|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BARRIL DE PÓLVORA
Preço do barril chega a passar dos US$ 72 na Bolsa de Nova York e em Londres e fecha novamente em recorde
Petróleo subirá ainda mais, dizem analistas
FÁBIO VICTOR
DE LONDRES
O preço do petróleo, que ontem
e anteontem atingiu recordes nos
mercados de Nova York e Londres, ao ultrapassar US$ 70 o barril, deve continuar em alta nas
próximas semanas e enquanto
perdure a incerteza em relação ao
futuro do Irã, segundo analistas
em energia ouvidos pela Folha.
E a ânsia dos especuladores,
afirmam, é um dos principais
combustíveis da tendência.
O barril de petróleo chegou a ser
negociado a US$ 72,64 na Bolsa de
Nova York ontem, antes de recuar
e fechar a US$ 71,35.
Já o barril do tipo Brent, negociado em Londres, também fechou em nível recorde, a
US$ 72,51, após subir 1,5%.
O Brent é um petróleo extraído
no mar do Norte, enquanto o vendido na Bolsa de Nova York é o
West Texas, produzido nos EUA.
Ambos são petróleos de excelente
qualidade e seus preços servem de
referência para outros tipos do
produto pelo mundo.
O petróleo atingiu o seu pico em
termos reais (descontados os efeitos da inflação) em 1979, quando
chegou a aproximadamente
US$ 90 (a valores de hoje).
"Quando há tensão, normalmente os especuladores tentam
aproveitar para ganhar muito dinheiro. É o que está ocorrendo.
Fundos de investimento, fundos
de pensão se movem para essa
área e se põem a comprar, jogando o preço para cima", disse Muhammad-Ali Zainy, economista e
analista de energia do CGES
(Centro de Estudos de Energia
Global, na sigla em inglês).
"Claro que a especulação contribui [para a alta dos preços], é o
que ocorre com a maioria das
commodities. Quando se percebe
que os preços apresentam tendência de alta, eles [os especuladores] investem no mercado futuro e, basicamente, apostam que
os preços vão subir para, num estágio posterior, lucrar com isso",
disse Kona Haque, analista sênior
e editora de commodities da EIU
(Economist Intelligence Unit).
Segundo ela, o quadro não vai se
alterar em 2006, já que não há
perspectiva a curto prazo de solução para o impasse geopolítico
detonado pelo objetivo incerto do
programa nuclear iraniano.
A analista diz que uma redução
da tendência só deve ocorrer, "talvez", no ano que vem. E caso
ocorra uma guerra no Irã? "Seria
desastroso. O preço do barril poderia facilmente atingir os
US$ 100", prevê.
Fatores negativos
Uma avaliação corrente entre os
experts é a de que, para além do
Irã e dos especuladores, uma reunião de fatores negativos levou a
esse cenário.
"É certo que o Irã é o maior motivo, mas há a situação cada vez
pior no Iraque, o problema da Nigéria [onde guerrilheiros têm forçado petrolíferas a reduzir a produção em cerca de 500 mil barris
por dia] e a sempre presente possibilidade de ataques terroristas
na Arábia Saudita [maior produtor mundial]", afirma Zainy, iraquiano radicado em Londres e
doutor em economia mineral pela
Colorado School of Mines.
Haque contextualiza o tamanho
da perda. "Em primeiro lugar, temos de lembrar que o Irã só virou
um assunto agora porque é um
enorme produtor de petróleo
num momento em que o mundo
precisa imensamente desse combustível, em que a demanda cresce e as reservas diminuem. Perder
o petróleo do Irã hoje significa
perder uma parte expressiva da
produção mundial", diz, aludindo à produção de 3,9 milhões de
barris por dia, dos quais 2,4 milhões são exportados.
Texto Anterior: Petrobras normaliza fornecimento de gás Próximo Texto: Frase Índice
|