São Paulo, domingo, 19 de abril de 2009

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Setor bancário dos Estados Unidos mostra sinais de recuperação

ERIC DASH
DO "NEW YORK TIMES"

Há apenas três meses, muitos dos maiores bancos dos Estados Unidos sobreviviam com a ajuda de medidas artificiais.
Agora, alguns mostram vislumbres de recuperação. Na quinta, o JPMorgan Chase se tornou o terceiro banco a anunciar lucros no primeiro trimestre, após o Goldman Sachs e o Wells Fargo. Os anúncios estimularam a alta nas ações financeiras iniciada já há cinco semanas, quando Citigroup e Bank of America sugeriram que o pior pode ter passado. Na sexta, o Citi reportou um lucro de US$ 1,6 bilhão em seu balanço do primeiro trimestre.
Os bancos estão desfrutando de uma nova onda de lucros gerados pelos esforços do governo para reanimar o setor. Juros baixos atraíram interessados em empréstimos hipotecários.
As atividades de investimento e de mercado estão em alta devido ao efeito dos bilhões de dólares injetados na economia.
E, antes que os resultados de um novo teste de saúde aos 19 maiores bancos do país sejam anunciados, os que conseguiram se recuperar estão tentando se libertar do dinheiro do governo o mais rápido possível.
Mas esses sinais positivos não anulam o panorama adverso: milhões de consumidores continuam a dar calote em hipotecas, empréstimos e cartões de crédito. Os prejuízos com empréstimos a empresas começam a se acumular.
A crise nos imóveis residenciais está vazando para o de imóveis comerciais: na quinta, a General Growth Properties, uma das maiores operadoras de shopping centers dos EUA, pediu concordata em um dos maiores colapsos do setor.

Prejuízos futuros
Muitos bancos estão se preparando para o próximo período chuvoso, reservando dinheiro para cobrir prejuízos. Instituições regionais e comunitárias de empréstimo, especialmente expostas à inadimplência em empréstimos empresariais e de imóveis comerciais, preservam dezenas de milhões de dólares nas reservas; grandes bancos como o JPMorgan retêm bilhões. "O momento não é exatamente brilhante", disse Michael Cavanagh, o vice-presidente de finanças do banco. "Até que os preços das casas se estabilizem e o desemprego chegue ao pico, estaremos sob pressão devido aos prejuízos em nosso balanço."
Desde que os juros se mantenham baixos e que o governo continue a oferecer assistência financeira, os bancos esperam obter lucros suficientes para atenuar o baque de pelo menos alguns desses prejuízos.
Resta saber se a lucratividade se provará sustentável caso a recessão se aprofunde.
Alguns especialistas dizem que os temores de estatização e quanto à solvência dos bancos estão recuando. "O que estamos reconhecendo agora é que eles são capazes de produzir lucros", disse Charles Peabody, analista de serviços financeiros na Portales Partners. "O próximo debate é sobre a sustentabilidade desses lucros."
Com bom motivo: o setor bancário foi beneficiado pelo relaxamento de algumas regras contábeis, o que pode resultar em lucros inflados.
As conclusões do teste oficial de desgaste dos bancos, que devem ser divulgadas em 4 de maio, podem ajudar os investidores a identificar os poucos bancos capazes de gerar lucro suficiente para absorver seus prejuízos, caso a economia piore. As conclusões podem ter pouca semelhança com os resultados dos bancos no primeiro trimestre, porque o teste de desgaste está considerando prospectivamente a situação das instituições, para os próximos dois anos. Já os balancetes trimestrais são por natureza retrospectivos.
Funcionários envolvidos com os testes de desgaste dizem que sua expectativa é que os resultados demonstrem que alguns bancos necessitem levantar capital adicional. Um importante funcionário do governo enfatizou, porém, que esses bancos não precisariam necessariamente de dinheiro novo do governo. Além de recorrer aos investidores privados, os bancos podem derivar uma grande fonte de capital da conversão de ações preferenciais hoje detidas pelo governo em ações ordinárias, como planeja o Citigroup. O Tesouro provavelmente vai permitir que os bancos divulguem os resultados de seus testes individualmente, e os funcionários dizem esperar que os bancos que necessitam de mais capital anunciem de imediato seus planos para levantá-lo.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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