São Paulo, quinta-feira, 19 de março de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Desemprego no Reino Unido atinge o maior nível desde 1997

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

Saíram ontem os números sobre o mercado de trabalho no Reino Unido, compondo um cenário de devastação social e política e dando forma ao pior dos pesadelos, o do desemprego em massa.
O número de desempregados passou dos 2 milhões (2,029 milhões exatamente), ou 6,5% da força de trabalho, com o que o Reino Unido volta às cifras registradas no fim da era Margaret Thatcher, a tão amada quanto odiada rainha-mãe do ultraliberalismo. Posto de outra forma, foram destruídos todos os empregos criados nos 12 anos desde que o trabalhismo de Tony Blair e, agora, Gordon Brown está no poder.
"Esse é outro marco no retorno do desemprego em massa ao Reino Unido e vai ficar pior antes de melhorar, porque o desemprego sempre persiste mesmo depois que uma retomada da economia começa", gritou Brendan Barber, o secretário-geral da TUC (sigla para Congresso de Sindicatos, a central sindical britânica).
O grito de Barber é especialmente significativo do ponto de vista ideológico: foi no reinado de Margaret Thatcher (1979 a 1990, continuado depois por John Major até 1997) que o sindicalismo britânico se enfraqueceu dramaticamente. O desemprego, que era de 1,4 milhão quando ela assumiu, chegou a passar a marca dos 3 milhões em 1986, para só então começar a cair, mas com novos picos de alta (3 milhões de novo em 1993), até que Blair assumiu em 1997, com 2,05 milhões.
O aumento do desemprego terá repercussão na cúpula do G20, o grupo das principais economias do mundo, que se reunirá exatamente em Londres no dia 2 de abril: "É imperativo" que os líderes mundiais trabalhem juntos para estimular a economia, suplica o líder sindical britânico Barber.
Barber retoma com isso a polêmica entre a Europa e os EUA que ficou empatada na reunião do final de semana dos ministros da Fazenda e dos presidentes dos bancos centrais do G20: os norte-americanos querendo o que Barber pede de novo agora, e os europeus dizendo que já haviam feito o suficiente e era preciso esperar o efeito dos pacotes adotados.
Aliás, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, disse ontem uma frase que parece mais próxima da posição americana: "Se os países [da UE] estiverem em um posição de fazer mais, deveriam fazer mais [para estimular a economia]". Brown, por sua vez, reagiu aos números com a óbvia promessa de fazer "tudo o que puder para ajudar as pessoas a voltar ao trabalho".
A julgar pela avaliação de economistas, o "tudo" será mesmo necessário. James Knightley, do grupo ING, diz que, "combinando o dado de desemprego com a renda das pessoas se desacelerando dramaticamente, no momento em que a poupança está começando a aumentar, o panorama para gastos dos consumidores está ficando cada vez pior".
Está mesmo: a Câmara Britânica de Comércio calcula que o desemprego, no ano que vem, atingirá 3,2 milhões de pessoas, algo mais do que 10% da força de trabalho, no que seria uma definitiva volta ao pior da era Thatcher.


Texto Anterior: Presidente da AIG diz que pediu devolução de ao menos 50% dos bônus a executivos
Próximo Texto: Brinquedos: China e UE se queixam de barreiras do Brasil
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.