, está na casa dos
US$ 35. Cerveró, de fato, crê num
conflito rápido: "Do jeito que os
americanos estão [preparados],
essa guerra dura dois dias".
Em relação ao abastecimento, o
diretor diz que não haverá problema, se a guerra for curta. De acordo com ele, não há um plano específico de contingência, pois as
importações de óleo e derivados
do Oriente Médio são pequenas.
Os maiores supridores brasileiros não estão na zona de conflito.
São Argentina, Nigéria e Venezuela, que garantem o abastecimento, segundo Cerveró.
De acordo com a ANP (Agência
Nacional do Petróleo), o consumo nacional de combustíveis foi
de 470,5 milhões de barris (ou
11,13 bilhões de litros) em 2002. A
importação, de 94 milhões de barris (ou 1,5 bilhão de litros). Ou seja, o país importa cerca de 20% do
que consome. Em petróleo bruto,
a dependência é menor: cerca de
10%, informa a Petrobras.
Os maiores problemas são com
o diesel, cujas importações representam 17% do consumo, e com o
gás de cozinha -28% do total.
Cerveró afirmou que a estatal
não tem hoje um plano B para
equacionar eventuais problemas
causados pela guerra. Disse, porém, que ele pode ser desenvolvido durante a guerra, caso ela se
mostre mais prolongada e intensa
do que se imagina.
O diretor disse ainda que as autoridades regulatórias argentinas
informaram que irão aprovar, em
no máximo um mês, a compra da
petroleira argentina Pecom (Perez Companc) pela Petrobras. A
estatal comprou a companhia no
ano passado e, segundo ele, pagou
US$ 800 milhões em dinheiro e
assumiu US$ 2 bilhões em dívidas
da atual controlada.
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