São Paulo, segunda-feira, 19 de abril de 2010

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Ouro aposta na crise para recuperar brilho

Corretoras dividem as antigas barras de 250 gramas, customizam ouro para presentes e vendem metal pela internet

Baixa liquidez eleva em até 10% "spreads" e ágios nas transações de pequenos volumes; mercado é uma fração do que foi até 1990

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Corretoras brasileiras de metais apostam no pós-crise para atualizar as negociações de ouro, que perderam apelo no Brasil depois da inflação e da popularização de aplicações financeiras mais práticas e rentáveis.
O novo apelo do ouro surgiu com força na classe média americana abalada pela crise. Desde a quebra do Lehman Brothers (setembro de 2008), o ouro já subiu mais de 55%.
No Brasil, a negociação de ouro é sombra do mercado pujante que se estendeu até o início do governo Collor, em 1990. A ex-BM&F chegou a negociar mais de dez toneladas de ouro por dia (R$ 680 milhões em valores atuais). Hoje, gira menos de 30 contratos de barras de 250 gramas por dia, cerca de R$ 500 mil. O resultado da perda de liquidez foi a alta dos "spreads" [diferença entre cotações de compra e venda] e do ágio para transações menores.
Para combater a letargia, as corretoras dividiram as antigas barras de 250 gramas, avaliadas em R$ 17 mil cada, em tabletes de 50 gramas e 10 gramas. Quanto menor o pedaço, maior o "spread": vão de 2% a 10%.
As barras são padronizadas, certificadas e lacradas. Na maioria das vezes, o investidor nem vê o ouro; ele o mantém no banco, disponível para venda.
A Ourominas, uma das porta-vozes do novo ouro, decidiu fundir minitabletes de 1 grama no formato de cartão de crédito. Também customizou o ouro para ser dado como presente em ocasiões como nascimento, casamento, ingresso na universidade etc. A corretora fez até uma parceria com o Corinthians. As vendas são feitas pela internet e pagas por boleto.
"As pessoas tinham resistência em comprar ouro. É um investimento muito burocrático, vem com lacre, certificado... Fizemos cartões com certificado de garantia. As pessoas não guardam dólar em casa? É a mesma coisa", diz Juarez de Oliveira, diretor da Ourominas.
Na corretora Parmetal, metade dos clientes são investidores pessoa física, que utilizam a internet. "O ouro que eu negocio é investimento. Hoje, é incomum pessoas de menos de 40 anos comprarem ouro. Se permanecer esse momento de turbulência, vai aumentar a procura pelo ouro", disse Arthur Melo, da Parmetal.
Especialistas em metais preciosos como o americano Michael Maloney, autor de "Como Investir em Metais Preciosos" (ed. Elsevier), afirmam que o atual ciclo de valorização do ouro está no início. A tese é que, diante da desvalorização do dólar americano, o mundo -leia-se a China- terá de preservar seu poder de compra literalmente "estocando" commodities como ouro, petróleo, alimentos, matérias-primas etc.
Segundo a consultoria Economática, o ouro hoje está mais barato do que nos anos 80 se descontada a inflação. "O ouro anda bem no caos. É reserva cambial em qualquer local do mundo", disse Amyra El-Khalili, ex-operadora que negociava mais de duas toneladas de ouro por dia na antiga BM&F.


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