São Paulo, quarta-feira, 19 de maio de 2004

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TENSÃO PRÉ-COPOM

Turbulência financeira aumenta as taxas futuras, e o custo é repassado para as operações de crédito

Mercado ignora BC, e juro ao consumidor sobe

ADRIANA MATTOS
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A sociedade brasileira já paga mais caro em operações de crédito independentemente da decisão sobre a Selic (taxa básica) que será anunciada hoje pelo Banco Central. As turbulências nas últimas semanas fizeram com que os juros praticados em operações do mercado financeiro disparassem, levando a reboque as taxas cobradas do consumidor no varejo.
Nas operações de CDC (Crédito Direto ao Consumidor), realizadas para a venda de automóveis, por exemplo, houve elevação das taxas em abril, em relação a março: de 51,1% para 52,1% ao ano, segundo a Anefac, entidade que representa os executivos de finanças. Nas operações de crediário concluídas em abril, também subiram as taxas praticadas em lojas de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Brasília. Em média, a alta foi de 0,17%.
Há dois meses as taxas de empréstimos em financeiras e em bancos para pessoas físicas sobem. No primeiro caso, os juros passaram de 287,52% para 291,69% ao ano. No segundo, de 99,40% para 101,45% anuais.
Esse movimento é reflexo da alta dependência do comércio: como parte das lojas no país não tem capital próprio, elas precisam captar recursos no mercado financeiro para vender a prazo.
Essas taxas cobradas pelas financeiras dependem dos juros praticados em operações no mercado futuro, que, em momentos de estabilidade, seguem a Selic (hoje em 16% ao ano), determinada pelo BC.
Mas essa correlação pode ser rompida. Em períodos de otimismo, as taxas praticadas em operações de longo prazo podem cair mais rapidamente que a Selic, se as apostas são que a inflação cairá.
Já em fases de pessimismo, o mercado pode perceber riscos que pressionem a inflação e dificultem a rolagem das dívidas do governo no futuro. Com isso, as taxas de longo prazo sobem, como agora. As taxas prefixadas para 360 dias passaram de 15,2%, em janeiro, para 17,7%. E os juros ao consumidor, formados pelas taxas futuras mais um percentual referente ao risco de crédito, acompanharam o movimento.


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