São Paulo, terça, 19 de maio de 1998

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COMÉRCIO MUNDIAL
Informação é do Itamaraty, adiantando o tom da fala do presidente hoje, na OMC, em Genebra
FHC fará dura crítica a barreiras agrícolas

CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Genebra

O presidente Fernando Henrique Cardoso fará hoje uma "forte crítica" às barreiras que o mundo desenvolvido adota para bloquear importações de produtos agrícolas.
É essa, pelo menos, a descrição que o Itamaraty faz do pronunciamento presidencial, marcado para 15h (10h em Brasília), no âmbito das comemorações pelo 50º aniversário do sistema internacional de comércio, hoje simbolizado pela OMC (Organização Mundial do Comércio).
Explica-se a ênfase do presidente brasileiro na agricultura: produtos agrícolas e alimentares representaram, no ano passado, 32% das exportações brasileiras (US$ 16,7 bilhões em um total de US$ 53 bilhões).
Há um estudo, da economista Lia Valls (Fundação Getúlio Vargas), que imagina uma situação utópica: a queda de todas as barreiras na área agrícola. Nesse caso, o Brasil poderia exportar 50% a mais (US$ 8 bilhões, portanto).
Mas a balança comercial não é a única razão da prioridade brasileira para derrubar as travas na área agrícola.
"O investimento para gerar empregos é menor na agricultura do que em outros setores da economia", diz Celso Lafer, embaixador brasileiro em Genebra.

Divisões
A ênfase do presidente na questão agrícola tem também uma explicação de cunho diplomático: o Itamaraty detectou divisões entre os países ricos a respeito do assunto.
Antes, Estados Unidos, União Européia e Japão evitavam o tema. São países de agricultura fortemente subsidiada (calcula-se que as diferentes formas de subsídios representem algo em torno de US$ 585 bilhões/ano, dez vezes, portanto, o valor das exportações totais brasileiras).
Agora, no entanto, os EUA dão nítidos sinais de que apóiam avanços na discussão sobre agricultura, que, de todo modo, não ocorrerá agora, mas a partir do ano 2000, conforme o calendário da OMC.

Listas já
O que o Brasil quer é limpar, desde já, a agenda agrícola das demoradas negociações sobre procedimentos, para ir direto à substância em 2000.
"Queremos iniciar já a elaboração das listas de produtos a serem alcançados pela liberalização", ouviu a Folha junto à delegação brasileira.
Os europeus, ao contrário, preferem deixar para o ano 2000 a preparação da lista, um quesito que toma no mínimo seis meses.

Agendas diferentes
De todo modo, a ênfase brasileira em agricultura é reveladora do descompasso entre a sua agenda e a dos países ricos.
O Brasil continua sendo, essencialmente, um exportador de bens antigos e de pouco valor agregado. O mundo rico, ao contrário, quer avançar nos chamados temas novos do comércio internacional (ver outro texto).
De todo modo, o Brasil fez parte de dois acordos, fechados em 97, sobre temas novos: serviços financeiros e telecomunicações.
O primeiro, assinado por 70 países, cobre o setor de bancos, seguros, ações e informação financeira. Entra em vigor em março de 99. O de telecomunicações envolve negócios avaliados em US$ 600 bilhões/ano e vigora desde 5 de fevereiro.
São, de todo modo, acordos em que o benefício para o Brasil é unilateral: ganha investimentos estrangeiros tanto na área bancária quanto na de telecomunicações, o que, por sua vez, reduz o chamado "custo Brasil".
Mas não tem competitividade suficiente para exportar serviços em qualquer das duas áreas, o que ajudaria no crucial problema das contas externas.
"A abertura que fizemos abre oportunidades interessantes, que pretendemos utilizar cada vez mais à medida que nossa economia for adquirindo competitividade", conforma-se José Alfredo Graça Lima, principal negociador brasileiro.



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