São Paulo, segunda-feira, 19 de abril de 2010

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Índios querem invadir área de usina

Ação planejada para amanhã busca atrair atenção de sociedade e Congresso para debate sobre Belo Monte

Ocupação ainda deve criar embaraço ao governo, que teria de intervir para retirar indígenas do local quando obras forem iniciadas

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Homem cruza a rodovia Transamazônica, perto da cidade de Altamira, no oeste do Pará, na região onde se planeja a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte

AGNALDO BRITO
ENVIADO ESPECIAL A ALTAMIRA

Os índios da bacia do médio Xingu preparam a ocupação do Sítio Pimental, uma ilha localizada a 40 quilômetros de Altamira (Pará) e onde serão construídas a barragem principal e a casa de força auxiliar da usina hidrelétrica de Belo Monte.
Segundo a Folha apurou, a ação deve ocorrer amanhã, dia do leilão em Brasília -dois consórcios estão na disputa. Hoje, 19 de abril, é o Dia do Índio. Entidades ambientalistas apoiam o ato, pois consideram essa ação uma forma de resistência pacífica ao projeto.
A decisão indígena de levar adiante esse ato desafiador contra o governo foi tomada em reunião reservada de lideranças de várias etnias em encontro na Terra Indígena Arara da Volta Grande do Xingu, na semana passada. Os "brancos" não participaram da reunião.
A articulação para a ocupação da área prevê a mobilização de ao menos 140 indígenas ligados a pelo menos duas etnias que vivem na região, entre os quais os xikrins e os caiapós, este um dos grupos indígenas que mais se opõem à barragem. Caiapós de Mato Grosso podem engrossar o movimento.
A ocupação criará um embaraço ao governo, que, no limite, poderá ser obrigado a intervir para retirá-los das áreas quando as obras tiverem início.
A Folha apurou que há ainda uma negociação a fim de atrair outras etnias para ocupar o Sítio Pimental e outras áreas da região de Volta Grande, a mais atingida com a construção das barragens e com a operação da hidrelétrica. Jurunas da Terra Indígena Paquiçamba poderão integrar a força de ocupação, embora haja divisão na tribo.
O objetivo com a invasão de uma área não considerada terra indígena é chamar a atenção da sociedade para a mudança que representará a construção de um projeto que custa ao menos R$ 19 bilhões e levará dez anos para ficar pronto. Além de publicidade internacional com a ação, a comunidade indígena quer envolver o Congresso.
Para os indígenas, os parlamentares ignoraram, até agora, o assunto. Pela Constituição, só o Congresso pode autorizar ou negar a instalação de projetos que afetem a vida dessas comunidades. Eles alegam que não foram ouvidos pelo Legislativo e exigem a participação de uma comissão bicameral.
Os indígenas consideram-se enganados por autoridades do governo, que, por sua vez, consideraram que eles foram ouvidos durante o licenciamento.
A Folha acompanhou, em setembro passado, três audiências públicas em Brasil Novo, Vitória do Xingu e Altamira. Pintados, os índios participaram só da audiência num ginásio em Altamira. Ficaram pouco tempo e alguns líderes falaram. Escoltados pela Força Nacional de Segurança, abandonaram a audiência.
Entre as dezenas de versões de aproveitamento hidrelétrico do rio Xingu, só a última versão, que vai a leilão, segundo o Ibama, não alagará terras indígenas. Mas, ainda que o lago de 516 km 2 não afete áreas de reserva, a construção e a operação da usina podem alterar o modo de vida da população.

FOLHA ONLINE
Leia a íntegra da reportagem
www.folha.com.br/101085



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