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São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2003

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Empresa diz que o conflito não vai afetar abastecimento no Brasil

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, afirmou que o Brasil é o país mais confortável entre os países industrializados e não sofrerá problemas de abastecimento de petróleo com a guerra iminente entre os Estados Unidos e o Iraque.
Segundo ele, o Brasil possui a melhor situação, entre os países industrializados. Confiante num cenário de guerra rápida, Dutra diz que o preço do barril de petróleo poderá cair até para US$ 22 a US$ 23 o barril.

Folha - O Brasil irá sofrer problemas de abastecimento de petróleo com a guerra?
José Eduardo Dutra -
Da Guerra do Golfo [em 91" até hoje, o consumo de petróleo no Brasil cresceu 40%, e a produção, 170%. Na época, a gente importava 46% do que consumia, e agora o consumo está entre 10% e 12%. A nossa situação é extremamente confortável em relação a todos os países industrializados.

Folha - De quanto é a reserva de petróleo da Petrobras?
Dutra -
A Petrobras não trabalha com estoque estratégico, mas com estoque operacional. O número do estoque a gente não revela. Mas o estoque operacional da Petrobras garante o nosso consumo por mais tempo do que o estoque estratégico de muitos países. Nós importamos só 30 mil barris por dia do Iraque. Da Arábia Saudita, 60 mil. O resto vem da Argentina, da Argélia e da Nigéria.

Folha - E se a guerra for longa?
Dutra -
É lógico que tudo isso depende de se confirmarem as previsões mais comuns para a guerra. Se a guerra se estender no tempo e no espaço, com o envolvimento de outros países, tudo pode mudar, mas o quadro não está mostrando isso. Pelo menos do ponto de vista do abastecimento de petróleo, o brasileiro pode dormir tranquilo. É claro que toda guerra tem repercussão na economia, e não sei como se comportarão os mercados.

Folha - Qual a previsão do sr. para o preço do petróleo?
Dutra -
Alguns catastrofistas falam que o petróleo pode chegar a US$ 70 o barril. Não acredito. Até porque uma boa parte dessa alta recente do petróleo, que chegou a atingir US$ 36 o barril, já embute o efeito guerra. Tanto é que, agora, quando há uma expectativa de que a guerra seja rápida, o preço do petróleo está caindo.

Folha - Na hipótese de os catastrofistas acertarem, o que irá acontecer com o preço da gasolina?
Dutra -
Se o preço explodir, tudo dependerá de uma decisão do governo. Duvido muito que o governo repasse integralmente essa alta para os preços internos. Governo nenhum faz isso, mas isso na hipótese de estouro do preço do petróleo, que não acredito venha acontecer. Não acredito nessa possibilidade de o petróleo chegar a US$ 70 o barril.

Folha - Qual sua aposta?
Dutra -
Na Guerra do Golfo, quando o Iraque invadiu o Kuait, o preço do petróleo chegou a US$ 40 o barril, mas, no dia seguinte ao ataque dos Estados Unidos ao Iraque, o preço do petróleo caiu US$ 10 em um dia, e depois se manteve estabilizado. Parece que agora vai acontecer o mesmo. Se a guerra for mesmo rápida, e o Iraque for administrado por um governo aliado aos Estados Unidos, isso vai aumentar a produção do Iraque, e a tendência natural é o preço cair. O barril pode cair para uma faixa entre US$ 22 e US$ 23.

Folha - Qual o cenário da Petrobras?
Dutra -
A Petrobras está atenta a todos os cenários e, do ponto de vista do abastecimento, podemos afirmar que não há motivo para apreensão por parte do brasileiro, qualquer que seja o cenário.

Folha - Há a hipótese de um plano de racionamento para o consumo da gasolina?
Dutra -
Quem define plano de racionamento é o governo, e não a Petrobras, até porque uma companhia de petróleo defender o racionamento é uma contradição. Para qualquer companhia, o ideal é que o consumo seja o maior possível. Essa é uma questão cuja decisão cabe ao governo, mas isso só iria acontecer num cenário catastrófico, de guerra prolongada.

Folha - O preço da gasolina, do diesel e do gás de cozinha não estão defasados? Isso não afeta o caixa da empresa?
Dutra -
Há uma defasagem que diminui o caixa da Petrobras, mas nada problemático ainda.

Folha - A Petrobras irá cortar investimentos?
Dutra -
É fato que vai haver corte de investimentos, mas não definimos quanto. O corte ocorrerá só neste ano. Os investimentos previstos, de US$ 31 bilhões entre 2002 e 2007, serão mantidos.


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