|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
A revanche de Woodstock
Por seu aspecto meio pós-Woodstock, pela natureza libertária de seus integrantes, o
software livre tende a ser visto como uma curiosidade, um movimento de sonhadores incapaz de
superar o poder financeiro das
grandes corporações. É mais que
isso.
Vamos por partes para entender por que poderá vir a ser conhecido como a maior revolução
gerencial da história.
Apenas no início dos anos 90 o
Brasil descobriu a terceirização, a
contratação de terceiros para desempenhar trabalhos não-essenciais da empresa. O início desse
processo foi o modelo japonês de
dividir as grandes corporações
em unidades de negócio para melhor avaliar o desempenho de cada parte individualmente. Com
as partes trabalhando de forma
independente, mas coordenada,
era fácil substituir um elo menos
eficiente da corrente por fornecedores externos.
Avançou-se no modelo, e informática e logística permitiram
que, nos anos 90, houvesse a implosão das cadeias produtivas
das grandes multinacionais, que
passaram a fabricar seus produtos com insumos adquiridos em
várias partes do mundo.
Ao mesmo tempo, o avanço das
modernas formas de gestão consagrava os modelos horizontalizados, com pessoas de vários departamentos interagindo em torno de um objetivo comum, sem
relações de hierarquia formais
entre elas.
A partir do exemplo italiano, o
conceito do trabalho em rede chegou às pequenas e médias empresas. O terceiro setor também se
beneficiou enormemente do modelo, quando experiências inovadoras foram encapsuladas, as
ações, padronizadas, e foram
criados indicadores e manuais,
permitindo a sua reprodução, no
modelo das franquias.
A radicalização do modelo se
deu com as comunidades de software livre, a experiência que enterrou definitivamente o fordismo, somando as sementes libertárias de Woodstock aos avanços
da engenharia de projetos para
criar uma nova civilização.
Não é um trabalho hierarquizado. Seus fundamentos são a definição de um objetivo comum
-no caso, o desenvolvimento de
um sistema operacional ou de
um aplicativo. Depois, um conjunto de protocolos e regras que
devem ser seguidos para permitir
a compatibilização dos módulos.
Cria-se a comunidade sem hierarquia, sem comando, apenas
articulando vontades. A comunidade tem acesso ao código-fonte
inicial e pode trabalhar em cima,
fazendo as implementações que
bem desejar. A coordenação é dada pela necessidade de compatibilidade e por um administrador
incumbido de analisar se cada
módulo desenvolvido pode ou
não ser agregado ao produto
principal.
Não há limites para a criatividade, demole-se o mito de que a
patente é ferramenta fundamental da inovação, junta-se o ambiente anárquico da inovação em
torno da disciplina do padrão,
democratiza-se o conhecimento,
mas de uma forma tão profissional que pode se aplicar a qualquer ramo da produção, da música às artes.
No início de junho, ocorrerá o
maior evento de software livre do
mundo, em Porto Alegre. Administradores de todos os níveis,
herdeiros de Woodstock ou engravatados de Harvard: fiquem
de olho no encontro, porque é
uma revolução irreversível rumo
ao futuro.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Opinião econômica: A hiperpotência e o "containment" pela diplomacia Próximo Texto: Fórum nacional: Contra crise, economistas pedem mais aperto Índice
|