São Paulo, sábado, 19 de abril de 2008

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Contêineres parados no porto de Santos aumentam 140%

Ontem, havia 120 mil contêineres parados, contra 50 mil em dias de trabalho normal

Presidente da Unafisco Santos afirma que situação na semana passada estava próxima de um "colapso", mas lentidão continua

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
Terminal no porto de Santos praticamente lotado de contêineres no dia em que greve dos auditores da Receita completou um mês

PAULO DE ARAUJO
ENVIADO ESPECIAL A SANTOS

Com a greve dos auditores fiscais da Receita, os terminais do porto de Santos acumulavam ontem cerca de 120 mil contêineres parados, volume 140% maior que o registrado em dias de movimentação normal, segundo o Unafisco (Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal).
Tal volume de carga já começa a antecipar uma preocupação para quando o trabalho dos auditores fiscais -em operação padrão desde quarta-feira- voltar ao normal. Isso porque o caos no porto levaria um bom tempo até ser resolvido. "Imagine como se fosse uma represa. Quando abre, veja o que acontece", disse à Folha o presidente da Unafisco Santos, Wellington Clemente Feijó.
Para a entidade, duas semanas seria o prazo para que o escoamento alcançasse o nível padrão em Santos, um volume diário de cerca de 50 mil contêineres. Mas há quem estime que as operações no porto só poderiam ser normalizadas dois meses depois.
Parado ontem na fila para a pesagem de caminhões por mais de uma hora, o caminhoneiro autônomo Alves José Ribeiro, 47, reclamava da lentidão no fluxo provocada pelo movimento dos auditores. "Mas vai ficar pior quando voltarem [ao trabalho]. Olha para isso aí, vai precisar retirar tudo", diz, apontando para as centenas de pilhas de contêineres nos pátios.
Na vida diária do porto de Santos, os caminhoneiros dizem que perderam serviço e dinheiro com as paralisações dos auditores, que completaram um mês ontem. Acostumado a fazer seis viagens por dia, Ribeiro faz agora duas ou três. "Chego agora a perder até R$ 500 por semana", afirma.
"A gente fica sem carga para pegar e acaba perdendo mais tempo em casa", diz Fernando Esteves, também caminhoneiro autônomo.
Em assembléia ontem, os auditores ligados à Unafisco Santos rejeitaram, por 85%, as propostas apresentadas pelo governo na última terça-feira. Os auditores discordam do cronograma de reajuste estabelecido pelo Ministério do Planejamento, segundo o qual o salário-teto da categoria passaria dos atuais R$ 14 mil para R$ 19 mil até julho de 2010 -em um aumento escalonado. Eles reivindicam também a substituição da avaliação por critérios subjetivos, o que, de acordo com eles, politiza a carreira, para critérios objetivos, como tempo de serviço.
Feijó diz que a situação em Santos na semana passada estava próxima ao "colapso", com cerca de 140 mil contêineres parados, mas, "para amenizar", os 250 auditores decidiram pela operação padrão. "Agora, depende da negociação do governo", diz o presidente do Unafisco Santos, para quem a exigência dos auditores não é por "remuneração", mas, sim, por "valorização" da carreira. "Nossa carreira é fundamental ao funcionamento do Estado."

Prejuízos invisíveis
Segundo o diretor do sistema Fiesp/Ciesp em Santos, Ronaldo de Souza Forte, os "prejuízos invisíveis" são mais graves do que as perdas que já podem ser quantificadas até agora. Segundo ele, a operação padrão torna o trabalho em Santos tão lento quanto a greve. Após um mês de paralisações, diz, o país começa a arriscar sua posição no comércio internacional. "O valor em risco é muito maior do que as perdas imediatas."


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