São Paulo, sábado, 19 de maio de 2007

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PAULO SAFADY SIMÃO

Os benefícios do real forte

O câmbio valorizado decorre de conjuntura econômica saudável, que melhora a cada dia os seus fundamentos

MUITO SE tem criticado a valorização real. Ora se fala da ameaça à industrialização, ora dos empregos que o Brasil ajuda a gerar no exterior, em detrimento da competitividade de algumas empresas exportadoras brasileiras, e, por vezes, do perigo de vermos o país inundado de produtos supérfluos vindos do estrangeiro.
A nosso ver, os benefícios criados pelo real forte são evidentes. Vale a pena reflexão mais profunda sobre o assunto para entender as razões.
Em primeiro lugar, a política cambial brasileira tem desempenhado papel fundamental no processo de estabilidade econômica representado pelo Plano Real. O câmbio valorizado é decorrência de uma conjuntura econômica saudável, que melhora a cada dia seus fundamentos -pois, quando o país está bem, passa a atrair recursos e sua moeda tende a se valorizar. Diante dessa realidade, não há mais espaço para pensar em câmbio prefixado. O Brasil já apresenta um quadro sólido de estabilidade econômica, reservas cambiais elevadas e boa presença no cenário financeiro internacional, o que lhe dá credibilidade e boas perspectivas futuras. Devemos, portanto, buscar as oportunidades decorrentes desse cenário favorável.
Existe, é claro, a necessidade de buscar soluções que amenizem os problemas causados pela valorização do real. O que nos parece mais importante, no momento, é trabalhar em outras frentes para aumentar a competitividade de nossos produtos. Devemos considerar que esse problema não pode ser atribuído apenas ao câmbio, mas também à carga tributária abusiva, às altas taxas de juros, ao elevado custo de contratação do trabalho formal, ao absurdo nível de burocracia presente no nosso dia-a-dia e às limitações do setor de infra-estrutura.
Essa é uma ótima oportunidade, também, para incrementar as importações "virtuosas", ou seja, as importações de fatores de produção, bens de capital e tecnologia, visando a modernização dos parques industriais -que se encontram aquém do exigido por um processo de crescimento acelerado e sustentado.
Temos ainda que encontrar uma forma de elevar a renda doméstica e melhorar a distribuição das riquezas nacionais. Nesse sentido, parece-nos fundamental discutir e aprovar as chamadas reformas estruturais, ou seja, as reformas política, tributária, trabalhista, sindical e da Previdência, dando ênfase à redução dos gastos públicos, a fim de que uma eventual desvalorização do câmbio não seja absorvida pela máquina estatal em prejuízo do setor produtivo.
O fato é que, apesar das últimas mudanças anunciadas pelo governo, a base da política econômica continua a mesma há mais de 13 anos. Assim, podemos concluir que as correntes políticas dominantes concordam com as opções econômicas do governo, gerando um ambiente de negócios favorável (com maior segurança e menor risco) que torna praticamente irreversíveis os avanços obtidos no curto prazo.
Os novos termos de troca permitiram o retorno do foco para a economia doméstica, elevando a rentabilidade de setores mais voltados para "dentro", que passam a figurar como indispensáveis no novo paradigma.
Por exemplo, o setor da construção e do mercado imobiliário, que temos a honra de representar nacionalmente, que reassume sua importância na economia após as perdas representadas pelos planos econômicos das décadas de 80 e 90. Assistimos hoje, como resultado da estabilidade conquistada, ao crescimento do crédito e ao retorno da confiança de investidores e consumidores. Assistimos, enfim, a um momento extremamente propício aos investimentos produtivos, que geram salário e renda para a maioria dos brasileiros.


PAULO SAFADY SIMÃO é presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) e integrante do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.


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