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São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2003

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Turbulência econômica mundial e conflito entre EUA e Iraque levam estatal a desistir do negócio

Petrobras desiste de refinaria nos EUA

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O cenário turbulento da economia mundial, agravado pela iminente guerra no Iraque, fez com que a Petrobras desistisse de um dos seus principais projetos para 2003: a compra de uma refinaria nos EUA para processar o óleo pesado produzido no Brasil.
Sem o negócio, os investimentos da empresa no exterior sofreram corte entre US$ 700 milhões e US$ 800 milhões neste ano, segundo o diretor da área internacional da estatal, Nestor Cerveró.
"Estamos retirando esse investimento [do plano estratégico". Era um projeto muito grande a ser realizado no curto prazo. Os desembolsos nos dois primeiros anos seriam muito fortes", afirmou Cerveró, ao justificar a decisão já tomada pela diretoria da empresa.
A compra da refinaria tinha como objetivo dar maior rentabilidade ao óleo pesado extraído da bacia de Campos, ao vender derivados em moeda forte. Parte desse óleo é hoje exportada porque as refinarias nacionais não são adaptadas para processá-lo.
Ao todo, a Petrobras cortará US$ 3 bilhões em novos investimentos neste ano -o orçamento caiu dos US$ 9 bilhões previstos para US$ 6 bilhões.
Cerveró negou que a redução tenha relação com o corte de gastos da União. Afirmou que foi em decorrência da dificuldade de se captar recursos no exterior, intensificada com o conflito entre os EUA e o Iraque.
"A captação de recursos para a América Latina ficou muito difícil. A crise argentina abalou muito [a captação]. Soma-se a isso um cenário de guerra, o que levou a [empresa a] repensar o programa de investimentos", disse.

Preço maior
Não é só nos novos projetos da estatal que a guerra interfere. Cerveró espera o aumento do preço internacional do petróleo durante o conflito. As previsões, diz ele, indicam que o preço do barril pode chegar a US$ 50. Ele acredita, porém, num forte recuo após a guerra.
Prevendo um embate curto, o diretor estima que o óleo caia para cerca de US$ 23 o barril depois da guerra. Com isso, o preço médio do ano ficaria entre US$ 27 e US$ 28 o barril. Hoje, está na casa dos US$ 35. Cerveró, de fato, crê num conflito rápido: "Do jeito que os americanos estão [preparados], essa guerra dura dois dias".
Em relação ao abastecimento, o diretor diz que não haverá problema, se a guerra for curta. De acordo com ele, não há um plano específico de contingência, pois as importações de óleo e derivados do Oriente Médio são pequenas.
Os maiores supridores brasileiros não estão na zona de conflito. São Argentina, Nigéria e Venezuela, que garantem o abastecimento, segundo Cerveró.
De acordo com a ANP (Agência Nacional do Petróleo), o consumo nacional de combustíveis foi de 470,5 milhões de barris (ou 11,13 bilhões de litros) em 2002. A importação, de 94 milhões de barris (ou 1,5 bilhão de litros). Ou seja, o país importa cerca de 20% do que consome. Em petróleo bruto, a dependência é menor: cerca de 10%, informa a Petrobras.
Os maiores problemas são com o diesel, cujas importações representam 17% do consumo, e com o gás de cozinha -28% do total.
Cerveró afirmou que a estatal não tem hoje um plano B para equacionar eventuais problemas causados pela guerra. Disse, porém, que ele pode ser desenvolvido durante a guerra, caso ela se mostre mais prolongada e intensa do que se imagina.
O diretor disse ainda que as autoridades regulatórias argentinas informaram que irão aprovar, em no máximo um mês, a compra da petroleira argentina Pecom (Perez Companc) pela Petrobras. A estatal comprou a companhia no ano passado e, segundo ele, pagou US$ 800 milhões em dinheiro e assumiu US$ 2 bilhões em dívidas da atual controlada.


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