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Dividido, BC cria expectativa por queda maior dos juros
Copom reduz taxa para 12,5%, mas 3 dos 7 integrantes votam por corte mais acentuado
No próximo encontro, composição do conselho do banco será diferente, após a saída de Rodrigo Azevedo, considerado conservador
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Conforme esperado pelo
mercado, o Banco Central
anunciou redução de 0,25 ponto percentual nos juros básicos
da economia, mas deu sinais de
que pode acelerar o ritmo dos
cortes nos próximos meses.
Na reunião de ontem, três
dos sete membros do Copom
(Comitê de Política Monetária
do BC) votaram por uma queda
maior, de 0,5 ponto percentual,
mas prevaleceu a opinião da
maioria, que optou por manter
o conservadorismo.
"Avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas
para a inflação, o Copom decidiu reduzir a taxa Selic para
12,5% ao ano", informou o BC,
por meio de nota.
Normalmente, uma divisão
nos membros do Copom indica
uma mudança na condução dos
juros, e em encontros posteriores a opinião da minoria costuma passar a prevalecer. O BC
estava reduzindo os juros em
0,5 ponto a cada reunião até
novembro de 2006, quando se
adotou um ritmo mais lento.
A expectativa por uma queda
maior nos juros aumenta quando se considera que, no próximo encontro, em junho, a composição do Copom será diferente, com a possível substituição do diretor de Política Monetária, Rodrigo Azevedo, pelo
economista Mario Torós.
Tido como um dos mais conservadores entre os diretores
do BC, Azevedo anunciou sua
demissão na semana passada,
alegando motivos pessoais,
mas participou da reunião de
ontem porque continua no cargo enquanto o Senado não
aprova a substituição.
O corte da Selic de ontem foi
o 15º consecutivo -a taxa vem
sendo reduzida desde setembro de 2005. Desde julho de
2006, os juros estão no nível
mais baixo da história, embora
continuem altos quando comparados com a média mundial.
A queda de 0,25 ponto nos juros era esperada por analistas
de mercado, mas muitos ressaltavam que haveria espaço para
uma redução mais acentuada já
na reunião de ontem.
A favor de uma queda maior
dos juros está o comportamento de vários indicadores, sendo
o principal deles o câmbio.
Quando o Copom se reuniu em
março, a moeda americana era
negociada a R$ 2,11. Ontem, a
cotação estava em R$ 2,03.
Os elevados juros são apontados como uma das causas da
valorização do real. Quando
descontada a inflação, a taxa
Selic é uma das mais altas do
mundo, o que atrai aplicadores
estrangeiros, especialmente
porque o Brasil é considerado,
cada vez mais, um lugar seguro
para investir -percepção que
se reflete na queda do risco-país observada recentemente.
Juros altos e risco baixo
atraem os investidores estrangeiros, aumentando o fluxo de
capital externo para o país e, assim, valorizando o real. Mesmo
os investidores do mercado financeiro nacional são estimulados a manter suas aplicações
de renda fixa em vez de buscar
opções de investimento no exterior, o que também ajuda a
manter o dólar em queda.
Do lado da inflação, também
não há grandes preocupações.
O próprio BC já ressaltou, em
documentos divulgados nos últimos encontros do Copom,
que o cenário para os preços é
"benigno" e a meta fixada pelo
governo -manter a alta do IPCA em 4,5%- deve ser cumprida sem muitos problemas.
Para justificar o conservadorismo, o BC alega que ainda é
incerto como a economia irá
reagir aos cortes já sofridos pela taxa Selic. Desde setembro
de 2005, os juros caíram 7,25
pontos percentuais, e o impacto dessa medida ainda não foi
sentido por completo -estima-se que uma mudança nos juros
leve até nove meses para fazer
efeito por completo sobre a inflação e o nível de atividade.
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