São Paulo, terça, 19 de maio de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ECONOMIA MUNDIAL
Inflação e desemprego baixos são razões para evitar aumento
Especialistas prevêem que Fed não deverá elevar juros

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington

A maioria dos analistas e investidores acha que o banco central norte-americano (o Federal Reserve, ou Fed, presidente por Alan Greenspan) vai manter as taxas de juros inalteradas hoje.
Mesmo assim, ninguém é capaz de apostar em qualquer possibilidade. O nervosismo em relação ao encontro de hoje foi um dos motivos para as quedas registradas nas Bolsas de Valores.
A economia do país nesta década continua a desafiar todos os manuais teóricos. Apesar de o desemprego estar em seu nível mais baixo em 28 anos (4,3%) e a atividade econômica se manter em contínua expansão há sete anos, a inflação continua em baixa.
Por isso, não há argumentos para aumentar as taxas de juros. No entanto, os arautos do combate à inflação prosseguem na denúncia de indícios de inflação próxima.
Os mais recentes: aumento de 0,2% em abril dos preços no atacado (primeira subida em seis meses) e elevação de 0,2% em abril nos preços ao consumidor (maior crescimento em cinco meses).
Já aconteceram, no entanto, casos semelhantes nos últimos dois anos e, apesar dos avisos de que a inflação iria disparar, isso não aconteceu, por razões diversas.
Pode ser que o fenômeno se repita agora. Uma das possíveis causas é a crise econômica na Ásia. Embora os problemas asiáticos provoquem estragos econômicos nos EUA, eles podem ter efeito positivo na área do ritmo da inflação.
Primeiro, porque eles podem desaquecer a atividade econômica; segundo, porque os exportadores asiáticos vão baixar seus preços para poderem vender mais para os EUA e, em consequência, forçar seus concorrentes norte-americanos a não elevar preços.
Outra causa possível de contenção inflacionária é a continuidade do aumento da produtividade nos EUA, uma das explicações para o extraordinário desempenho econômico do país nos últimos anos.
A produtividade em 1997 cresceu 1,7%, quase o dobro da média anual do quarto de década anterior. Isso significa que as empresas, por serem capazes de cortar custos, têm podido aumentar salários sem elevar os preços.
Alguns observadores acham que o aumento da produtividade é fenômeno passageiro e citam recentes aumentos dos preços do petróleo como sinal de que isso vai acabar logo. Mas, de novo, eles vêm sendo desmentidos pelos fatos.
Os diretores do Fed estão divididos sobre como agir. Não tanto hoje, quando -tudo indica- vão deixar as coisas como estão, mas no futuro. Os especialistas vão ler com todo o cuidado as atas da mais recente reunião do grupo, em março, que serão divulgadas amanhã. Com elas, vão tentar antecipar como a entidade vai se comportar até dezembro com relação às taxas de juros.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.