|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FÓRUM NACIONAL
Affonso Celso Pastore e Raul Velloso propõem elevar meta de superávit primário e manter Selic inalterada
Contra crise, economistas pedem mais aperto
JOSÉ ALAN DIAS
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
O Brasil enfrenta um choque
externo e, se quiser atenuar os
efeitos para a economia, deveria,
no mínimo, manter inalterada a
taxa básica de juros e promover
um aumento na meta de superávit primário ou direcionar os ganhos de receita para incrementar
o saldo da conta de superávit.
O diagnóstico, assim como o receituário a ser seguido, foi apresentado, com pequenas nuanças,
pelos economistas Affonso Celso
Pastore, professor da FGV-SP e
ex-presidente do Banco Central, e
Raul Velloso, especialista em contas públicas, ontem, no primeiro
dia de debates do 16º Fórum Nacional Econômico, no Rio.
O choque a que Pastore e Velloso se referem decorre da iminência de um aumento de juros nos
EUA, que diminuiu o fluxo de capitais para países emergentes como o Brasil, pressionando a taxa
de câmbio (e parte da dívida atrelada ao dólar). Mas também decorreria do aumento da cotação
do petróleo no mercado internacional -e por extensão da pressão para que a Petrobras "realinhe" os preços internos dos combustíveis, o que teria efeitos sobre
outro indicador, a inflação.
"Numa circunstância como esta, com choque externo, um superávit primário de 4,25% não é suficiente [para manter a relação dívida/PIB estabilizada em torno de
58%]. Quanto precisa? 4,5%, 5%,
6%... As contas podem ser as mais
variáveis", disse Pastore.
"O que se poderia fazer é pegar
parte do aumento das receitas, e
ele houve porque a carga tributária aumentou, e em vez de usar
para gastos, complementar na
meta de superávit", completou.
A preocupação se baseia no temor de que o governo, em conseqüência da deterioração do cenário externo, não consiga manter no atual nível a relação dívida/PIB
(Produto Interno Bruto), um dos
principais indicadores de vulnerabilidade da economia. O superávit primário é a economia que o
governo faz para pagar juros.
Acontece que, no primeiro trimestre, mesmo com o governo
conseguindo cumprir um superávit de 5,41% do PIB (acima da meta acordada com o FMI de 4,25%),
o máximo que pôde fazer foi impedir que a relação dívida/PIB aumentasse. Isso se deve em parte à
própria política monetária, que
praticou juros altos no ano passado para conter a inflação -os juros também têm incidência direta
sobre parte da dívida pública.
Para os dois economistas, não
há alternativa que não a rigidez
fiscal. "O governo tem emitido sinais dúbios sobre seu comprometimento com a política fiscal, como propor superávit anticíclico
[diminuir o superávit em períodos de crise e compensá-lo com
aumento em anos de maior tranqüilidade na economia], críticas
de dentro do governo ao [ministro] Palocci. Não deveria ser assim", disse o ex-presidente do BC.
Segundo ele, uma vez que sociedade e investidores se convençam
de que o compromisso com a austeridade fiscal "é mais firme que o
atual, isso reduz os prêmios de
risco [cobrados sobre os títulos
brasileiros] e as taxas de juros
mais longas, o que acelera o crescimento econômico e cria um círculo virtuoso em que a relação dívida/PIB cai mais depressa".
Mais radical, Velloso defendeu
um aumento da meta de superávit primário em um ponto percentual. "Uma meta de superávit
primário de 5,25% seria o ideal
para lidar com a crise. Não digo
cortar de uma vez, mas ao menos
sinalizar o comprometimento."
Pastore argumentou que o BC
não tem espaço para reduzir os
juros, hoje em 16%. "Se comparar
com a reunião passada, o espaço
[do BC] hoje é muito menor. Na
reunião passada, o dólar estava a
R$ 2,90 e ninguém falava em subida de preço de petróleo. A menos
que ele estejam vendo alguma
coisa que eu não estou vendo, não
há como reduzir [os juros]."
O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, que
compareceu ao evento no período da tarde (já sem a presença de
Pastore e Velloso) preferiu não
polemizar. "Minha meta de superávit é outra", disse, em referência
ao aumento das exportações.
Texto Anterior: Luís Nassif: A revanche de Woodstock Próximo Texto: Frases Índice
|