São Paulo, domingo, 19 de maio de 2002

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DÍVIDA PÚBLICA

Rolagem de dívida será menor no ano, mas em abril vencem R$ 32 bi

Novo governo encara dívida monstro em abril de 2003

SÍLVIA MUGNATTO
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A prova de fogo do relacionamento do sucessor do presidente Fernando Henrique Cardoso com o mercado está prevista para abril de 2003. O cronograma de rolagem da dívida do governo concentra nesse mês vencimentos de R$ 32 bilhões, R$ 5 bilhões deles referentes à dívida externa.
O Tesouro Nacional está esperando que o mercado se acalme para tentar recomprar parte desses títulos ainda neste ano, reduzindo a pressão sobre abril.
Segundo avaliação do Tesouro, o próximo governo terá pouco trabalho para administrar a dívida interna nos três primeiros meses de mandato. Os vencimentos são inferiores a R$ 5 bilhões por mês.
A maior preocupação no que diz respeito à dívida do governo no mercado (interna e externa) é parcela dela corrigida por moeda estrangeira: cerca de 41% do total, que alcançou R$ 755,57 bilhões. Esse percentual turva o cenário aparentemente confortável traçado pelo cronograma de vencimentos até o início de 2003.
"É sempre possível imaginar uma situação na qual esse cenário [cronograma" mude completamente. Ou seja, dólar e taxas de juros subindo", diz o secretário-adjunto do Tesouro Nacional Rubens Sardenberg. Uma amostra disso aconteceu nos últimos dias com as especulações atribuídas às eleições presidenciais e à piora do cenário econômico.

Pode piorar
A modificação do cenário macroeconômico pode dificultar a colocação de títulos com prazos mais longos, aumentando a concentração dos vencimentos.
Para o secretário do Tesouro, Eduardo Guardia, a melhor sinalização contra as especulações que atingem a cotação do dólar é a manutenção do ajuste fiscal nos próximos anos.
No total, em 2003, o governo terá de rolar cerca de R$ 149 bilhões em dívidas no mercado (interna), um total inferior ao esperado para este ano: R$ 200 bilhões. Em 2001, o governo teve de rolar R$ 297 bilhões.
Outro ponto positivo no ano que vem é que estão previstos poucos vencimentos de papéis cambiais. A maior parte da rolagem, R$ 95 bilhões, será feita para os títulos prefixados, com correção pela taxa básica de juros, a taxa Selic.

Dívida mais longa
A partir de 2004, se a conjuntura econômica permitir, os vencimentos anuais da dívida interna oscilarão entre 10% e 15% do total. Hoje, cerca de 24% dessa dívida tem que ser rolada em um ano. O prazo médio de rolagem da dívida, que hoje é de 2,9 anos, deve passar para 5 a 6 anos.
O governo tem aproveitado os momentos de "bom humor" do mercado para alongar ainda mais a dívida (o prazo de vencimento dos títulos) e reduzir a parcela da dívida interna indexada ao câmbio.
Contra o "mau humor", Sardenberg lembra que o Tesouro dispõe de cerca de R$ 60 bilhões em caixa para recomprar títulos caso o mercado comece a exigir prêmios muito altos para a rolagem dos papéis.
Existem outros R$ 40 bilhões em caixa, mas esse total serve para pagar as despesas do mês.
Em relação à dívida externa, o secretário afirma que o governo já captou US$ 4 bilhões dos US$ 5 bilhões necessários para honrar os compromissos externos. Neste ano, vencem R$ 26 bilhões em dívida externa, sendo que R$ 14 bilhões no segundo semestre. O vencimento mais pesado, R$ 4 bilhões, é justamente em outubro, mês das eleições.
Sardenberg também minimiza o peso dos vencimentos externos do setor privado, estimados em US$ 7,3 bilhões pelo mercado para o segundo semestre. Segundo ele, boa parte dos empréstimos é feito entre empresas de um mesmo grupo.
Ou seja, se houver um problema com o preço do dólar, ainda assim as empresas têm mecanismos para reduzir suas perdas. "Isso pode ser negociado para que a matriz quite a dívida da sua filial. Nesse caso, a dívida é paga mais tarde em uma conjuntura mais favorável", diz.


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