São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2006

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CRISE NO AR

Nenhuma companhia aérea fez proposta para empréstimo-ponte, só 2 grupos financeiros e 1 de trabalhadores

Crédito do BNDES à Varig não atrai setor

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

A disputa pela Varig começou sem concorrentes do setor. Os três grupos que procuraram o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) dispostos a receber recursos do banco e capitalizar a companhia (o chamado "empréstimo-ponte") são de origem financeira ou formados por trabalhadores.
Para fontes do setor, as chances de aprovação dessas propostas são pequenas. Os funcionários representados pelo TGV (Trabalhadores do Grupo Varig) apresentaram uma das propostas. O grupo já havia afirmado que estava disposto a participar da reestruturação da companhia aérea.
Durante a última assembléia de credores, Marcio Marsillac, coordenador do TGV, informou que o grupo tentaria adquirir uma participação minoritária na Varig por meio de um consórcio a fim de capitalizar a companhia. O TGV já tinha procurado o BNDES em iniciativas anteriores para obter um empréstimo do banco e chegou a pedir US$ 100 milhões.
Enquanto os funcionários estão dispostos a reduzir salários e postos de trabalho, os outros grupos interessados no empréstimo estão interessados na remuneração que a operação oferece: uma das propostas apresentadas foi a de um banco especializado em crédito imobiliário, o BRJ, do Rio.
A instituição não está interessada em participar do leilão da Varig, mas apenas em estruturar o empréstimo-ponte para a companhia, através de um fundo. Segundo Marcelo Bastos, consultor do banco, a idéia é criar um fundo de investimento em direito creditório, do qual o BNDES se tornaria o único cotista através do aporte de até R$ 350 milhões (limite máximo dado pelo banco para o empréstimo-ponte).
O aporte seria usado para capitalizar a Varig, através da compra de recebíveis de cartão de crédito da empresa (ou seja, os valores que a companhia tem direito a receber no futuro de passageiros que compraram bilhetes a prazo).
Quando chegar o leilão de venda das operações da Varig, que deve ocorrer em julho, o comprador devolveria o valor do aporte ao BNDES, zerando o fundo. Uma outra alternativa proposta ao banco, diz ele, é que se permita a colocação de cotas desse fundo no mercado para investidores interessados, dando continuidade à operação de compra dos recebíveis da companhia.
A terceira propostas apresentada, de acordo com o que a Folha apurou, também é de estruturação do empréstimo através de um fundo de investimento.
A Varig havia informado anteriormente que poderiam participar do empréstimo investidores que não quisessem comprar uma parcela da companhia. Eles teriam direito a uma remuneração de 200% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário, que acompanha a taxa básica de juros definida pelo Banco Central).
O objetivo do empréstimo-ponte é permitir que a Varig, cuja situação de caixa piora a cada dia, continue a voar até o dia do leilão de suas operações.

Surpresa
O aparecimento de três propostas oficiais no BNDES para participar de um empréstimo de até US$ 250 milhões, dos quais US$ 167 milhões poderiam ser financiados pela instituição, surpreendeu até mesmo os administradores da companhia aérea.
Pouco antes de ser comunicado da decisão, no fim da última quarta-feira, Marcelo Gomes, diretor da consultoria Alvarez & Marsal, reestruturadora da Varig, chegou a afirmar que nenhuma empresa havia se candidatado porque as condições impostas pelo BNDES eram similares às do mercado.
De acordo com o diretor, 14 empresas procuraram a Varig para participar do leilão e estavam dispostas a realizar o empréstimo com recursos próprios. Em razão do caixa apertado da Varig, o BNDES optou por exigir uma carta-fiança equivalente ao montante a ser financiado.


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