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OPINIÃO ECONÔMICA
" Varig, Varig, ... Gate"
RODRIGO DELLA PASQUA MAROCCO
A Folha registrou o fato na
sua principal manchete do
último sábado: "Fundo da Varig
tem rombo de R$ 1,66 bi", completando com a explicação demolidora: "Com liquidação, atuais funcionários perderão tudo o que
pouparam para sua aposentadoria". O pior é que a chamada da
Folha está absolutamente correta.
Do jeito que o governo entrou para "ajudar" a Varig, a levará à ruína, arrastando milhares de pessoas (são mais de 7.000 em gozo
de benefícios e mais de 8.000 ativos, ou seja, para lá de 50 mil vítimas) que confiaram nas leis do
país e no seu sistema de previdência complementar.
Não precisaria ser assim. E ainda dá tempo de consertar. A intervenção no Aerus e, sobretudo, a
liquidação sumária dos planos de
aposentadoria da Varig são medidas extemporâneas. Havia, pelo
menos, quatro anos vínhamos
pleiteando, no órgão fiscalizador
-a SPC-, que atuasse com mais
rigor e eficácia no fundo da Varig.
Diz a lei complementar nº 109,
que regula fundos de pensão no
Brasil, no seu art. 3º: "A ação do
Estado será exercida com o objetivo de... (VI) proteger os interesses
dos participantes e assistidos dos
planos de benefícios".
A União vem descumprindo a
lei, desde que oferecemos denúncia, verbal e escrita, por mais de
uma vez, aos sucessivos ministros
da Previdência que por lá passaram, inclusive ao atual presidente
do PT, Ricardo Berzoini, quando
ocupou aquela cadeira.
O silêncio foi sempre a resposta
oficial. Torna-se, portanto, insuportável e inaceitável que o governo venha, tardiamente, despertar
do seu longo e distraído sono, para "prender e arrebentar" as poupanças duramente amealhadas,
por profissionais aposentados,
cujas famílias serão levadas ao desespero quando receberem seu
último cheque do Aerus, em suas
casas, com uma cartinha de "Acabou!".
Mais graves são os contornos
políticos suspeitíssimos do caso.
Como se sabe, os credores da Varig -trabalhadores (52%), empresas do governo (18%), arrendadores de aviões e turbinas
(20%) e outros (10%)- aprovaram um plano de recuperação judicial para a empresa em 19 de dezembro último.
Antes que o gestor interino do
plano pudesse respirar duas vezes, uma estatal, BR Distribuidora
-credora pequena, mas fornecedora fundamental-, sacou cerca
de US$ 30 milhões do caixa da Varig, ao cortar-lhe seu contrato rotativo de crédito para pagamento
de combustível. Isso aconteceu
em 13 de janeiro, a menos de 30
dias da aprovação do plano, que
ela mesma, BR, havia apoiado. Ali
começaram as penúrias da Varig
pós-plano.
Prevendo o pior, o Sindicato
Nacional dos Aeronautas e as associações de empregados ingressaram nos últimos dias na Justiça
do Trabalho, que lhes concedeu
uma proteção liminar para tocar
o plano de recuperação, ao segregar ativos (e passivos) operacionais, suficientes para fazer rodar a
empresa, atender nossos clientes
e recuperar a frota que está no
chão (21 aeronaves sem peças)
por meio de investimentos -no
valor de US$ 100 milhões- a serem sacados pelos próprios funcionários de suas poupanças no
Aerus.
O governo não deixou. A "longa
manus" do governo, a SPC, interveio no fundo para impedir a seqüência ordenada de resgate e investimento.
A leitura é clara: o governo não
quer a Varig viva. Como afirmou
o presidente Lula, logo após haver
esnobado a presença de centenas
de Variguianos clamando por
equilíbrio e justiça (não por dinheiro público) à porta do seu palácio em Brasília. Ele disse: "Não
cabe ao governo salvar empresa
falida". Mas a Varig ainda estava e
está em processo de recuperação.
Pelo menos até que o governo,
desrespeitando um plano privado
de credores, começou a antecipar
sua falência.
Tentaremos, mesmo assim,
continuar voando. De subsídios a
Varig nunca necessitou. Bem que
o governo federal poderia deixar
de fingir-se de morto, acertando
suas contas de mau devedor com
a Varig. De fato, dos R$ 8 bilhões
devidos pela Varig aos credores e
ao fisco, ela contrapõe R$ 4,5 bilhões de créditos julgados contra
o governo federal, mais R$ 1 bilhão contra diversos Estados. Só
com o saldo credor da Varig retido por Brasília já seria possível zerar o rombo do fundo de pensão
Aerus. Não fazer isso, e quebrar a
Varig, credora bilionária do governo, só elevará a conta final do
sofrido contribuinte, que nada
tem a ver com essa lambança federal.
Lambança ou "Varig-Gate"?
Rodrigo Della Pasqua Marocco, comandante da Varig, é presidente da Associação de Pilotos e diretor da Comissão Especial do Sindicato Nacional dos
Aeronautas.
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