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Diretor do Ipea critica juro e câmbio e cobra Estado na economia
Para João Sicsú, políticas monetária e cambial não combinam com estratégia de desenvolvimento de longo prazo e combate à inflação não deve se limitar ao BC
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
As políticas monetária e
cambial atuais estão dissociadas, ao menos de forma explícita, de uma estratégia de desenvolvimento do país no longo
prazo. Essa é uma das principais conclusões de um estudo
elaborado pelo diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), João Sicsú, e
que será divulgado nos próximos dias.
Na avaliação do economista,
a receita de desenvolvimento
para o país deveria ser baseada
em juros baixos, maior presença do Estado e controle do capital especulativo (tanto por
meio de juros mais baixos, que
inibem a sua entrada, como por
meio do estabelecimento de
impostos).
Segundo Sicsú, o estudo é a
primeira contribuição para o
desafio da atual diretoria do
instituto de pensar uma estratégia de desenvolvimento para
o país.
O artigo "Planejamento estratégico do desenvolvimento e
as políticas macroeconômicas"
sugere a adoção de uma política
cambial que favoreça o investimento e a industrialização, o
que, na visão de Sicsú, requer
uma taxa de câmbio competitiva para a produção e a exportação de bens manufaturados.
A taxa nesse patamar permitiria a realização de superávits
comerciais maiores e serviria
também como uma espécie de
proteção contra crises cambiais de desvalorização rápida.
A taxa de câmbio deve se manter flutuante, mas o Banco Central deveria efetuar compras e
vendas de reservas de forma a
manter a taxa em patamar
competitivo e reduzir a volatilidade cambial.
O economista defende ainda
mecanismos de desestímulo à
entrada de capital especulativo.
"Capitais financeiros que têm o
mero objetivo de sua capitalização, sem que esse processo
traga benefícios à produção ou
ao investimento, não são bem-vindos. (...) O movimento dos
capitais financeiros que buscam apenas a sua capitalização
via movimentos especulativos
e de arbitragem deve ser desestimulado."
De acordo com as propostas
contidas no estudo, o juro deveria ser fixado em patamar muito baixo, similar ao dos EUA. Se
ele não for capaz de limitar movimentos especulativos de capital, Sicsú afirma que poderiam ser adotadas medidas adicionais, como a cobrança de
impostos sobre a movimentação financeira internacional.
Banco Central
Em relação ao debate sobre o
controle da inflação, Sicsú argumenta que a estabilidade de
preços deveria ser um objetivo
de todos os órgãos públicos e
seu controle não deveria ser limitado ao Banco Central.
"Deixar somente o Banco
Central responsável por tratar
da estabilidade de preços é o
mesmo que solicitar a um médico clínico-geral para solucionar ora um problema do coração, ora um problema de pele,
ora um problema de estômago", disse. Nesse caso, por
exemplo, se a inflação fosse
causada por questões de safra,
caberia ao Ministério da Agricultura apontar soluções.
Sobre a política fiscal, Sicsú
afirma que os gastos do governo deveriam priorizar os que
geram emprego. "Por exemplo,
reduzir o gasto público com o
pagamento de serviço da dívida
que não gera empregos e gastar
mais em construção de infra-estrutura pública."
Segundo ele, a administração
fiscal deve ser capaz de estabelecer um sistema tributário
progressivo e com carga compatível com a necessidade de financiamento do Estado.
O estudo conclui ainda que
qualquer projeto de desenvolvimento para o país precisa
contar com a participação da
sociedade. "Deve se tornar um
sonho da grande maioria da população", disse.
Ele afirma ser necessária a
criação de símbolos para mobilizar a população e menciona
movimentos como "O Petróleo
é Nosso", as "Diretas Já" e os
"Caras-Pintadas". Dessa forma,
a estratégia de desenvolvimento não estaria vinculada a um líder, mas sim a um conjunto de
idéias.
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