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LUÍS NASSIF
A falácia dos "juristas"
Um dos grandes avanços do
pensamento moderno é a visão
multidisciplinar (holística), a
integração de vários conhecimentos para um melhor diagnóstico do problema.
Não se trata mais de uma
tendência restrita à física (onde começou) ou à medicina
(onde tem obtido avanços importantes). Os modernos métodos gerenciais incorporam essa
visão, impedindo que uma empresa seja conduzida apenas
segundo a ótica do financeiro,
ou da produção.
Sistema que mais influencia
a vida dos brasileiros, a política econômica continua sendo
conduzida pela ótica dos especialistas, sem a presença de um
maestro que possa compatibilizar as várias visões e estabelecer os objetivos a serem alcançados.
Prova disso é a dependência
da política econômica de dois
tipos de especialistas: o "jurista' (defensor da política monetária como centro de toda política econômica) e do "fiscalista' (que considera a arrecadação fiscal como objetivo maior
de toda política tributária).
Por influir em todos os aspectos da vida nacional, a política
monetária deveria ser analisada de uma ótica interdisciplinar, com vários especialistas de
diversas áreas analisando suas
consequências sobre a economia como um todo.
Duas visões
É significativa desse estilo especialista a entrevista do diretor do Banco Central, Francisco Lopes -principal guardião
da política monetária-, à repórter Suely Caldas, no "O Estado de S.Paulo" deste domingo. Lopes é um intelectual honesto, um homem público de
respeito, que não foge das discussões.
Ele ressalva que os efeitos dos
juros altos não são tão perniciosos assim porque estão fora
do torniquete:
a) as empresas com acesso a
financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES);
b) as empresas com acesso a
capital externo; e
c) as empresas com folga de
caixa (que podem aplicar suas
sobras).
Nos três casos, grandes empresas ou altamente capitalizadas.
Depois, minimiza os efeitos
sobre o emprego. Juros altos
reduzem a atividade econômica, mas o desemprego é fruto
da reestruturação da economia.
Um dos elementos centrais
na competitividade é o crédito.
Se a política monetária beneficia amplamente a grande empresa (intensiva em capital)
em detrimento da pequena
(intensiva em emprego) como
pretender que ela seja neutra
em relação ao nível de emprego?
Dívida e privatização
A segunda jóia produzida
por Francisco Lopes é em relação à dívida interna. Se os juros afetam a dívida e o déficit
público, e ambos afetam a credibilidade do país, os juros altos não seriam contraproducentes?
Lopes foge à pergunta com os
seguintes argumentos:
1) A dívida interna diminuiu
muito de 1990 para cá, graças
à privatização;
2) A dívida interna brasileira
é pequena, como proporção do
PIB, em relação à de outros
países.
Ora, de 1990 para cá o que
levou à redução da dívida interna foi o confisco de cruzados e o IOF geral aplicados pelo plano Collor.
De 1994 para cá ocorreu um
aumento exponencial da dívida em função da política de
juros adotada. Toda a privatização não será capaz de cobrir
metade do aumento da dívida
interna de 1995 para cá.
Uma coisa é uma dívida rolada a 5% ao ano; outra, uma
dívida rolada a 20% a 30% ao
ano. Na análise da dívida importam a tendência de crescimento da dívida (crescente), e
o custo de rolagem da dívida
(absurdo).
Finalmente faltou explicar
que o maior componente dos
juros altos é a necessidade de o
país produzir uma desvalorização cambial gradativa de
7% a 8% ao ano.
Telebrás e tecnologia
O diretor-superintendente da
Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações), Renato
Guerreiro, esclarece que a imprensa em geral -e esta coluna, em particular- interpretou de maneira incorreta a recente decisão de eliminar a
obrigatoriedade da aquisição
de 10% de equipamentos nacionais por parte das empresas
privatizadas.
Pela redação anterior, mantidas as mesmas condições de
preço CIF (em território nacional) e de qualidade, a empresa
deveria adquirir 10% de equipamento nacional. Em vez de
piso, esse percentual funcionava como teto.
Com a nova redação, em
igualdade de condições passa a
ser obrigatória a compra de
equipamentos nacionais em
qualquer percentual.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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