São Paulo, segunda-feira, 19 de maio de 2008

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Lucro de empresas avança, mas inflação já é ameaça

Balanços de 200 companhias mostram que ganhos subiram 4% no 1º trimestre

Entre janeiro e março, lucros cresceram bem abaixo da receita líquida; no comércio, resultado caiu 10%, apesar de ingressos 17% maiores

Danilo Verpa - 10.out.07/Folha Imagem
Operário em obra na Mooca, em SP; com aumento de 193% no lucro, construção foi o setor de maior destaque no 1º trimestre


FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar da elevação dos juros, o primeiro trimestre deste ano trouxe aumento real (acima da inflação) de 10% na receita líquida e de 4% no lucro das 200 maiores empresas com ações negociadas na Bovespa. Mas a inflação já ameaça.
No primeiro trimestre, a construção foi o grande destaque: a receita aumentou 68%, e o lucro, 193%. Os setores de minerais não-metálicos, automóveis, telecomunicações e petróleo e gás também ficaram entre os mais lucrativos, segundo levantamento da Economática.
Os balanços revelam ainda que essas 200 empresas estão muito saudáveis: o lucro de um único trimestre equivale a 10% do seu endividamento total.
Isso significa que, mantido o ritmo, as empresas podem gerar em pouco mais de dois anos receitas suficientes para honrar todas as suas dívidas.
Alguns analistas acreditam, porém, que o período de janeiro a março tenha marcado um pico e que os resultados tendam a ser mais modestos ao longo do resto do ano.
Os balanços desse grupo de 200 empresas (que exclui Petrobras, Eletrobrás e Vale para não distorcer a amostra) já revelam que alguns setores começam a perder margens de lucratividade.
Uma das explicações seria o agravamento do processo inflacionário. Para não repassar novos custos aos preços e manter o volume de vendas, as empresas estariam encolhendo suas margens de lucro.
No comércio, por exemplo, embora a receita líquida tenha crescido 17%, o lucro das empresas analisadas caiu 10% na comparação com o primeiro trimestre de 2007.
No geral, a margem operacional (indicador de potencial de lucros) desse conjunto de 200 empresas também teve variação negativa, de 1,3 ponto percentual no período.
Para o empresário Roberto Teixeira da Costa, membro dos conselhos de administração de SulAmérica, BNDESPar e Itaú, "já há dúvidas" sobre a manutenção do desempenho da economia dos últimos meses para o restante do ano.
"A variável nova são os juros em alta e a inflação. Já não é mais o céu de brigadeiro de alguns meses atrás", diz Costa. Ele acredita também que o mercado de capitais e de emissões de títulos de empresas estará "bem mais seletivo" em 2008 do que foi em 2006/2007.
"Teremos um ano bom, com um ambiente de confiança puxando investimentos, mas em processo de acomodação daqui em diante", prevê o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro Neto.
Fernando Excel, presidente da Economática, diz que uma das explicações para a queda na lucratividade das empresas no primeiro trimestre tem a ver também com uma desvalorização menos acentuada do dólar no período (-1,25%) ante o ocorrido no mesmo período em 2007 (-4,10%).
"As empresas têm dívidas em dólar. Sempre que a moeda cai, os lucros são turbinados. Nesse último trimestre, o impacto da queda foi menor", afirma.

Setores
Entre os setores que mais lucraram nos três primeiros meses do ano, a construção civil foi líder, seguida de perto pela área de produção de minerais não-metálicos, relacionada às commodities.
"O mundo continua surfando na onda dos preços das commodities, e o Brasil vai se aproveitando disso", afirma Excel.
Já na construção civil, a expectativa é bastante positiva para o resto de 2008.
"Os resultados têm vindo muito fortes e as decisões de investimento já foram tomadas. Não esperamos nenhuma redução de atividade", afirma Ana Maria Castelo, economista da FGV Projetos que assessora o Sinduscon-SP.
A expectativa é que o setor cresça 10% neste ano, agregando mais 200 mil empregos a um total atual de 1,95 milhão de empregos formais.


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