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Fazenda e BC divergem sobre inflação
Sem considerar alimentos, Mantega calcula alta acumulada de 3% no IPCA em 12 meses; Meirelles prefere projetar índice de 6%
Fazenda diz que pressão
vem de choque de oferta no
exterior, e não de consumo
forte no país, e defende
aperto monetário mais suave
SHEILA D'AMORIM
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na queda-de-braço travada
entre o ministro Guido Mantega (Fazenda) e o presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles, por causa da trajetória de
inflação, até mesmo a regra matemática de que dois mais dois
são quatro é colocada sob dúvida. A partir do mesmo índice de
preços, o IPCA, Meirelles e
Mantega retiram o impacto da
alta dos alimentos e vêem uma
inflação completamente diferente. Com isso, traçam cenários opostos.
Nos cálculos de Mantega, retirando a alta do "feijãozinho"
-que nesse caso representa o
grupo alimentação e bebidas-,
chega-se a uma inflação de
3,03% nos últimos 12 meses. Isso tem dado suporte à argumentação do ministro de que a
pressão atual vem de um choque de oferta, puxado pelo
comportamento dos preços no
exterior, e não de um consumo
excessivo no país.
Meirelles, do seu lado, gosta
de tratar os números de outra
forma. Por exemplo, exclui alimentos e preços administrados
do IPCA e chega a uma inflação
acumulada nos últimos 12 meses de 4,67%.
O presidente do BC prefere,
porém, projetar a inflação no
futuro, o que daria o dobro do
previsto por Mantega, excluindo alimentos e preços administrados como energia e telefonia: 6,10% anualizados.
O número dá fôlego à defesa
dele da atuação do Copom (Comitê de Política Monetária),
que, em abril, iniciou um ciclo
de alta das taxas de juros de tamanho e duração indefinidos, o
que tem gerado apreensões e
instabilidade no mercado financeiro.
A matemática do ministro da
Fazenda considera o IPCA acumulado no período de 12 meses
terminado em abril, abate a alta
de 12,62% apenas dos alimentos e bebidas considerando o
peso que esses itens têm no índice e chega aos 3,03%.
A do Banco Central contém
vários cálculos. No acumulado
de 12 meses, por exemplo, prefere excluir não só alimentos
como preços administrados.
No anualizado, a regra é também excluir esses itens do IPCA acumulado nos quatro primeiros meses deste ano e projetar o resultado no ano: chega
aos 6,10%.
Se retirar desse mesmo período as 20% maiores altas e
baixas e ainda diluir itens que
têm um reajuste sempre naquele período, como educação,
a inflação de Meirelles ainda
chega a 4,62% anualizados.
Mantega e os técnicos da Fazenda argumentam ainda que
itens como carne, leite e derivados, cereais, leguminosas e
oleaginosas (em que estão classificados o feijão e o arroz) respondem pelo aumento de 1,32
ponto percentual na inflação
total do período, que acumulou
5,04%.
Pão francês
Também destacam a alta de
23,1% do pão francês, que tem
um peso de cerca de 1% no IPCA e contribuiu com 0,23 ponto percentual do índice, e a disparada do feijão-preto, que subiu 125%. Com isso, a Fazenda
sustenta a tese de que o Brasil
sofre o efeito de um choque de
commodities agrícolas que se
somou aos produtos energéticos (como petróleo) e minerais
(cobre e ferro).
Mantega reconhece a necessidade de combater os efeitos
secundários que essas elevações podem ter na economia. É
o que pode fazer, por exemplo,
com que a alta do aço, das tintas
e dos plásticos impulsione uma
onda de reajustes no setor automotivo, que já opera no limite da capacidade de produção.
No entanto, Mantega e sua
equipe negam que isso já esteja
ocorrendo, citam a inflação do
setor de automóveis, que está
em 2,29% nos últimos 12 meses, e defendem um aperto monetário mais brando.
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