São Paulo, quinta-feira, 19 de abril de 2007

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Dividido, BC cria expectativa por queda maior dos juros

Copom reduz taxa para 12,5%, mas 3 dos 7 integrantes votam por corte mais acentuado

No próximo encontro, composição do conselho do banco será diferente, após a saída de Rodrigo Azevedo, considerado conservador


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Conforme esperado pelo mercado, o Banco Central anunciou redução de 0,25 ponto percentual nos juros básicos da economia, mas deu sinais de que pode acelerar o ritmo dos cortes nos próximos meses.
Na reunião de ontem, três dos sete membros do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) votaram por uma queda maior, de 0,5 ponto percentual, mas prevaleceu a opinião da maioria, que optou por manter o conservadorismo.
"Avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu reduzir a taxa Selic para 12,5% ao ano", informou o BC, por meio de nota.
Normalmente, uma divisão nos membros do Copom indica uma mudança na condução dos juros, e em encontros posteriores a opinião da minoria costuma passar a prevalecer. O BC estava reduzindo os juros em 0,5 ponto a cada reunião até novembro de 2006, quando se adotou um ritmo mais lento.
A expectativa por uma queda maior nos juros aumenta quando se considera que, no próximo encontro, em junho, a composição do Copom será diferente, com a possível substituição do diretor de Política Monetária, Rodrigo Azevedo, pelo economista Mario Torós.
Tido como um dos mais conservadores entre os diretores do BC, Azevedo anunciou sua demissão na semana passada, alegando motivos pessoais, mas participou da reunião de ontem porque continua no cargo enquanto o Senado não aprova a substituição.
O corte da Selic de ontem foi o 15º consecutivo -a taxa vem sendo reduzida desde setembro de 2005. Desde julho de 2006, os juros estão no nível mais baixo da história, embora continuem altos quando comparados com a média mundial.
A queda de 0,25 ponto nos juros era esperada por analistas de mercado, mas muitos ressaltavam que haveria espaço para uma redução mais acentuada já na reunião de ontem.
A favor de uma queda maior dos juros está o comportamento de vários indicadores, sendo o principal deles o câmbio. Quando o Copom se reuniu em março, a moeda americana era negociada a R$ 2,11. Ontem, a cotação estava em R$ 2,03.
Os elevados juros são apontados como uma das causas da valorização do real. Quando descontada a inflação, a taxa Selic é uma das mais altas do mundo, o que atrai aplicadores estrangeiros, especialmente porque o Brasil é considerado, cada vez mais, um lugar seguro para investir -percepção que se reflete na queda do risco-país observada recentemente.
Juros altos e risco baixo atraem os investidores estrangeiros, aumentando o fluxo de capital externo para o país e, assim, valorizando o real. Mesmo os investidores do mercado financeiro nacional são estimulados a manter suas aplicações de renda fixa em vez de buscar opções de investimento no exterior, o que também ajuda a manter o dólar em queda.
Do lado da inflação, também não há grandes preocupações. O próprio BC já ressaltou, em documentos divulgados nos últimos encontros do Copom, que o cenário para os preços é "benigno" e a meta fixada pelo governo -manter a alta do IPCA em 4,5%- deve ser cumprida sem muitos problemas.
Para justificar o conservadorismo, o BC alega que ainda é incerto como a economia irá reagir aos cortes já sofridos pela taxa Selic. Desde setembro de 2005, os juros caíram 7,25 pontos percentuais, e o impacto dessa medida ainda não foi sentido por completo -estima-se que uma mudança nos juros leve até nove meses para fazer efeito por completo sobre a inflação e o nível de atividade.


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