São Paulo, quarta-feira, 19 de maio de 2004

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TENSÃO PRÉ-COPOM

Taxa com a inflação descontada atinge 11,3%, aponta estudo

Juro real é o mais alto desde agosto

DA REPORTAGEM LOCAL

A taxa de juros real (descontada a inflação), que influencia as decisões de investimentos privados no país, atingiu 11,3%, patamar mais elevado desde agosto de 2003. A possível persistência desse cenário poderá arranhar seriamente a já lenta recuperação econômica dos últimos meses.
Os 11,3% foram calculados pela consultoria GlobalInvest com base na taxa prefixada de juros para um período de 360 dias e nas projeções do mercado para a inflação pelos próximos 12 meses.
É uma medida usada por analistas para avaliar o desempenho futuro da economia. Isso porque investidores utilizam essa taxa de juros reais para tomar decisões.
Quando os juros reais projetados estão baixos, empresários concluem que poderão lucrar mais investindo na atividade produtiva do que aplicando no mercado financeiro a essas taxas. O contrário tende a ocorrer quando os juros futuros estão em alta.
"Esse é o custo de oportunidade de investimento levado em conta por empresários para planejar suas decisões futuras", afirma Alexandre Maia, economista-chefe da Gap Asset Management.
Atualmente, como as taxas no mercado futuro estão em alta, devido à maior percepção de risco para o país, os juros reais dispararam. Depois de cair para 8,7% em janeiro deste ano, subiram para 11,3% agora.
As conseqüências negativas para a economia desse movimento das taxas praticadas pelo mercado em operações de prazos mais longos podem ocorrer por dois caminhos complementares.
Em primeiro lugar, empresários tendem a adiar decisões de investimento. Além disso, com as taxas mais altas dos crediários, consumidores podem postergar também suas compras.
Isso, no entanto, dependerá, segundo economistas, do tempo em que as taxas de juros futuros permanecerão pressionadas.
"Se essa situação durar alguns meses, poderá ter efeitos ruins sobre a atividade econômica", afirma Marcelo Cypriano, economista do BankBoston.
Segundo Cypriano, o ideal é que a decisão do BC hoje contribua para o recuo dos juros futuros.
"Se o mercado interpretar que o BC tomou a decisão correta e que não existem grandes ameaças em relação à inflação, os juros futuros poderão cair", diz ele.
No entanto, as taxas futuras também poderão continuar sofrendo influência do mercado internacional, como vem ocorrendo nas últimas semanas. Se isso acontecer, os efeitos da decisão do BC poderão ser anulados.
De acordo com Sandra Utsumi, economista-chefe do BES Investimentos, a tendência é que os juros futuros continuem pressionados, pelo menos até junho, quando ocorrerão as reuniões do Fed (Federal Reserve, Banco Central norte-americano) e da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). A expectativa sobre juros nos Estados Unidos e a tendência dos preços do petróleo têm sido as principais causas recentes de turbulência nos mercados.
(ÉRICA FRAGA)


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