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Desemprego no Reino Unido atinge o maior nível desde 1997
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
Saíram ontem os números
sobre o mercado de trabalho no
Reino Unido, compondo um
cenário de devastação social e
política e dando forma ao pior
dos pesadelos, o do desemprego em massa.
O número de desempregados
passou dos 2 milhões (2,029
milhões exatamente), ou 6,5%
da força de trabalho, com o que
o Reino Unido volta às cifras registradas no fim da era Margaret Thatcher, a tão amada
quanto odiada rainha-mãe do
ultraliberalismo. Posto de outra forma, foram destruídos todos os empregos criados nos 12
anos desde que o trabalhismo
de Tony Blair e, agora, Gordon
Brown está no poder.
"Esse é outro marco no retorno do desemprego em massa ao
Reino Unido e vai ficar pior antes de melhorar, porque o desemprego sempre persiste
mesmo depois que uma retomada da economia começa",
gritou Brendan Barber, o secretário-geral da TUC (sigla para
Congresso de Sindicatos, a central sindical britânica).
O grito de Barber é especialmente significativo do ponto de
vista ideológico: foi no reinado
de Margaret Thatcher (1979 a
1990, continuado depois por
John Major até 1997) que o sindicalismo britânico se enfraqueceu dramaticamente. O desemprego, que era de 1,4 milhão quando ela assumiu, chegou a passar a marca dos 3 milhões em 1986, para só então
começar a cair, mas com novos
picos de alta (3 milhões de novo
em 1993), até que Blair assumiu
em 1997, com 2,05 milhões.
O aumento do desemprego
terá repercussão na cúpula do
G20, o grupo das principais
economias do mundo, que se
reunirá exatamente em Londres no dia 2 de abril: "É imperativo" que os líderes mundiais
trabalhem juntos para estimular a economia, suplica o líder
sindical britânico Barber.
Barber retoma com isso a polêmica entre a Europa e os EUA
que ficou empatada na reunião
do final de semana dos ministros da Fazenda e dos presidentes dos bancos centrais do G20:
os norte-americanos querendo
o que Barber pede de novo agora, e os europeus dizendo que já
haviam feito o suficiente e era
preciso esperar o efeito dos pacotes adotados.
Aliás, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, disse ontem uma
frase que parece mais próxima
da posição americana: "Se os
países [da UE] estiverem em
um posição de fazer mais, deveriam fazer mais [para estimular
a economia]". Brown, por sua
vez, reagiu aos números com a
óbvia promessa de fazer "tudo
o que puder para ajudar as pessoas a voltar ao trabalho".
A julgar pela avaliação de
economistas, o "tudo" será
mesmo necessário. James
Knightley, do grupo ING, diz
que, "combinando o dado de
desemprego com a renda das
pessoas se desacelerando dramaticamente, no momento em
que a poupança está começando a aumentar, o panorama para gastos dos consumidores está ficando cada vez pior".
Está mesmo: a Câmara Britânica de Comércio calcula que o
desemprego, no ano que vem,
atingirá 3,2 milhões de pessoas,
algo mais do que 10% da força
de trabalho, no que seria uma
definitiva volta ao pior da era
Thatcher.
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