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Governo e Bradesco irão renegociar Banco Postal
Hélio Costa reclama que contrato atual é ruim; banco diz que não teve retorno esperado
Segundo o ministro,
governo não tem lucro com
parceria, que rendeu à
União receita de R$ 628,1
milhões entre 2002 e 2006
SHEILA D'AMORIM
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois da ameaça do ministro Hélio Costa (Comunicações) de retomar o Banco Postal, governo e Bradesco começam a rediscutir a parceria firmada em 2001. Em jogo está
um investimento de cerca de
R$ 262 milhões do maior banco
privado do país num contrato
polêmico para explorar serviços bancários nas agências dos
Correios, que rendeu ao governo receita de R$ 628,1 milhões
entre 2002 e 2006.
Apesar da quantia envolvida,
o ministro afirmou que o Banco
Postal é um negócio ruim para
o governo. "Estamos apenas
pagando as despesas dessa operação. Empata. E o lucro? Fica
todo com o Bradesco", disse.
"Banco no Brasil só dá errado
se a pessoa ficar na frente da
agência com uma pá, jogando
dinheiro fora", ironiza. Apesar
da certeza de que o negócio é
rentável, ele afirma não ter
idéia do lucro gerado até agora
nem se ele já foi suficiente para
recuperar o investimento inicial feito pelo Bradesco -R$
200 milhões pagos na licitação.
"O resultado financeiro não é
contabilizado pela ECT [Correios], só pelo Bradesco."
O Bradesco informou que
não divulgaria o resultado financeiro do Banco Postal por
ser uma "informação não disponível por razão estratégica".
Na visão do Tribunal de Contas da União, a lucratividade do
Bradesco está clara, uma vez
que o banco privado concordou
em pagar, sem necessidade, um
valor a mais por um aditivo ao
contrato. "A lucratividade do
Bradesco com o Banco Postal
resta evidente no fato de ter
concordado com o pagamento
adicional de R$ 62 milhões,
ainda que não houvesse qualquer obrigação legal de fazê-lo", escrevem os técnicos que
analisaram o contrato.
Como não é uma empresa independente (o Banco Postal é,
na verdade, uma marca para
designar serviços bancários
prestados nos Correios), não há
uma contabilidade separada.
Os números obtidos pela Folha referentes às receitas que a
ECT recebe por cada operação
feita mostram apenas um lado
da equação. Por eles, é possível
notar que, quatro anos após a
sua criação, o Banco Postal vem
mudando o foco de atuação e
deixando de lado um perfil
mais social em busca de operações mais rentáveis.
O microcrédito, por exemplo, um dos carros-chefe nas
atividades do correspondente
bancário, está em franco declínio: o volume dessas operações
subiu de R$ 20,937 milhões em
2003 para R$ 183,8 milhões em
2004. Em seguida, despencou
para R$ 57 milhões, em 2005, e
apenas R$ 2 milhões em 2006.
O Bradesco afirma que o aumento da inadimplência o forçou a ser mais "seletivo".
Nesse mesmo período, os
empréstimos com taxas mais
altas, para pessoas de maior
renda, subiram de R$ 126 milhões em 2003 para R$ 654 milhões em 2005. Em 2006, o total cai para R$ 433 milhões,
mas a quantidade de operações
cresce de 505 mil para 604 mil.
Os demais números do banco
indicam crescimento exponencial: os depósitos saltaram de
R$ 852,5 milhões em 2002 para
R$ 11,7 bilhões em 2006. O
montante de transações executadas saiu de R$ 10,5 mil para
R$ 221,3 mil no período.
Os Correios levam uma fatia
desse crescimento, que aumenta a cada ano. Em 2002, foi de
R$ 8,2 milhões. No ano passado, chegou a R$ 147,8 milhões.
Para Costa, as tarifas pagas
têm de ser reavaliadas. "São as
menores taxas a serem pagas
em qualquer acordo. Essa figura de correspondente tem de
mudar. É prejuízo à empresa.
Perdemos milhões em razão de
um contrato malfeito."
Segundo especialistas do governo e do setor privado nessa
área, o volume de transações
feitas é essencial para viabilizar
o negócio de correspondente-bancário, modelo em que se baseia o Banco Postal. Em segundo, está o crédito. Isso porque,
em muitos casos, as tarifas que
o banco cobra para fazer um determinado serviço não cobre o
custo. O recebimento de faturas e fichas de compensação é
um exemplo. O banco cobra da
empresa uma taxa para emitir e
receber o boleto. Essa taxa não
é tão maior do que o valor que o
banco pagará ao correspondente-bancário que recebeu o pagamento do consumidor.
A declaração de Costa de que
iria retirar do Bradesco a gestão
do Postal deu o que falar. Um
integrante da equipe do presidente Lula chegou a dizer que o
Bradesco teria interesse na discussão, uma vez que o Postal
não gerou o retorno esperado.
O interesse do Bradesco é tanto
que o próprio presidente, Márcio Cypriano, avisou que quer
acompanhar as reuniões.
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