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COMÉRCIO MUNDIAL
Informação é do Itamaraty, adiantando o tom da fala do presidente hoje, na OMC, em Genebra
FHC fará dura crítica a barreiras agrícolas
CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Genebra
O presidente Fernando Henrique Cardoso fará hoje uma "forte
crítica" às barreiras que o mundo
desenvolvido adota para bloquear
importações de produtos agrícolas.
É essa, pelo menos, a descrição
que o Itamaraty faz do pronunciamento presidencial, marcado para
15h (10h em Brasília), no âmbito
das comemorações pelo 50º aniversário do sistema internacional
de comércio, hoje simbolizado pela OMC (Organização Mundial do
Comércio).
Explica-se a ênfase do presidente
brasileiro na agricultura: produtos
agrícolas e alimentares representaram, no ano passado, 32% das
exportações brasileiras (US$ 16,7
bilhões em um total de US$ 53 bilhões).
Há um estudo, da economista
Lia Valls (Fundação Getúlio Vargas), que imagina uma situação
utópica: a queda de todas as barreiras na área agrícola. Nesse caso,
o Brasil poderia exportar 50% a
mais (US$ 8 bilhões, portanto).
Mas a balança comercial não é a
única razão da prioridade brasileira para derrubar as travas na área
agrícola.
"O investimento para gerar empregos é menor na agricultura do
que em outros setores da economia", diz Celso Lafer, embaixador
brasileiro em Genebra.
Divisões
A ênfase do presidente na questão agrícola tem também uma explicação de cunho diplomático: o
Itamaraty detectou divisões entre
os países ricos a respeito do assunto.
Antes, Estados Unidos, União
Européia e Japão evitavam o tema.
São países de agricultura fortemente subsidiada (calcula-se que
as diferentes formas de subsídios
representem algo em torno de US$
585 bilhões/ano, dez vezes, portanto, o valor das exportações totais brasileiras).
Agora, no entanto, os EUA dão
nítidos sinais de que apóiam avanços na discussão sobre agricultura, que, de todo modo, não ocorrerá agora, mas a partir do ano
2000, conforme o calendário da
OMC.
Listas já
O que o Brasil quer é limpar,
desde já, a agenda agrícola das demoradas negociações sobre procedimentos, para ir direto à substância em 2000.
"Queremos iniciar já a elaboração das listas de produtos a serem
alcançados pela liberalização",
ouviu a Folha junto à delegação
brasileira.
Os europeus, ao contrário, preferem deixar para o ano 2000 a
preparação da lista, um quesito
que toma no mínimo seis meses.
Agendas diferentes
De todo modo, a ênfase brasileira em agricultura é reveladora do
descompasso entre a sua agenda e
a dos países ricos.
O Brasil continua sendo, essencialmente, um exportador de bens
antigos e de pouco valor agregado.
O mundo rico, ao contrário, quer
avançar nos chamados temas novos do comércio internacional
(ver outro texto).
De todo modo, o Brasil fez parte
de dois acordos, fechados em 97,
sobre temas novos: serviços financeiros e telecomunicações.
O primeiro, assinado por 70 países, cobre o setor de bancos, seguros, ações e informação financeira. Entra em vigor em março de
99. O de telecomunicações envolve negócios avaliados em US$ 600
bilhões/ano e vigora desde 5 de fevereiro.
São, de todo modo, acordos em
que o benefício para o Brasil é unilateral: ganha investimentos estrangeiros tanto na área bancária
quanto na de telecomunicações, o
que, por sua vez, reduz o chamado
"custo Brasil".
Mas não tem competitividade
suficiente para exportar serviços
em qualquer das duas áreas, o que
ajudaria no crucial problema das
contas externas.
"A abertura que fizemos abre
oportunidades interessantes, que
pretendemos utilizar cada vez
mais à medida que nossa economia for adquirindo competitividade", conforma-se José Alfredo
Graça Lima, principal negociador
brasileiro.
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