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Empresa diz que o conflito não vai afetar abastecimento no Brasil
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O presidente da Petrobras, José
Eduardo Dutra, afirmou que o
Brasil é o país mais confortável
entre os países industrializados e
não sofrerá problemas de abastecimento de petróleo com a guerra
iminente entre os Estados Unidos
e o Iraque.
Segundo ele, o Brasil possui a
melhor situação, entre os países
industrializados. Confiante num
cenário de guerra rápida, Dutra
diz que o preço do barril de petróleo poderá cair até para US$ 22 a
US$ 23 o barril.
Folha - O Brasil irá sofrer problemas de abastecimento de petróleo
com a guerra?
José Eduardo Dutra - Da Guerra
do Golfo [em 91" até hoje, o consumo de petróleo no Brasil cresceu 40%, e a produção, 170%. Na
época, a gente importava 46% do
que consumia, e agora o consumo
está entre 10% e 12%. A nossa situação é extremamente confortável em relação a todos os países
industrializados.
Folha - De quanto é a reserva de
petróleo da Petrobras?
Dutra - A Petrobras não trabalha
com estoque estratégico, mas
com estoque operacional. O número do estoque a gente não revela. Mas o estoque operacional da
Petrobras garante o nosso consumo por mais tempo do que o estoque estratégico de muitos países.
Nós importamos só 30 mil barris
por dia do Iraque. Da Arábia Saudita, 60 mil. O resto vem da Argentina, da Argélia e da Nigéria.
Folha - E se a guerra for longa?
Dutra - É lógico que tudo isso depende de se confirmarem as previsões mais comuns para a guerra. Se a guerra se estender no tempo e no espaço, com o envolvimento de outros países, tudo pode mudar, mas o quadro não está
mostrando isso. Pelo menos do
ponto de vista do abastecimento
de petróleo, o brasileiro pode dormir tranquilo. É claro que toda
guerra tem repercussão na economia, e não sei como se comportarão os mercados.
Folha - Qual a previsão do sr. para
o preço do petróleo?
Dutra - Alguns catastrofistas falam que o petróleo pode chegar a
US$ 70 o barril. Não acredito. Até
porque uma boa parte dessa alta
recente do petróleo, que chegou a
atingir US$ 36 o barril, já embute
o efeito guerra. Tanto é que, agora, quando há uma expectativa de
que a guerra seja rápida, o preço
do petróleo está caindo.
Folha - Na hipótese de os catastrofistas acertarem, o que irá acontecer com o preço da gasolina?
Dutra - Se o preço explodir, tudo
dependerá de uma decisão do governo. Duvido muito que o governo repasse integralmente essa alta
para os preços internos. Governo
nenhum faz isso, mas isso na hipótese de estouro do preço do petróleo, que não acredito venha
acontecer. Não acredito nessa
possibilidade de o petróleo chegar
a US$ 70 o barril.
Folha - Qual sua aposta?
Dutra - Na Guerra do Golfo,
quando o Iraque invadiu o Kuait,
o preço do petróleo chegou a US$
40 o barril, mas, no dia seguinte
ao ataque dos Estados Unidos ao
Iraque, o preço do petróleo caiu
US$ 10 em um dia, e depois se
manteve estabilizado. Parece que
agora vai acontecer o mesmo. Se a
guerra for mesmo rápida, e o Iraque for administrado por um governo aliado aos Estados Unidos,
isso vai aumentar a produção do
Iraque, e a tendência natural é o
preço cair. O barril pode cair para
uma faixa entre US$ 22 e US$ 23.
Folha - Qual o cenário da Petrobras?
Dutra - A Petrobras está atenta a
todos os cenários e, do ponto de
vista do abastecimento, podemos
afirmar que não há motivo para
apreensão por parte do brasileiro,
qualquer que seja o cenário.
Folha - Há a hipótese de um plano
de racionamento para o consumo
da gasolina?
Dutra - Quem define plano de
racionamento é o governo, e não a
Petrobras, até porque uma companhia de petróleo defender o racionamento é uma contradição.
Para qualquer companhia, o ideal
é que o consumo seja o maior
possível. Essa é uma questão cuja
decisão cabe ao governo, mas isso
só iria acontecer num cenário catastrófico, de guerra prolongada.
Folha - O preço da gasolina, do
diesel e do gás de cozinha não estão defasados? Isso não afeta o caixa da empresa?
Dutra - Há uma defasagem que
diminui o caixa da Petrobras, mas
nada problemático ainda.
Folha - A Petrobras irá cortar investimentos?
Dutra - É fato que vai haver corte
de investimentos, mas não definimos quanto. O corte ocorrerá só
neste ano. Os investimentos previstos, de US$ 31 bilhões entre
2002 e 2007, serão mantidos.
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